sobre amar de longe, sobre amar de perto

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quando eu ainda era moça e possuía vontade de tentar amar, sempre me apaixonava pelo que eu inventava da pessoa. eu amava amar a ideia, e eu era muito boa nisso — diga-se de passagem.

todas as vezes em que parti meu coração — algumas vezes a dor era tanta que sentia necessidade de me operar — eu sempre ouvia minha voz interior dizendo:

— isso não é sobre amar de longe, é sobre amar de perto.

e eu nunca entendi.

acontece que nos últimos meses desde que eu ainda possuía a vontade e o desejo, eu caí em consenso com o que era amar de longe.

eu era uma maldita idealizadora platônica, me dei ao luxo durante anos de viver no mundo das ideias, sempre apaixonada pela ideia de amar mas nunca pela ideia do amor, nunca pelo real sensorial, maldito inteligível.

é que amar de longe é sempre simples, imaginar que a pessoa é tudo aquilo que a gente sempre sonhou, depositei expectativas demais na tentativa de tornar a ideia real. caí em dívida arbitrária com a própria decepção.

se posso dizer algo que não cause tanto rancor, diria que o amar de perto é como amar de longe, mas com os defeitos, manias e problemáticas, é um amor sucessível ao erro. quando descobri que para amar eu precisava amar de perto, desisti.

eu utilizaria facilmente essa explicação para meus filhos caso eu fosse uma mãe melhor do que a minha e quisesse fazê-los entender o amor, coisa que posso afirmar que não sou e não faria pois me vejo cometendo os mesmos erros. talvez até pior.

enquanto meu coração queria me dizer para não desistir do amor pois eu havia me esforçado para amar, eu o queria dizer que não deveria ser um esforço.

quem me dera se amar de longe fosse amar o real falho. acho que caí.

as luzes a cidade não tem um terço do seu brilhoWhere stories live. Discover now