Capítulo 11: Conversa no Jardim

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Havia acabado de tomar um copo d'água, quando três minivans e uma picape estacionaram em frente ao casarão. Sinceramente, eu não estava tão empolgado para a festa, todos os meus problemas cutucavam a ferida sem cerimônia alguma, mas eu precisava relaxar. Curtir, como tinha dito a Eva dias atrás. Como será que ela estava? Apostava todas as minhas fichas, aquela mulher estava correndo contra o tempo para provar minha inocência.

- Vamos ter festa! - Um grito de euforia me alertou, porque não entrar no clima?

Caminhei até a sala, cheia de rostos novos e curiosos. Fiquei ao lado de Samantha e Kasten, disputavam a atenção do homem ruivo, que flertavam com ele sem discrições.

- Mas vamos fazer algo mais animado. Que tal uma festa de máscaras?

Minha cara foi de total reprovação. Sério, tantos temas legais e descolados as mulheres ainda continuavam no clima de se vestir de alguma coisa e representar um personagem. A ideia de modernidade soava bem melhor, e Eva vendo minha opinião estampada na cara, resolveu amenizar.

- Ah! Qual é! Isso é sucesso em Veneza ...

Por mim poderia ser sucesso em qualquer lugar do mundo, mas me vestir feito um idiota eu não faria. Nisso, um flash veio em cheio em meu rosto, e uma mulher de cabelo loiro, rabo de cavalo e roupas esportivas me chamou a atenção. Ela carregava uma câmera, uma Canon? Não deu para reparar, já que ela se movimentava muito tirando fotos da casa.

- Porque estão tirando tantas fotos? - Sussurra Sam.

- Não sei, coisas de Reality?

Logo a loira tira uma foto da morena, que se anima e pede para tirar outra. Caio na gargalhada, Samantha era imprevisível. Minutos depois, uma voz doce demais chega aos ouvidos de todos, trazia nos olhos as segundas intenções. Certamente, esse seria o tipo perfeito de se curtir uma noite, mas no meu histórico atual eu evitaria mulheres malucas capazes de tudo para acabar com a sua vida.

- Will, acho que a galega gostou de você - Insinuou novamente Samantha.

- Ela é tão artificial - Sussurrei pra ela - Pra que tanto silicone?

- O que você tem contra silicone? - Rebateu ela, ofendida? Dei uma risada, dando de ombros e conferindo o decote de Samantha. Ok, eles eram ótimos, não demonstrava tanta artificialidade como o da loira oferecida.

- Tatuagens, ou silicone, no fim, é tudo modificação corporal. - Kasten dizia.

- Ele é tão natural com esse tanto de tatuagens - Samantha me empurrava o braço. Gostaria de dizer o mesmo para ela.

Não demorou tanto tempo, Aline, parou na minha frente sorrindo. Seu olhar corria solto em mim.

- Gostei de você. Onde está Akya?

Nisso lembrei dela, obviamente ela estava odiando esse monte de gente na casa. Se duvidasse, pensaria que esse barulho todo já fosse os finalmentes, Akya faria de tudo para pular essa etapa, eu a conhecia em poucos dias, mas já sabia tanto. Respondi que não sabia, mas torcia para ninguém ter a ideia de importuná-la.

Foram formados grupos, enquanto Eva se deslocava pro Salão de Festas, Sam e Kas seguia as escadas com o ruivo. Um tal de Caruso ainda dava instruções e acabei ficando com o italiano bêbado e confuso com as duas mulheres. Observando a oferecida mais de perto, até que ela era bem bonita, com os olhos azuis brilhantes. Que pena, que ela não se valorizava ao ponto de pular em qualquer barraca armada. Não segurei a curiosidade em perguntar para onde ia tantas fotos, Carol disse que ia pro site e grupos de WhatsApp, ok, eu ia perguntar mais, porém resolvi ir com ela pro jardim. O que deixou Aline visivelmente indignada.

Nunca tinha vindo aqui antes, o jardim era adornado de flores e alguns bancos para se sentar. Carol mexia na câmera, batia fotos e resolvi perguntar mais sobre ela.

- Você trabalha a muito tempo com fotografia?

- Sim, seis anos. Me inspirei no meu irmãozinho. Ele era especial.

- Eu admiro muito essa profissão - Disse empolgando sentando ao lado dela no banco, só não falei do meu desejo de voltar a ser fotografado quando saísse. - Aconteceu algo a ele?

- Ele faleceu, infelizmente - A mulher parecia visivelmente triste, com a câmera no colo e cabeça baixa. Contou que havia dado continuidade ao sonho do irmão, que tinha Síndrome de Down. Achei a história tão tocante, só não esperava que ela fosse chorar ali na minha frente. Ok, William, faça alguma coisa. Pedi que ela se acalmasse, e pus minha mão em seu ombro, eu era péssimo em consolar alguém que não fosse Eva. Me contou do quanto foi irresponsável e que o irmão havia morrido afogado, enquanto ela queria curtir a vida e fingir que o garoto não existia. Que egoísta, pensei. Mas quem não havia cometido erros? Eu havia feito o mesmo com Akya, a ignorando. Acabei indicando a escrita terapêutica. Depois de minha mãe falecer sem ao menos me despedir, escrevi uma carta, dizendo todas as coisas que não havia dito em vida, e no final queimei, para que as palavras de algum jeito pudesse chegar até ela. Carol até gostou da ideia.

- Você já conheceu alguém assim? Especial? Nos dois sentidos? - Somente assenti.

- E o que sentiu?

- Me senti eufórico, como nunca antes.

- Em que sentido?

- Como se encontrasse um tesouro, que você deve proteger e cuidar.

- Eu também, mas eu sempre tive medo Will. A gente nunca tem certeza do valor de um tesouro até vir alguém e roubar - Dei razão a ela, e confessou se arrepender do modo de como agiu, pelo menos ela fez o que eu fiz. Nisso, a emoção tomou conta e Carol se aninhou nos meus braços.

- Escuta, você não tem culpa. Acidentes acontecem o tempo todo, e com o seu irmão foi uma fatalidade.

Ela se desculpou, voltando a tirar mais fotos. Comentei de ter cometido erros também e ela se ofereceu para que eu desabafasse se quisesse. Eu não queria. Ter falado aquilo pra Samantha horas antes foi o suficiente. Sugeri, um assunto mais animado, até porque estávamos em festa. Citou Akya, e mostrou interesse em vê-la e me pediu para animá-la para a festa. Era uma tarefa extremamente difícil. Minha amiga não gostava desse tipo de evento, especialmente badalados e com gente sufocante e invasiva.

- O grande cérebro ia adorar todos. Nós vamos vir também - Tentei perguntar quem seria o "cérebro" que ela citara, mas logo ela me perguntou se eu tinha ido além do Farol. A floresta? Que eu lembre, era estritamente proibido caminhar até lá. Mas nisso, a mulher assumiu uma expressão vazia, e seu rosto estava como papel. Falava de um chá e que precisava bebê-lo. Mas que droga de chá? Preocupado com ela, um barbudo se aproximou, perguntando se tudo estava em ordem. É claro que não seu idiota, ela estava passando mal. Ele pediu para que ela o acompanhasse, mas logo ela se recuperou, me pedindo para ir ao salão de festas. Caruso perguntou por Akya e chutei qualquer compartimento. Porém, aquele velho frio na espinha começava a incomodar.

O que diabos havia acontecido ali?

Watch-Pad: O Reality Show de Papel [ Will ]Where stories live. Discover now