Não bebereis

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Dois dias se passaram. Midoriya esteve fugindo da sombra de Katsuki como o diabo fugia da cruz. Só de ouvir a primeira sílaba do nome, já ficava de pé e se retirava do recinto. Todoroki esteve lhe observando e jogando verdes, sabia driblar o esverdeado como ninguém - faltava tirar um bloquinho de notas no bolso e pontuar várias coisas que conseguia interpretar, depois da consulta (por livre e espontânea pressão), ele diria: vou meter a mão na sua cara, burro do caralho.

E Midoriya sabia, sabia que era uma anta, uma mula sem cabeça, sem cérebro e sem senso. Depois de ter cometido a maior atrocidade de sua considerável curta existência no planeta água, ele ainda tinha colocado uma cerejinha para enfeitar. Beijou Katsuki no banheiro. Por vontade própria, sem uma gota de álcool influenciando suas ações. Beijou porque ficou hipnotizado pelos lábios de Katsuki enquanto ele bostejava lá, sentiu até a quentura em suas partes baixas quando ele pressionou a perna contra seu corpo, com força.

Sinceramente, não via motivo, razão ou circunstância para Katsuki existir.

Agora estava nessa situação humilhante.

Era domingo, de tarde, e Midoriya foi abençoado por uma mensagem de Kirishima, lhe convidando para tomar uma cervejinha e comer umas asinhas de frango. Como gostava de pensar: depois da tempestade, vinha a luz.

Não importava Katsuki, ele que se enfiasse no próprio cu e saísse em um universo paralelo. O beijo e a transa tinham sido erros pessimamente calculados, coisas do passado. Não voltariam a se repetir. Seja lá o que passasse por sua cabeça quando ficava tão perto de Katsuki, trabalharia duro em ignorar e viveria sua vida dignamente, sem arrependimentos a partir de agora. Melhor! Passaria longe de Katsuki que era para nem lembrar de nada. Seria apenas Kirishima e ele.

Tomou um banho caprichado, passou até um creminho depilatório e fez uma higiene belíssima lá onde a luz não chega. Passou seu perfume mais caro - que, por ironia, tinha sido presente da mãe de Katsuki em seu último aniversário -, passou um hidratante nas pernas e penteou os cabelos, balançando em seguida, para dar movimento. Vestiu uma calça skinny de lavagem clara, que deixava seu traseiro em pé e bem delineado, uma camisa de botões na cor branca, um casaco de couro e seu sapato de sempre.

Depois de enfiar a carteira e celular no bolso, saiu do quarto e desceu as escadas sem muita pressa. Encontrou alguns colegas na sala de estar, conversando de forma descontraída e percebeu que não tinha visto Todoroki o dia inteiro. Ou ele estava estudando, ou tinha ido visitar a mãe ou, a pior das opções, estava enfurnado no ninho de ratos, ou melhor, tubarões.

Deu um tchau para os colegas e saiu da casa. Percebeu certa movimentação na casa da frente, mas não deu importância e seguiu até a casa que ficava exatamente ao lado da sua, com algumas árvores na divisão. A fraternidade Alpha, a casa verde escuro - logo em frente, ao lado da casa dos tubarões, ficava a fraternidade Alligator, pintada de laranja.

Encontrou Kirishima lhe esperando, encostado em uma moto. Ele acenou, sorrindo de orelha a orelha e até beijou sua bochecha, quando o cumprimentou. Midoriya nem escondeu a satisfação em ter aquele homem belíssimo lhe dando mole, estava quase líquido.

- Espero que não tenha medo de andar de moto - o ruivo brincou, estendendo um capacete extra para o baixinho.

- Ela pode dar até um mortal duplo carpado, se você está pilotando, então eu me sinto seguro.

- Essa foi a melhor cantada que eu já recebi - Kirishima riu alto e ajudou o outro a afivelar o capacete.

Midoriya sorriu, recebendo a ajuda, e suspirou, confiante que seu encontro com Kirishima seria incrível e tiraria aquela confusão recente de sua cabeça. Estava disposto a até, quem sabe, dar uma chance para se apaixonar. Enquanto estava agarrado à cintura do ruivo, a caminho do bar chique, ficava pensando em todas as vezes em que tiveram uma conversa, mesmo curta.

O ódio que habita em nósWhere stories live. Discover now