08

208 38 2
                                    

Não foi estranho que as duas acordassem e percebessem que estavam nuas na mesma cama. Sabiam muito bem o que tinham feito.

Ainda assim, permaneceram em silêncio mesmo após o suspiro que denunciou que estavam despertas.

Lauren estava deitada de costas para Camila, que corria os olhos pelas tatuagens em suas costas. Gostava da delicadeza da frase que acompanhava sua coluna e a libélula em sua nuca era uma das coisas mais nostálgicas que poderia surgir em seus dias.

Camila não se fez de boba. Procurou o telefone celular que localizou sobre a mesa de cabeceira e tirou uma foto. Era estranho que achasse as costas de alguém tão bonitas?

Suspirando, ela acabou atraindo a atenção sonolenta de Lauren, que se virou para ela sem nenhum pudor.

As duas se olharam em um silêncio longo que poderia ter durado séculos. Não tinham o que dizer, por isso, a mais nova brincou:

— Acho que muita gente vai gostar de ver essa marquinha bem aqui — tocou na base do pescoço de Lauren uma marca que ela mesma tinha feito — mas acredito que muito mais pessoas vão ficar com ciúmes.

Um sorriso curvou os lábios de Lauren.

— Acho engraçado quando as pessoas se dão conta de que eu transo. Ou que você transa — seus lábios tremeram contendo um risinho — já fantasiaram tanto nós duas juntas que boa coisa não vai sair.

Camila concordou.

— Você se importa? — perguntou, ganhando um aceno breve.

— Não mais — Lauren murmurou — tive a felicidade de poder colocar para fora como me sentia, ainda que tenha tido um roteiro do que deveria ou não dizer, claro. Mesmo assim, foi importante. Só que eu não sou mais uma adolescente de dezesseis anos. Muita coisa mudou.

— Apenas uma coisa continuou a mesma — disse Camila enquanto levava uma mão ao rosto de Lauren e afastava os fios que o cobria.

— O que? — Lauren sussurrou.

— Seu senso de justiça — os olhos de Camila faiscaram ao dizer.

Lauren assentiu para o que disse.

— Faço de tudo para ser boa como sei que sou independentemente do que acharem de mim. Você deveria fazer o mesmo. Sei que as pessoas ainda te afetam muito — Camila desviou os olhos ao virar de barriga para cima e mirar o teto — as pessoas são más gratuitamente, Camila, principalmente quando elas não sabem a verdade ou acham que tem o poder sobre as outras.

Camila nada disse.

— É tudo uma questão de poder e sentimento de justiça. As pessoas muitas vezes não têm ideia da batalha que estão travando e muito menos quem são as pessoas certas para entrar em confronto — Lauren continuou — e não importa o que você tem que mostrar para estranhos na Internet, mas o que você mostra para si mesma e as pessoas do seu círculo mais íntimo. O que importa é a forma ao qual você age com as pessoas que não estão gravando sua cara pra jogar na Internet. E você é uma pessoa boa. Você é uma pessoa muito boa, Camz...

Camila a olhou diretamente nos olhos ao ouvir o apelido antigo. Abriu um sorrisinho que não passou de um curvar de lábios e deixou um beijinho em sua boca rosada.

— Vou pedir o café da manhã aqui, ok? — perguntou.

Lauren assentiu, observando Camila se mover para fazer o pedido enquanto ela mesma buscava o celular e verificava as mensagens.

Respondeu mensagens da família e de alguns amigos, então foi para os aplicativos das redes sociais com um suspiro cansado ao se perguntar pelo que encontraria.

Mil Vezes - Short FicWhere stories live. Discover now