Capítulo 43: (Eva) Revelações amargas

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— Você está querendo ir pro quarto do papai? 

Eduardo perguntou, e mentalmente estou dando soquinhos no ar por ter jogado a isca e os dois tão curiosos quanto eu, terem mordido. 

— Se tiver algo secreto … — deixei no ar, aguçando ainda mais a curiosidade. Não precisava de mais nada. Estava feito. 

— O papai diz que não podemos ir lá … mas …

Ainda tinha o obstáculo chamado Mônica, a menina parecia indecisa em trair a confiança do pai. Meu aliado seria o outro, conhecedor do esconderijo da chave. 

— Você vai contar algo pra ele? — Perguntou ele, olhando nos meus olhos, como se fosse capaz de ler o que eles de fato queriam. 

Eu podia não ser boa com crianças, mas sabia ser persuasiva quando queria. Acabei fechando minha mão em punho, como se fizesse um toque e selasse aquele trato. Eles ainda me olhavam desconfiados, desconfortáveis talvez? Mas acabaram cedendo, ainda mais quando prometi um prêmio. A cada um. 

— Eba, uhu! Mas como vamos entrar lá se o papai tranca? 

— Eu estava com a chave, eu guardei.

— Eu vou contar pra … — Mônica ainda pensava se seguia ou não, mas logo se calou, indo atrás do irmão, enquanto eu fazia o mesmo. 

A casa de Hector podia se descrever simples, decoração nada chamativa, apenas com a cor marrom fraca desbotada, escondida através de quadros grandes de paisagem e muitas fotografias dos filhos. O corredor era pequeno, mas antes de chegar a porta trancada, havia mais dois quartos, que deveriam ser dos meninos. Nenhum traço feminino adulto era possível enxergar naquele lugar. Ainda mais ao abrir a porta. Era uma mescla entre "sou solteiro" e "sou casado", porque havia uma parede pintada com um rosa quase esbranquiçado com uma estante amarrotada de livros. Mesmo morando sozinho, e sendo atrapalhado, Hector tinha a organização em dias. Cama arrumada, com lençóis azuis e as cortinas da mesma cor. 

— Já temos um trato! — Digo abrindo uma das gavetas em meio aos olhares curiosos — e tratos não são desfeitos! 

Não demorou meio minuto, para que ambos começassem a pular na cama e brincar debaixo dela, mesmo imaginando que me daria trabalho organizar tudo depois, não dei conta, olhando atentamente todas as coisas possíveis. Se a minha curiosidade me dava claros sinais de que algo estava errado, eu deveria seguir. Topei em um dos portas-retratos, e me deixei levar pela beleza da fotografia, era a finada ou desaparecida, não sabia o que havia realmente acontecido com aquela mulher. Mas ela era linda, estava com Hector, juntos e sorrindo felizes, talvez em alguma comemoração. Logo, algo despertou em minha mente, e aquele rosto não pareceu mais tão estranho. 

— De onde te conheço? — Sussurrei, tratando de voltar ao meu trabalho, mesmo que depois, aquela mulher voltaria para me assombrar. 

Passei os dedos pelos envelopes abertos, e um nome estampado estava na folha. "Desentupidora", seria o segundo trabalho dele? Queria não ter tido o vislumbre dos nomes impressos nos papéis. Quase desmaiei, com a tremedeira que causava em minhas mãos e o retumbar forte do meu coração, mas com pressa e talvez, pensando em uma forma de calar os garotos que agora gritavam como hienas, tirei o celular preso em minha saia e tirei as fotos pra lá de comprometedoras. Meu Deus! Não pode ser! 

— Acabou a brincadeira! Vamos, vamos — Sussurrou.

Os meninos foram os primeiros a me avisar, quando escutaram alguém na porta. 

— Papai! — Gritou os dois, saindo da cama as presas e eu, mais do que desesperada, deixei o celular no sutiã e a todo custo, tentando colocar o lençol de elástico no lugar. Aqueles pestinhas! Mas também se saísse dali com vida, tinha sido graças a eles. 

Watch-Pad: O Reality Show de Papel [ Will ]Where stories live. Discover now