Martin IV: Uma Promessa Quebrada

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                                 A rainha Elisandra observa o corredor por uma pequena fresta na porta, quando se certifica que ninguém a seguiu, ela fecha a porta e se vira para Martin, que continua confuso. Elisandra se dirige ao canto da sala e serve vinho aos dois em duas taças de bronze, então senta-se na poltrona ao lado. Algum plano, certamente, ele diz para si. 

- O que deseja, mãe? - Martin questiona, pegando a taça da mão da rainha, mas continua de pé, olhando para o dia ensolarado pelo parapeito da janela, de costas para a mãe. 

- Amanhã alguns homens chegarão dos Jardins Suspensos... Seu tio diz que precisa aumentar sua guarda doméstica. - A rainha diz bebericando seu vinho tinto e então corta um pequeno triangulo de queijo. 

- Qual o motivo? - Martin finalmente pergunta, e então dá um gole no vinho. - Minha irmã lhe preocupa?

- A corte é cheia de paparicadores e mentirosos. Mas sei que todos são leais a sua meia irmã. Cobras. Precisamos de apoiadores aqui. - Ela aponta para o chão. A rainha Elisandra ajeita sua capa marrom escuro, presa por medalhas de ouro, cravejadas com esmeraldas, que combinava majestosamente com o vestido marrom bronzeado, com pequenos detalhes em dourado. 

- O que você pretende fazer com esses apoiadores? - Martin pergunta, mesmo já sabendo a resposta. A promessa para o seu pai martela sua cabeça. Pode ser uma das últimas vezes que Martin o vê, e está aqui considerando quebra-la com sua mãe. Uma coroa preencheria o buraco de uma promessa quebrada?

- Você sabe, meu filho... - Elisandra responde inclinando a cabeça levemente para o lado, deixando seus cabelos ruivos cairem sobre os ombros, que estão somente presos por sua pequena tiara prateada.

- Eu prometi ao meu pai que... - Martin começa a falar mas Elisandra bate com a taça na mesa.

- De que servem promessas para um morto debaixo da terra? - Ela se levanta e se aproxima do filho. Encarando-o com os olhos verdes musgo diretamente nos seus olhos heterocromáticos. - O seu direito é mais importante do que uma promessa para um rei muribundo acamado.

- Mortos? De onde tira tanta certeza que meu pai morrerá? - Martin retribuí o olhar, enfurecido.

- Você sabe que seu pai está morrendo, Martin! Os deuses o estão levando a semanas, Amber também está percebendo. O que lhe impede de ficar aqui e não voltar para sua ilha? Se ela não voltar, vai ser muito mais díficil tomar o trono dela. - Elisandra diz, quebrando o contato visual e debruça sobre o parapeito na janela, observando o céu azulado. 

- Cuidado. As paredes tem ouvidos. - Martin diz.

Não quebre sua promesa, Martin recita para si como um mantra, não quebre... Mas Elisandra começa a fazer sentido. A Guarda Vermelha poderia ser de assistência para tomar o trono, mas Thorne Fellar é leal a princesa e remove-lo levantaria suspeitas.

-  Eu pensarei. Quando... - Ele se interrompe e dá um gole do vinho tinto. As palavras são doídas. - Quando meu pai morrer, eu terei uma resposta. 

- A resposta será que ser sim, espero. É o seu direito, nunca tivemos uma rainha, e muitas princesas primogênitas, e nenhuma herdou, por todas as nossas tradições. E quem pode dizer que Amber seria uma boa rainha, ela é arrogante, irritadiça, desrespeitosa e especialmente burra. - Elisandra cospe com ódio. - Como ela pode imaginar que é uma herdeira legítima?

- Por que meu pai ditou que ela é. - Martin responde, e dá um gole no vinho. Elisandra volta a encara-lo.

 - Seu pai pode ser muito bom em certas coisas, mas foi um imbecil por ter tomado uma decisão dessas. A nossa tradição dita que você é o rei legítimo, e então assim será. - Ela responde, colocando a taça de vinho na mesa. - Espero sua resposta. Uma promessa quebrada, ou um trono?

As palavras ecoam em sua mente... Promessa ou trono? 



As Crônicas do Trono: Prelúdio de Sangue (LIVRO UM)Where stories live. Discover now