Epílogo

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Outras pessoas que não elas diriam o que aconteceu. As duas jamais conseguiriam colocar em palavras.

Ao mesmo tempo em que gritavam, seus cérebros congelavam e elas não entendiam nada.

Camila ficou assustada com a voracidade que Lauren conseguia rebater algumas coisas e achou que parecia uma verdadeira guerreira lutando contra o que quer que estivesse acontecendo.

Ela tinha a língua solta, mas não entregou de forma alguma o esquema e toda a ideia por trás do ocorrido. Apenas as defendeu e foi cortante em suas palavras.

Dado momento a coisa ficou tão feia que ela mesma não se conteve. Tinha sangue quente. O que não tinha era força mental para se estender em discussões.

As mãos de ambas tremiam, mas seja lá o que fosse acontecer, tudo foi interrompido quando uma ligação chegou e informaram que estavam tendo acesso à briga de alguma forma.

Provavelmente era a mesma que fez com quem gravassem as cenas que as Camila e Lauren protagonizaram, mas isso sim deu um gosto bom de ter ocorrido.

O mundo inteiro tinha ouvido a discussão, estavam isentas de culpa, além de terem sido ouvidas por todo mundo que estava atento ao ocorrido.

— Tudo bem — disseram.

Se livraram também daqueles aparelhos e buscaram por pontos eletrônicos pela casa enquanto Camila e Lauren apenas olhavam a bagunça.

Era claro que não encontraram nada.

Depois disso, se reuniram por um longo tempo que deixou as duas ainda mais apreensivas.

— O que acham que estão planejando? — Lauren murmurou para Camila, que sacudiu a cabeça dizendo sem palavras que não tinha a menor ideia.

— Seja lá o que for, sinto que tudo deu certo, ainda que por um tempo — Camila completou.

Lauren mordeu o lábio inferior, mas nada falou. Apenas seguravam as mãos com força como se quisessem separar as duas. O pior talvez fosse saber que fariam isso se significasse que faria com que estivessem bem.

Não seria a primeira vez que se distanciavam por um bem maior. Era a mesma história se repetindo de novo e de novo. As pessoas viam e criavam histórias, mas ninguém sabia da verdade.

Seria muito duro cortar o que faziam para ir em outra história que criassem, sobretudo porque estavam construindo algo muito real e sólido, mas talvez não precisassem fazer isso de verdade. No fundo tudo que as pessoas viam era um teatro.

Tudo um teatro...

Pessoas reais eram atores e tinham uma vida além das peças e personagens. Alguns atores se relacionavam além daquilo, outros não.

Mil vezes uma peça podia ser repetida, como Romeu e Julieta, Hamlet, ou quaisquer histórias que se alteravam aqui e ali com a modernidade, mas não passavam disso: histórias se repetindo.

Ninguém sabia de onde tinham vindo. Ninguém sabia a verdade. Ninguém tinha a menor noção da ideia por trás de cada autor e diretor da peça. Era apenas aquilo: montagem, maquiagem, releitura, ação.

E nisso, artistas viviam seus personagens diante de câmeras e torciam para que elas se desligassem logo para que pudessem viver a vida real.

E tudo se repetia nos dias seguintes.

Camila e Lauren ouviram muito aquele dia sem dizer uma única palavra, mas acabaram por perceber que a peça que elas mesmas dirigiram havia atingido um público suficiente para ser mantida e repetida.

Sabiam que aconteceria outras tantas mil vezes, mas não conseguiram se importar realmente porque a realidade por trás das câmeras agiu e elas conseguiram salvar uma a outra e quem sabe outros artistas que vinham encenando perto de suas cenas finais.

Não dava para salvar o mundo todo, mas fizeram o que tinham desejado fazer sobre a própria música: tocar cada um individualmente, então ninguém poderia dizer que não sentiu algo. Porque independentemente de quais fossem os sentimentos, se tinham algo que eles eram, essa coisa era real.

Mil vezes suas músicas eram repetidas, assim como mil vezes histórias sobre elas eram criadas, e independentemente das pessoas saberem se elas se casaram ou não, quantos filhos tiveram ou se viajaram em lua de mel para uma praia deserta, elas sabiam que tudo aquilo era real de alguma forma.

Porque a música tem o poder de mudar vidas e salvar outras tantas. Músicas eram histórias, que ainda que não fossem reais para os cantores, eram para alguém em algum lugar no mundo.

Nada mudaria, mas talvez não precisassem que exatamente isso mudasse.

Sempre estariam ali uma pela outra, fosse sobre um palco, fosse escondidas das câmeras.

E não importava.

Mil vezes uma história pode ser repetida sem que ninguém saiba a verdade e ainda assim ela será real de alguma forma.

.

E chegou o fim.

Sei que vocês queriam algo concreto, mas o objetivo aqui era mesmo contar que a realidade não importa para ninguém que não seja elas.

Precisava chegar ao ponto onde vocês conheceram a história até certo ponto, mas assim como na vida real, onde ninguém sabe o que acontece na vida fora das câmeras, sempre criarão suas próprias histórias sobre o que acontece e o que aconteceu.

Sintam-se livres para imaginar o final como a fanfic que desejarem.

É que sempre criarão histórias e nunca saberemos a verdade. Ainda assim, tudo isso sempre será real, mesmo que não de verdade.

Isso faz sentido, juro para vocês.

Porque uma história contada mil vezes......

Bom, vou voltar para minha aposentadoria agora. Abraços!

Malfeito, feito!

Mil Vezes - Short FicWhere stories live. Discover now