Capítulo XXI

168 20 3
                                    


O que a mulher do delegado falou mexeu comigo, fiquei o resto do dia pensado no  bagulho do estupro. Eu tenho irmã, tenho mãe, nem sei o que eu faria se alguém tocasse nelas.

Não é possível que o Magrelo estuprou uma mulher. Se a favela descobrir, ele morre. 

Pra falar a verdade, até eu tô com vontade de matar ele!

— Bora, Cotonete. Acelera! - ouvi sua voz - O Salvador tá esperando, porra.

— Tô indo.

Peguei a mochila e entrei no carro. O Barba foi dirigindo, o Magrelo sentou no lado do passageiro e eu sentei atrás sozinho.

— Eae, a dona te deu trabalho?

Juro que senti meu estômago revirar só de ouvir ele falar.

— Que nada, Magrelo. Quando eu cheguei, os dois tavam sozinhos no quarto. - Barba disse  - Qual é, Cotonete?! Aproveitou que o moleque tava dormindo pra dar um trato na patroa? - eles riram.

— Cuidado em, Cotonete. Ela é mulher dos verme! - olhei pela janela para tentar cortar o assunto - Ela te falou alguma coisa? - Magrelo perguntou.

Encarei seus olhos e tive que me segurar pra não arrebentar a cara dele.

— Falou não. - levantei uma sobrancelha - Ela deveria?

— Não. - respondeu e olhou para frente.

— Quem você deixou lá pra cuidar dela e do menino? - perguntei.

— Um amigo meu. - me olhou pelo retrovisor - Tá preocupado?

— O marido dela é delegado, o irmão é capitão do BOPE. Se acontecer qualquer coisa com ela, a polícia invade o morro!

— Não vai dar tempo. - sorriu ao ver meu cenho franzido - Cê já vai entender o porquê.

O Barba subiu o morro, depois fomos andando até uma viela. Tinha uns 10 caras fazendo "a guarda" da sala do Salvador, e um deles deixou a gente entrar depois de ver que o Magrelo tava lá.

O Barba ficou lá fora e eu fui o último a entrar na sala, mas assim que passei pela porta, um cara apontou a arma pra minha cabeça enquanto o Salvador enforcava o Magrelo contra a parede.

— Ei, ei, ei. Calma aí, irmão! - eu disse levantando as mãos. 

— Que isso, Salvador. Tá maluco, porra? - Magrelo perguntou.

— Maluco tá você, filho da puta. CÊ TROUXE A MULHER E O FILHO DO RODRIGO PRO MORRO, CARALHO? SEM A MINHA PERMISSÃO? TÁ QUERENDO MORRER, MAGRELO? - meu coração acelerou - O IRMÃO DELA É CAPITÃO DO BOPE, PORRA! 

— Relaxa, cara. Vou dar um fim neles antes da polícia descobrir onde eles estão!

— Como assim, Magrelo? - perguntei - Que papo é esse, cara?

— A vadia não vai passar de amanhã, depois eu sumo com o moleque. Ninguém vai descobrir nada!

— Presta atenção no que eu vou te falar. - Salvador apontou a arma pra cabeça dele - Se uma, só uma viatura subir a favela procurando essa mulher, eu vou estourar sua cabeça. Entendeu?

— Já entendi, caralho. Baixa essa merda! 

— Cê tá avisado. - ele guardou a pistola - Sai daqui, os dois. Só voltem quando essa mulher não tiver mais viva!

Saímos da viela com pressa e o Magrelo praticamente jogou o Barba dentro do carro. Eu achei que ele ia pra casa, mas percebi que estávamos voltando pro lugar onde a mulher do delegado tá.

After the Dark Journey Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora