⊱ Capítulo 22 ⊰

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S/n

A marca não era nada além de um filete pálido com um pouco de sangue seco ao redor. Nada que matasse ou deixasse uma cicatriz caso fosse bem cuidado.

Apesar do inverno quase típico que começara do nada, o dia parecia bem ensolarado e quente, com aquele clichê do céu azul e todos felizes chutando o gelo quase derretido. Parecia quase injusto demais.

Os professores haviam decidido que, pelo tempo estar bom, cancelariam as últimas aulas e adiantariam primeiro jogo da temporada. Quer dizer, nem todos concordaram, mas é a vida.

A arquibancada começava a ficar lotada, todos gritando através da música que soava pelos alto falantes. Provavelmente era para incentivar e animar os times, se eles pudessem ouvi-la, claro. Todo o time da Grifinória tinha sorrisinhos convencidos no rosto, coisa que Higgs usou para debochar deles durante os 20 minutos que ficamos fofocando no vestiário.

— Boa sorte, querida — George sussurrou enquanto nos cumprimentávamos no campo. — Vai precisar.

Fred se limitou a uma piscadela divertida antes de seguir até Hood, o que me deixou um pouco fraca. Era esquisito, mas passara a pensar neles com mais frequência do que gostaria.

Um apito soou, junto com o farfalhar da grama quando todos subiram aos ares, acompanhados da energia caótica que esses jogos sempre tinham.

Decidimos começar com a formação de ataque Hawkshead, com Flint a frente com a goles em mãos. 10x0.

O restante dessa metade do jogo foi bem humilhante. Ninguém nunca ia admitir em voz alta, mas deram uma puta surra na gente. Nosso pequeno momento de glória foi quando Montage acertou um balaço de volta até a perna de um artilheiro grifinório e Pucey conseguiu fazer um gol. O jogo continuou, porque aparentemente Madame Hooch não percebeu nada, mas mesmo assim não nos arriscamos a tentar de novo. Mesmo que a situação implorasse.

Parei uns cinco segundos no ar, pensando em qualquer coisa que poderia fazer para mudar aquele caos. Era uma ideia idiota e desesperada, mas o que não te mata te fortalece, né? É sim. Joguei a goles o mais alto possível, rezando mentalmente para não acabar estatelada no chão. Juntei as mãos no nano-segundo que a bola parou no ar antes de começar a descer, usando toda a força para rebater em direção ao aro central.

Ainda tinha os olhos fechados quando um lado da arquibancada gritou — e pelo menos não era de tristeza —, indicando que funcionara.

Nunca fui triste.

Na verdade, fui sim. O placar ainda marcava 70x30.

De repente toda a gritaria sessou, acho que até o time parou alguns instantes olhando para o alto. Draco tomava a dianteira em uma corrida vertical, com Harry logo atrás. Tudo não demorou mais que um minuto. Malfoy passou rente ao solo, mas claro que Potter não percebeu nada até estar jogado no gramado, seguido do loiro que pousou segundos depois, jogando o pomo no chão e gritando.

Mais ninguém da Grifinória sorria.

Tinha acabado de colocar os pés no chão quando Dray veio até mim em passos apressados, murmurando coisas que não entendi enquanto deixava diversos beijinhos curtos pelo meu rosto, encontrando minha boca por um instante antes de me abraçar. Ainda estava meio ??? quando ele me soltou e foi pular no restante do time. Tenho uma vaga lembrança de vê-lo fazer o mesmo com Blaise.

Madame Pomfrey apareceu com uma bolsa de primeiros socorros enquanto Hermione tentava consertar os óculos quebrados do amigo. A voz de Jordan soou meio abalada quando anunciou a nossa vitória no microfone.

Tudo o que rolou a seguir foi uma avalanche de verde e prata saltando da arquibancada e correndo em direção ao campo. O time todo se abraçou em uma cena que seria muito emocionante se eu não estivesse lacrimejando por provavelmente ter quebrado um ou dois dedos.

— Obrigada a todos que não deixaram a gente passar essa vergonha — falei quando voltamos aos vestiários.

— Muito fofo, mas não precisa chorar — Blaise debochou, passando o polegar por uma lágrima que escorria pela minha bochecha.

•••

Agora tudo se resolve com festa nessa casa, e quem somos nós para reclamar? Alguns alunos do sétimo ano espalharam balões por todo canto, dizendo que “qualquer vitória contra eles é motivo de comemoração”, mesmo em plena terça-feira.

Quando voltei da enfermaria todos já estavam dançando um rock aleatório dos anos 90 e bebendo whisky de fogo contrabandeado. Pans surgiu do nada, espalhando glitter e mini estrelas pelo meu rosto.

Por volta de duas horas depois, tudo virou uma confusão de adolescentes suados se esfregando na pista improvisada, então sentamos no sofá. Bom, Pans, Blas e eu nos sentamos, Draco se jogou por cima de nós, deixando um pedaço do corpo para cada um segurar.

— Gente — ele começou, se remexendo na almofada em meu colo —, estava pensando naquele dia no Três Vassouras e sabe, eu me casaria com vocês.

— Eu não — Blaise cortou, levantando as sobrancelhas quando nós três o encaramos com indignação. — Vocês se vestem muito mal, minha mãe morreria se visse vocês usando alfaiataria com lastex.

Eu daria o golpe do baú nos três e fugiria com o dinheiro — Pansy sorriu sonhadora.

E do nada, todos estavam pensando na possibilidade.

— Eu empurraria todos da escada e seria a viúva mais rica do continente — falei, no fundo pensando em uma bolsa nova.

Blaise riu e deu batidinhas de consolo no estômago de Draco.

— Tudo bem, Dray. o fardo de ser o último romântico do mundo é pesado, mas você se acostuma.

— Não, na verdade eu gostei muito da ideia de ser viúvo e rico — ele me olhou e sorriu. — O primeiro que afogar o outro na banheira vence.

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N/a: Sim, enquanto eu viver a Grifinória vai perder todos os jogos, porque chamo isso de reparação histórica.

Teoria da branca de neve || Gêmeos WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora