Uma Vida Apagada

4 0 0
                                    


   Após a morte de minha esposa, eu fiz uma única coisa: apaguei minha vida.

   Eu garanto para você que não é a coisa mais acessível do mundo e muito menos a mais empolgante.

   Ela morreu de câncer na noite de um sábado, poucas horas de completar mais uma semana sobrevivendo ao tumor em seu peito. Meg havia prometido a si mesma aguentar mais um clico de sete dias. Isso é irônico e odeio isso, pois minha esposa era quem prometia e tinha certeza que iria cumprir, diferente de mim que sempre dependia do destino ou a mira do inimigo para voltar para casa.

   Antes mesmo de casados, sempre perguntei a Meg sobre a morte, afinal um soldado é perseguido por essa sombra mórbida. Eu tinha medo, não da morte, mas por ela estar prestes a se casar com alguém que em um dia poderia voltar em um caixão. Então, em um tom humorado, me respondia: "Não se preocupe, cuidarei para que seja um belo caixão e uma bela lapide" Por isso virou minha esposa.

   Acabou sendo ela a dona de um belo caixão e de uma bela lapide.

   Eu me odiaria em me transformar no homem que visita a mulher no cemitério, remoendo pelo sentimento de saudades. Sem ao menos um filho a cuidar, família e alguém a se chamar verdadeiramente de amigos, apenas a guerra e eu. Nunca lutei pelo país, mas sim por Meg, que vivia nele, e sem ela, não a motivo de levantar uma arma. Me julguem se quiser, mas chegar em casa sozinho e ver apenas seus pertences é uma visão com sentimentos piores que a destruição de conflitos testemunhados pelos mesmos olhos.

   Imagino que ao percorrer dos anos tortuosos me tocaria para finalmente perceber teria e poderia seguir sem ela. No entanto, eu queria ela do meu lado, na casa e nos lugares que costumávamos ir, não a saudade como uma pontada triste em meio peito pior que um tiro de uma arma. Algo que pensei que nunca ergueria mais, antes de receber um convite de um colega do pentágono numa conversa sobre um jogo de futebol do filho dele.

— Você não precisará mais voltar para uma casa vazia ou uma guerra sem razão, Jason — falou ele, estendendo um envelope negro antes de seu último gole de café — Mas decida-se sabiamente se quer e depois me conte a sua resposta.

   Ele se retirou sem dizer mais nada, mesmo com minhas interrogações, como se deixasse ao destino contar o enigma deixado. Eu fiquei fitando o envelope sozinho ao lado de minha xicara de café por algum momento, pensando sobre aquilo. A gente sempre brincou sobre conspiração por ele trabalhar entre os cabeças do país e seus interesses ocultos, mas eram apenas brincadeiras e agora era a primeira vez parecia sério. No fim, realmente era e entrei de cabeça.

   O envelope continha apenas duas coisas: um texto de única folha e um chiclete de menta. O primeiro era mais exatamente um convite formal e de poucas palavras de algo chamado União do Vazio, começando com minhas informações pessoais e terminando com "Queime-me". O assunto era peculiar e precisou de uma forte dispersão de crença de minha parte para acreditar. Um novo alistamento militar para soldados sem propósito, desta vez eterno e sem volta a serviço de um exército sem nome que não pertencia ao Estados Unidos, mas sim, nas palavras do papel, ao mundo. Já o chiclete não tinha importância, apenas estava ali e tratei de mascar.

   Eu reli aquelas palavras por várias vezes e cada vez ficavam mais estranhas. Elas não diziam nada direito. Poderia muito bem vir a ser uma brincadeira de meu colega para animar meus ânimos, mas o conhecia bem o suficiente para saber que ele não agiria assim e também por não gostar de chicletes. Olhei minha casa vazia como a vida sem ela. Não havia motivos do porque não entra nisso e vê no que dava.

   Eu encontrei então meu colega e nossa conversa parecia mais com um adeus por parte dele. No final, realmente era.

— Eu contei tudo que sei sobre isso, Jason. Vá para casa, descanse e espere o amanhã. Deixe uma mala do seu lado com o que precise e não me pergunte porque, pois não sei — falou ele com a mão em meu ombro — Lá você realmente tomará a decisão final sobre isso, mas nos dois sabemos qual será. Se cuide, cara.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Aug 28, 2021 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Guerra SecretaWhere stories live. Discover now