Capítulo 17

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                                  Capítulo 17

                                        Nate

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As amigas de Ane, que tenho quase certeza que se chamam Summer e Natasha retornam com três milkshakes e me entregam um de chocolate. Não que eu me recusaria em qualquer momento a comer um milkshake — ou qualquer outra coisa — só porque não curto seu sabor... Definitivamente; não. Então penso na cauda de chocolate que diferente do sorvete mole dentro do copo, tem um gosto mil vezes mais fiel ao do chocolate verdadeiro; sorriu, porque sempre há uma pontinha de felicidade em qualquer situação, não importe qual ela seja e é exatamente nesses micros detalhes que deveríamos nos agarrar. S em algum momento começa a me fazer perguntas nada discretas que diferente de Gibson, Chuck e Thomas que são acostumados à responderem esse tipo de pergunta; fico levemente perdido e envergonhado ao respondê-la. Tanto que acabo desviando meu olhar para o canudo do milkshake nas minhas mãos. Mesmo sem olhá-la diretamente, sinto que a cada pergunta que sua amiga me faz; Ane também quer saber a resposta e só por isso respondo S. Não que seja a forma mais "certa" de nos conhecermos — principalmente quando falamos de intimidade — mas é, de certa forma, um modo de me apresentar, aproximar e conectar com Ane. Mesmo que seja um modo nada convencional. E por mais que eu esteja conversando com Samanta nesse momento, a nossa conversa — minha e de Ane — de momentos antes, não para de se reprisar na minha cabeça e me fez ficar ainda mais instigado quando o assunto é seus pensamentos e ideologias... Droga, do que estou falando? A verdade é que estou completamente rendido e interessado à tudo que envolva Ane, seja sua confiança, seu dar de ombros, ou a forma como ela sempre levanta um pouco seu nariz antes de falar qualquer coisa, não importe do que estejamos falando, de como sempre quer estar certa, mesmo tendo uma visão completamente única e completamente errada do mundo. Ainda assim, quero isso, quero essa conexão para provar a ela que peças quebradas podem, no fim, serem reutilizadas e não jogadas fora... Que ter compaixão pelo próximo não te torna um perdedor ou "idiota". Pode parecer besteira, mas realmente quero fazê-la enxergar todo o universo incrível que existe quando você começa a pensar no outro e deixa de competir a cada segundo do seu dia.

Depois de devorarmos o milkshake, nos levantamos e Ane me devolve as sacolas que estava segurando antes. Não que eu esteja reclamando, apenas não entendi o porquê dela devolver as sacolas no segundo em que uma das suas amigas a questionou se ela iria mesmo carregar sacolas pelo shopping. Me pergunto mentalmente que mal isso tinha, mas antes que eu conseguisse chegar a uma resposta; as sacolas são devolvidas para meus braços — já lotados com outras alças — e observo as três se afastarem, andando uma ao lado da outra em uma linha reta, com direito à passos sincronizados e tudo. Acabo rindo brevemente ao prestar atenção nos passos idênticos que cada uma efetua e como as três pisam no piso do shopping no exato segundo que a outra pisa. Quando percebo que elas já estão há uma certa distância, checo se não deixei nenhuma sacola para trás e logo em seguida as sigo, deixando com que elas fiquem uma certa distância a frente — não para que eu tivesse visão "privilegiada" das suas bundas — apenas percebi que elas gostam de conversar entre si e nenhuma dessas conversam me envolvem. Então eu ficando para trás, não interromperei nenhuma conversa que elas possam querer iniciar ou não. Apenas estou as deixando a vontade. Por mais inacreditável que pareça — meus braços completamente lotados de sacolas são a prova disso — paramos em outra loja e agradeço mil vezes a segurança na entrada da loja que aceita "ficar de olho" nas sacolas, enquanto meus braços ficam livres o tempo que elas demorarem nessa loja. Após deixar as sacolas de lado, adentro de vez a loja e corro olhar dentre os itens a venda, a fim de descobrir o que as consumistas comprariam dessa vez. No entanto, no segundo em que percebo que estamos em uma loja de lingeries; acabo respirando fundo. Há uma certa diferença entre responder perguntas pessoais e presenciar elas. Estou prestes a me virar, a fim de pegar de volta as milhares de sacolas e esperá-las do lado de fora, quando a voz de S ecoa, pronunciando meu nome. A opção de fingir que não a escutei se vai tão rápido quanto me veio, porquê... Simplesmente, não posso ignora-la.

