Heart to the Ocean

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Magnus era capitão de um navio a anos e navegava a ainda mais tempo sob uma bandeira pirata. Erros de cálculo não eram algo comum, mas não eram impossíveis.

Um exemplo? Bem, aquele era um bom exemplo.

— Quem diabos transporta escravos em um navio mercante?! — Magnus exclamou, se escondendo atrás de um caixote para desviar da bala que um dos oficiais disparava. 

— Eu não sei! Vamos acabar logo com isso! Eu não vou morrer para esses filhotes de abutre! — Ragnor, seu imediato, gritou em resposta, saindo de trás do caixote oposto e Magnus o imitou, sacando sua arma e atirando em quem podia.

A questão era que… navios escravos não continham ouro, nem jóias, nem qualquer coisa valiosa e sim pessoas... escravos.

— Que merda. — Ele suspirou depois de, algum modo, chegar às celas onde os escravos eram mantidos. Pelo menos cinquenta, talvez dez enfiados em uma mesma cela como ovos em conserva. Condições ainda mais ruins do que seria se fosse verdadeiramente um navio escravo.

— Por favor… nos liberte… nos liberte! 

— Nos liberte! Nos tire daqui…!

— Acho que ela morreu..!

— Nos ajude…! Água, estou com sede...

— Esperem! Esperem! — Ele se apressou em dizer, enfiando a espada em um dos anéis da corrente e as rompendo, ele não conseguia entender tudo o que falavam, mas uma olhada rápida em todas as velas, podia-se ver que eram todas mulheres… as "escravas" eram apenas mulheres e Magnus estava vivo tempo o suficiente para saber qual teria sido o destino delas se não tivessem invadido o navio. — Ragnor! desça aqui! — Ele gritou, se ocupando em quebrar as correntes das outras celas. — Vocês conseguem me entender? — Perguntou, preocupado para algumas das mulheres, algumas balançaram as cabeças em concordância, outras pareciam com medo demais até mesmo para isso. — Pela lua… vamos, sentem-se no chão mesmo, respirem… Ragnor!

— Pelas barbas de Poseidon. — Ragnor resmungou quando finalmente chegou às celas, seus olhos esverdeados parecendo um pouco esbugalhados com a cena. — Estão todos bem?

— Alexander o afogaria se escutasse você falando isso. — Magnus tentou soar bem humorado, mas o que saiu foi um tom amargo enquanto quebrava a última corrente. — Verifique elas. Elas estão desidratadas, com fome, com medo e precisam de… oh Lua… — Antes que ele pudesse realmente enxergar o que estava acontecendo em sua frente, houve um choro de bebê… Não mais alto que um miado de gato. 

Havia um bebê… e havia o corpo imóvel de uma mulher abaixo dele, braços protetores o rodeando mas não o apertando. 

Ele mal lembrou de enfiar a espada no cinto antes de cair de joelhos e rastejar para dentro da cela. Mesmo que soubesse que não deveria ter esperanças, ele enfiou uma mão sob o nariz da mulher para verificar se havia alguma respiração… mas não encontrou nada. Em uma última tentativa ele tentou encontrar alguma pulsação em seu pescoço.

Não havia nada.

Então veio o miado fraco novamente e Magnus finalmente voltou sua atenção para o bebê protegido pelos braços rígidos da morte. Ele comprimiu os lábios enquanto tentava tirar o pequeno bebê do aperto, ele não queria usar a força, mas ele usou o necessário para não machucar o bebê sem desrespeitar sua falecida mãe.

— Isso aí é um bebê? — Ragnor perguntou em algum lugar atrás dele, parecendo incrédulo.

— Não, é um filhote de Kraken que soltaram dentro de uma cela cheia de mulheres. — Magnus sibilou. — Vamos… vamos… isso! Oh bebezinho. — Sussurrou um pouco cantarolante, trazendo o pequeno filhote para perto de seu rosto. Estava respirando, estava chorando… fraco, mas estava. Porra, aquilo era um bebê… um bebê! — Leve todas as mulheres para o Labirinto Espiral, procure qualquer coisa de valor nesse pedaço de madeira flutuante e queime depois! O navio, não o ouro!

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