Capítulo 80

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Capítulo 80

Ane

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Eufórica não chega nem perto do que me encontro após minha primeira aula de nutrição. A doce pressão de ter mais pessoas com tamanho conhecimento e vontade concorrendo para se destacarem na aula é o melhor ponto do dia, porquê isso é o que eu classificaria como uma competição "amigável", onde o que importa é você fazer de tudo para conseguir o diploma. Apesar de achar todos da minha sala meio caretas e patéticos; foi bom ter adversários a altura, principalmente quando a professora lançava perguntas e eu não era a única com as respostas na ponta da língua. No fim do dia; conforme estava guardando meus materiais, recebo um elogio referente a ser o meu primeiro dia e mesmo assim eu não ter errado uma resposta sequer. Esse detalhe é o suficiente para me fazer sorrir, porquê deixei de acreditar que deveríamos sorrir só quando comprarmos roupas, fechamos contratos com outras empresas, ou estamos em encontros familiares. Descobri — talvez um pouco tarde demais — que sentimentos nunca deveriam ser encobertos, sejam eles alegres ou não. De uma forma patética; já até consigo imaginar o sorriso se abrindo no rosto de Nate, quando contar a ele sobre o que a professora me disse, sobre como ela estava orgulhosa e sobre como eu a agradeci — coisa que ele sabe que não faço muito — pelos elogios recebidos.

Entro em meu quarto ainda sorrindo e deixo meus matérias sobre a escrivaninha. Retiro meus saltos nem tão altos hoje, os capturo e os guardando no espaço destinados aos mesmos no fundo do armário logo em seguida. Antes que eu pudesse de fato fechar as portas do móvel; meus olhos são atraídos para um par que se destaca entre os demais e não no sentido de que ele brilha com pedras caras ou é lindo ao ponto de ser impossível não admira-lo toda vez que abro o armário. Não, seu destaque está no simples fato de que ainda não mandei lavá-lo, de que ele ainda está coberto de lama seca... Outro sorriso substitui o breve em meu rosto e esse sorriso me faz esticar minha mão, tocando com a ponta dos dedos partes do salto totalmente sujo. É — como Nate diz; — tubular pensar que hoje consigo encarar um salto caro totalmente sujo e tudo que faço é sorrir. Há algum tempo atrás o detalhe de um salto meu estar com um grãozinho só de pó sobre ele; seria o motivo para que uma Ane ficasse mais que brava. Seria também o motivo para que uma Ane patética descontasse em pessoas aleatórias. Reviro os olhos para minha eu do passado e me levanto fechando as portas do móvel de vez, consciente de que por mais que poderia ficar o dia todo aqui observando o salto e relembrando do dia que o sujamos; tenho treino em alguns minutos.  Separo meus produtos de higiene antes de deixar o quarto e partir para o banheiro comunitário.

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Hoje voltamos com os treinos em conjunto com os jogadores e tento dizer a mim mesma que Nate não esqueceu desse detalhe, que ele apenas está só um tanto quanto muito atrasado. Respiro fundo pela quadragésima vez e olho — inutilmente — para a entrada do ginásio, na esperança de ver alguma mancha desforme que seja ele, mas os minutos passam e o meu namorado não aparece. Fiona em certo momento praticamente o xinga e isso me faz a pedir para não falar dele dessa forma. Gibson, que resolveu aparecer no treino de hoje; une as sobrancelhas adotando um semblante sério quando a treinadora os diz para começarem os treinos logo sem muita empatia no tom da sua voz. Me recordo brevemente de que os dois já se enfrentaram aqui mesmo no gramado e antes que uma segunda guerra entre eles comece; Gretta concorda com Fiona e me pergunta se está tudo bem eles começarem sem Nate e eu. Mesmo que meu corpo todo grite "NÃO" internamente — pelo simples fato de que por mais que no começo eu não gostasse dessa ideia de apresentações em conjunto; pelo menos no fim dessa coreografia, minha perna não parece que foi esmagada — forço um sorriso e concordo com a cabeça. Conforme os treinos começam a acontecer simultaneamente e eu fico sobrando; respiro fundo e acabo indo instruir as garotas da equipe na coreografia solo, repetindo várias vezes que Nate tem um ótimo motivo para não ter aparecido no treino de hoje sem sequer avisar, logo agora que o próximo jogo está tão próximo. No fim, consigo me distrair com as garotas, até o final do treino e enquanto todas estavam indo em direção ao vestuário; caminho com pressa, ignorando o protesto da minha perna, até os bancos reservas, pegando minha bolsa de esportes. Estarei mentindo se disser que não estou com raiva de Nate, na verdade o que mais quero nesse segundo é gritar com o próprio, entretanto é inevitável não sentir um pouquinho de medo pela ideia de ter acontecido algo com ele... Como um resfriado, ou uma lesão, afinal o treino dos caras aconteceu mais cedo hoje e Nate não é do tipo de pessoa que simplesmente não comparece a algo importante — quer dizer, importante para mim — sem antes avisar.

Talvez ApaixonadosWhere stories live. Discover now