— Poderia me ajudar aqui? Sua opinião vale ouro — o sorriso sugestivo que surge no rosto de S conforme a mesma me mostra uma calcinha fio dental preta, me faz por um segundo paralisar.

Não que eu nunca tivesse visto alguma garota nua antes, ou uma calcinha fio dental. Mas, não era exatamente isso que eu tinha em mente quando me prontifiquei a vir no shopping com Ane. Não sei ao certo o que pensei que poderia acontecer, porque no fundo só queria mais tempo para ficar perto dela, mesmo que a maioria das vezes que estamos juntos, conversando; acabamos discordando de nossos ideais... Porém, por mais que eu odeie discussões e aquela coisa toda do "você está errado e eu certo"; preferiria passar horas e horas com Ane conversando sobre caridade, que na situação na qual estou, com sua amiga dando em cima de mim tão descaradamente.

— Vivemos da necessidade, se você se sente feliz com essa... Calcinha — limpo a garganta, desviando minha atenção para a ruiva, à poucos metros de Samanta, pedindo mentalmente que ela não entenda mal essa situação, porém Ane parece estar alheia a nossa conversa, enquanto analisa um conjunto de roupas íntimas — Então seja feliz com ela — solto o ar brevemente aliviado e retorno minha atenção para S, que agora exibe uma careta em seu rosto, como se eu estivesse falando em outra língua — É uma filosofia simples; se sente vontade de gritar? Grite — simplifico e retorno atenção para Ane, conseguindo capturar seus olhos verdes em mim, antes dela os abaixar para os tecidos em suas mãos novamente, como se não tivesse sido pega no flagra, esse micro detalhe é o detalhe feliz dessa situação e eu me agarro nele, abrindo um sorriso — Se quiser passar a se importar com algo? Se importe — mesmo que eu esteja falando com S e droga sei que isso é falta de educação; permaneço vidrado em Ane — Se quiser ser um ser humano com defeito? Seja — como se tudo a nossa volta estivesse em câmera lenta; os olhos esverdeados de Ane sobem sem pressa alguma até pararem nos meus e neles vejo a mesma confusão que vi antes, enquanto conversamos.

        É como se uma parte de Ane quisesse acreditar que podemos sim, ser alguém melhor todos os dias e a outra simplesmente só não liga... Mesmo sem conhecê-la de verdade, sei que mais por mínima que seja essa vontade; ela a tem. Ane tem vontade de ver como é doar roupas aos necessitados, tem vontade de ajudar quem precisa e quem não tem. No entanto, ainda assim há algo que a impede, que a influência achar que tudo isso é uma perda de tempo, eu só preciso descobrir o que.

— Que besteira — Samanta corta o breve silêncio que havia se instalado e Ane no mesmo segundo pisca algumas vezes e une as sobrancelhas, desviando sua atenção para as peças de roupas íntimas à sua frente novamente.

     Respiro fundo e retorno atenção para a amiga de Ane, que agora me encara como se o que acabei de dizer fosse mesmo besteira.

— É bonita — opto por fim acenar com a cabeça para a calcinha que S me mostrava.

      Sempre haverá pessoas como Samanta... Como Ane, no mundo, pessoas que não aceitam a variável, que sempre zelam pelo "repetido". Meus olhos se desviam para Ane novamente, mas agora a ruiva está de costas para mim. Só espero de coração conseguir fazer com que Ane perceba que ela pode ser mais que apenas alguém que só enxerga o reto, alguém que saiba que existe muito mais que apenas o topo.

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