No Cabeça de Javali

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A tarde de quinta feira veio trazendo uma chuva muito fria e um vento muito forte fazendo os jogadores da Grifinória tremerem e ficarem bem perto uns dos outros. John se abraçava e olhava para o auge enquanto o discurso de Angelina Johnson entrava por um ouvido e saía pelo outro. Mesmo com várias gotas d'água caindo pelos seus cílios e pingando bem na frente de seus olhos, conseguia ver os três aros do canto esquerdo, já imaginando que aquele seria mais um treino difícil.

Por mais que seu estado de espírito tivesse melhorado um pouco, não conseguia subir na vassoura e pegar uma goles sem imaginar Mary driblando-o e roubando-lhe a bola, sorrindo para ele por causa da façanha, fazendo gols... Era como se o fantasma dela estivesse sobrevoando o campo de quadribol.

Fantasma. O pensamento fez o coração de John dar um salto perigoso. Será que o fantasma de Mary estava em algum lugar? Talvez na casa dos pais, ou (estremeceu ao imaginar) no lugar onde morrera, como ocorreu com a Murta-Que-Geme? Ou quem sabe encontraria ela flutuando pela masmorra da Sonserina? Ela gostava da escola, gostava da família, gostava dele... não se importaria de voltar, mesmo sendo diferente.

Por um segundo, John olhou cheio de esperança para os aros do lado direito, como se tivesse certeza de que Mary apareceria ali a qualquer momento. Translúcida, fantasmagórica, mas sorridente.

– John! – Angelina o chamou à realidade – Tá prestando a atenção?

– Sim, sim, é... tô sim.

– Olha, eu sei que podemos ser melhor do que isso – dizia a capitã tentando levantar o astral do time – estamos a um ano sem jogar, vocês estão enferrujados, é normal, mas vamos aumentar o ritmo e...

– Não. – Clara a interrompeu.

O resto do time voltou a atenção para a apanhadora. Angelina fez cara de quem não ouviu direito:

– Como? – Inquiriu a capitã.

– Desculpe, Angelina, eu acho que não consigo mais. Peguei o pomo por muita sorte no terceiro ano.

Witty e Sally olharam surpresas para a apanhadora. O novo goleiro do time, Joseph Harrison, um rapaz alto, corpulento, de rosto redondo e extrovertido, tentava segurar o sorriso trêmulo, como se estivesse esperando que aquilo fosse uma brincadeira.

– É... Clara? Você não tá dizendo o que eu acho que você tá dizendo, tá?

– Eu não to com cabeça, Joseph. Dá tempo de arranjarem outro apanhador. Em todo o caso, já fazia tempo que eu queria deixar a vaga. Perdemos muitos jogos porque eu não consegui pegar o pomo.

– Mas ganhamos todos os jogos na última copa por sua causa! – Sally se exasperou – Ganhamos a taça porque você pegou o pomo em todas as vezes que jogamos!

Clara não argumentou. Continuava segurando a própria vassoura enquanto fitava os próprios pés.

– Clara, você não pode sair do time. – Angelina tentava não parecer suplicante – Achei que gostava de quadribol.

– Eu adoro quadribol, mas...

A frase não se completou. A capitã focava da apanhadora para o resto do time, como se esperasse alguma sugestão urgente.

John então arriscou:

– E se trocássemos?

Todos os jogadores olharam para ele.

– Eu acho que não consigo mais ficar na artilharia – confessou o Watson – Que tal trocarmos?

– Hei! – Witty abriu um sorriso – Pode dar certo! No primeiro ano, John conseguiu pegar uma chave enquanto todas as outras batiam nele! O caso da pedra filosofal, lembram?

Potterlock - A Ordem da FênixWhere stories live. Discover now