0.5 - Prólogo

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Eu briguei com minha melhor amiga.

E quanto mais penso sobre, chego a conclusão de que Ayla estava certa quando me disse que estava sendo egoísta. Mas qual é, ela era minha melhor amiga, era óbvio que eu iria me preocupar com ela. Nada no mundo era mais importante para mim do que vê-la sorrindo.

O céu de Fortaleza se tornou incrivelmente mais cinza sem a presença da minha companheira de sempre. Acredito que depois de termos brigado, optei por esquecer grande parte do que dissemos uma a outra, porque hoje, já não me lembro bem como fui parar em casa, desolada e sentindo que tinha feito a pior escolha da minha vida ao tratar alguém que amava tanto daquela forma. Foi uma briga tão besta e com consequências tão exageradas...

Mamãe dizia baixinho no meu ouvido que nós nos acertaríamos e que no fim tudo ficaria bem, repetia sem parar que eu não podia me culpar de tal forma por ser humana e errar assim como qualquer outro. Mas parecia tão injusto com Ayla que eu tivesse errado de forma tão ridícula.

Nada mais passava na minha cabeça além do fato de achar que tinha estragado tudo, eu não podia ter terminado uma amizade de anos com apenas algumas palavras idiotas e uma discussão mais séria que qualquer outra que a gente já tenha tido, mas o medo era maior do que qualquer outro sentimento que pudesse habitar meu peito. Como poderia eu ser Valentina sem Ayla ao meu lado?

O sentimento de solidão sufocava meu peito e fazia com que o ar parecesse rarefeito demais para que o alívio de sentir o ar em meus pulmões fosse uma realidade. Meus pensamentos apertavam meu peito e a saudade eminente de algo que sentia que tinha perdido naquela tarde se tornou tontura no meu corpo.

Quando acordei no dia seguinte senti que poderia escrever uma redação completa sobre motivos que me fariam desistir da escola, porque naquele momento, eu realmente queria deixar tudo aquilo para trás nem que fosse por um dia.

A ideia de encarar o mundo sem Ay fazia meu corpo doer e desejar por permanecer na cama até o fim do dia. Naquele momento, nada parecia mais confortável do que o quentinho do meu cobertor.

Mas antes que pudesse fazer alguma alusão ao fato de parecer que o céu sabia exatamente como eu me sentia, e compartilhava do mesmo sentimento ao estar com a aparência mais cinza que o normal, as cortinas do meu quarto foram abertas, e o Sol em si, parecia muito mais animado do que eu.

Traíra, nem ao menos um pouquinho mais nublado para colaborar com as metáforas melancólicas que eu era completamente capaz de fazer logo de manhã.

Ainda que contra a minha própria vontade, levanto da cama sentindo minha cabeça doer. Consequência provável da noite chorando, temendo que ainda hoje, tudo estivesse como ontem. E como nada em um estalo de dedos se torna um mundo mágico em que tudo é perfeito, meu peito doía da mesma forma que no dia anterior. Era pedir demais que hoje, só hoje, eu pudesse viver em um conto de fadas? 

As lembranças da briga, ainda que apenas em flashes, estavam presentes a todo vapor, trazendo de volta a dor de se dar conta de que disse algo que não deveria. O peso na consciência era o pior tipo de tortura pela qual o ser humano poderia passar: aquela que nós mesmos nos causamos.

Toda a velocidade em minha mente tão cedo da manhã me deixava cansada. Sentia meu peito arder, desejo por ar, por alívio, pelos braços da pessoa que eu mais amava em todo o mundo.

Ao pisar no colégio, como todos os dias antes daquele, decidi impulsivamente que o melhor, era sentar com algum outro colega. Era muito provável que Ayla tivesse contado aos nossos amigos o que aconteceu, e de forma alguma eu a culparia por isso, era direito dela. A parte ruim, é que agora provavelmente eles compartilhavam com ela a raiva de tudo o que causei ontem.

My version of us (romance sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora