19_ O Khoy me salvou.

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Emma Hills

... O Caden abriu um sorriso de canto se aproximando e eu arregalei os olhos.

- Não se atreva. - Ameacei me colocando na frente da porta.

- Ah, o que foi, gatinha? Você tem medo que eu faça muito barulho? - Ele provocou e eu fiquei com ainda mais ódio.

- Você precisa parar de querer arrombar as coisas. - Ordenei.

- Você tem um plano melhor do que quebrar a maçaneta? - Ele perguntou indignado.

Eu não tinha um plano melhor.

- Se o seu avô perguntar, foi o Brendon. - O Caden deu de ombros.

Eu encarei o Caden por longos segundos, me odiando por aquela opção parecer tão tentadora e então eu apenas respirei fundo e sai da frente da porta.

O Caden me encarou com um sorriso e se abaixou perto da porta, eu fiquei atrás dele e me abaixei também para ver tudo com atenção. O Caden procurou alguma coisa nas gavetas da pia e então puxou algumas lâminas.

- Isso talvez demore um pouco. - Ele avisou e eu não respondi.

Ele começou a fazer alguns movimentos com a lâmina na maçaneta e eu fiz uma careta confusa.

- Você vai riscar a porta. - Falei com ódio.

- Eu vou arrombar a maçaneta de qualquer jeito. - Ele se defendeu.

- Você só sabe fazer merda. - Insultei tentando puxar a lâmina da mão dele.

- Falou a pessoa que nos prendeu aqui. - Ele brigou de volta.

Eu fiz uma cara ofendida e continuei a tentar puxar a lâmina da mão dele, o Caden resistiu e não me deixou pegar a lâmina.

Naquela briga idiota, eu acabei me desequilibrando e caindo pra trás, mas levando o Caden comigo.

Se eu vou me fuder, não vou me fuder sozinha.

De algum jeito, o Caden conseguiu colocar o seu braço debaixo da minha cabeça para que eu não morresse tragicamente, mas isso não impediu da sua cabeça e a minha baterem.

O impacto do seu corpo contra o meu me fez fechar os olhos com dor.

O Caden conseguiu me encarar, depois de ter se ajeitado em cima de mim, e tudo que tinha no olhar dele era ódio.

- Foi sua culpa também! - Me defendi.

Vi algo vermelho na mandíbula do Caden e arregalei os olhos percebendo que a lâmina cortou ele durante a queda.

Ele percebendo o meu olhar chocado, levou os dedos até o corte na mandíbula e viu o sangue.

- Puta merda. - Ele sussurrou.

Ele voltou a me encarar com o olhar mais suave que antes, e eu congelei os meus olhos assustados nos dele.

Tivemos um momento de silêncio.

Depois de tantas brigas, finalmente paramos pra respirar. Ele me encarava arrependido, e eu devolvi o mesmo olhar.

Lubrifiquei os meus lábios e vi ele descer o olhar mais uma vez para a minha boca, só que dessa vez, ele permaneceu um bom tempo encarando.

A porta foi aberta e a imagem do meu avô foi revelada.

- Eu prendi vocês aqui pra vocês se resolverem, não pra transarem! - Ele reclamou cobrindo os olhos.

O Caden saiu de cima de mim e eu me sentei no chão em choque.

- Seu velho safado! - Insultei terminando de me levantar e saindo do banheiro com ódio.

[...]

A viagem de volta foi pior.

Nessa viagem eu não estava gritando de desespero e mandando o Caden parar de atropelar formigas.

Essa viagem era silenciosa.

A minha cabeça estava grudada na janela e eu observava os poucos carros que passavam pela estrada. O Caden estava calado do meu lado, apenas concentrado em me levar de volta pra casa.

Se a Ella e o Khoy tiverem transado na minha casa, eu provavelmente vou dormir na rua.

Sorri com esse pensamento e então eu notei que esse caminho era diferente.

Eu não conhecia esse caminho.

Me virei assustada para o Caden mas ele não me encarou nem por um segundo.

- Caden... - Eu chamei com a voz arrastada.

- Eu não conheci o meu pai. Ele me abandonou, e abandonou a minha mãe antes mesmo de eu nascer. A minha mãe me criou, me deu o melhor que ela podia dar, e sempre me colocou em primeiro lugar. Eu era rebelde, tinha raiva do meu pai por ele ter abandonado a minha mãe grávida e eu sempre jurei que se um dia eu encontrasse ele, eu mataria ele com as minhas próprias mãos. Mas eu também era cego, eu não reconhecia tudo que a minha mãe fazia por mim. Com 15 anos, eu comecei a vender drogas. Eu não queria, mas eu tinha que fazer aquilo. Tudo porque a minha mãe tinha câncer.

Eu não sabia o que falar, lentamente os meus olhos se encheram de lágrimas e o Caden continuou sem me encarar.

- Com apenas 16 anos, eu estava passando pela pior fase da minha vida. - Ele abriu um sorriso triste. - Eu me afundei nas drogas, me envolvi com as pessoas erradas, deixei de me importar com tudo, e conheci o meu pai. Ele acabou descobrindo sobre a minha mãe, de algum jeito. E quando eu vi ele, eu não quis matar ele, eu simplesmente não consegui fazer nada além de abraçar ele e chorar, porque a dor de ter crescido sem um pai era maior que a raiva de ter crescido sem um pai. Depois disso, eu me odiei ainda mais e me castiguei ainda mais. Eu não lembro de nada daquele ano, porque tudo que eu fazia era me afundar nas drogas. Eu não lembro quando eu conheci o Khoy, mas eu sei que eu conheci ele na minha pior fase, e eu também sei que se não fosse por ele, eu não estaria aqui hoje.

Quando a minha segunda lágrima caiu, o Caden olhou pra mim pela primeira vez, mas logo voltou a encarar a estrada.

- Assim como a Ella te salvou, o Khoy me salvou. - Ele deu de ombros. - O problema é que eu realmente não lembro de que maneira ele conseguiu me salvar antes que fosse tarde demais. Eu e o Khoy temos uma promessa, quando cada um estiver perto de morrer ou já tiver morrido, o outro vai fazer algo por ele. Quando eu estiver na beira da morte, o Khoy vai me contar como ele conseguiu me salvar. Então, quando na discussão eu te falei que pelo menos você conhece o meu melhor amigo, eu quis dizer que você conhece tudo que eu tenho.

O Caden me encarou como se esperasse que eu julgasse ele, mas tudo que queria fazer agora, é abraçar ele.

- A vida não é justa, não é? - Ele soltou com um sorriso. - Então, Emma, por favor, me perdoe por não te contar nada. Eu apenas não tenho nada de bom para te contar. Eu também não queria te envolver em nada que tem a ver com drogas, isso não te faria bem.

Eu abaixei o olhar e puxei a mão do Caden da perna dele, apertando a mesma com carinho.

O Caden encarou a minha mão junto da dele e devolveu o carinho, encaixando melhor as nossas mãos.

- Direitos iguais, Emma. - Ele falou atraindo a minha atenção. - Eu conheci a sua família hoje, então você conhece a minha família hoje.

continua...

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qnd tiver 22 comentários eu posto o próximo cap ainda hj

O Vendedor De DrogasWhere stories live. Discover now