Blue Blood - l.s

Moonlight

Waterways - Ludovico Einaudi

— Esses impostos precisam ser investidos em algo realmente importante, não em mais uma construção de Igreja. Até Deus concordaria comigo. — O rei disse em mais uma de suas reuniões acaloradas com o Conselho.

Estrategicamente, seu Conselho era formado por um homem de cada classificação da nobreza, um duque, um marquês, um conde, um visconde, um barão, um lorde e um sir e, por mais que socialmente não estivessem no mesmo nível, dentro daquela sala, o rei se preocupava em dar o peso de um voto para todos.

— Vossa Majestade deve levar em consideração que a Igreja vem apoiando seu governo por longos anos, — Duque de York disse enquanto, da sua mesa, segurava as cartas que haviam sido mandadas ao palácio pela maior autoridade católica inglesa. — Cardeal George nunca nos virou as costas.

— A Inglaterra é um país devoto, essa é a sua obrigação! — Harry disse um tanto aborrecido, havia passado todo o dia naquela sala e já não aguentava mais os mesmos rostos decrépitos lhe encarando.  — Há Igrejas o suficiente, mas precisamos de mais mosquetes. Francis tem um temperamento muito histérico, isso é o que me preocupa. — Ele disse enquanto encarava sobre sua mesa algumas cartas que havia trocado com o rei da França por meses ao que tentavam, em vão, chegar a uma conclusão sobre o canal da Mancha.

— Deixar de lado quem sempre lhe estendeu a mão para se preocupar com algo que pode nem ao menos acontecer não me parece acertivo. — O lord de York, filho do duque, lançou as palavras no ar, com um tom irônico demais para as graças de Vossa Majestade.

— Deixe-me refrescar Vossa memória, Milord. — O rei disse enquanto se levantava, jogando a capa que estava sempre sobre seu corpo para trás de uma forma imponente, a deixando com um caimento perfeito sobre os ombros largos. — Quando Vossa Graça, seu pai, teve suas terras invadidas por povos bárbaros, tenho certeza de que fora Sir Philip e sua tropa quem lhe defendeu. — Harry disse enquanto apontava para o homem sentado à sua direita. Apesar de ter o menor título daquela reunião, era muito estimado pelo rei e seu exército. — A Igreja se mantém ao meu lado, porque eles precisam de mim, não ao contrário.

Um clima tenso se instaurou na sala e todos os Conselheiros se calaram diante das palavras do rei. Harry era um líder amado por seu povo e temido por seus oponentes, o homem fora criado durante toda a sua vida para aquele momento e, de fato, governava com confiança e pulso firme de quem vivia para aquela função. Sua soberania era provada em momentos como aquele, quando não precisava levantar sequer um tom em sua voz para que fosse compreendido. Styles só precisava dar sua ordem com um sorriso no rosto e seria acatado, porque sabia que quando o poder estava em suas mãos daquela forma, nada mais necessitaria fazer além de pedir com educação.

— Podemos investir esse imposto na fabricação de novas armas e treinamento militar. — Sir Philip disse, finalmente quebrando o silêncio incômodo.

— Sinto como se tirasse as palavras de minha boca. — Harry disse enquanto caminhava pela sala cheia de homens insatisfeitos com aquela conversa. — Agora, se me dão licença, nossa reunião está encerrada. — Disse uma última vez antes de abrir a porta e sair, deixando aquele ambiente para trás.

Enquanto caminhava pelo longo corredor, Harry fora seguido por Niall e Liam, que provavelmente passaram toda a tarde na porta, encarando o outro lado do corredor na espera daquele momento.

— Me relembre as horas, por gentileza, major. — O rei pediu enquanto caminhava e logo Niall puxou seu relógio de bolso, obedecendo o pedido do rei.

— Já são oito horas, Majestade. — Horan disse baixo e viu os ombros de Harry caírem. Por vezes, o trio de guardas pessoais do rei sentia pena do homem. Harry era jovem, tinha uma linda esposa e filha que tanto amava, mas passava todos os seus dias preso em salas de reuniões com homens velhos demais, escapando de supostas traições e pensando em formas de equilibrar todos os poderes para que seu país não ruísse, não lhe restava tempo nem para ver sua herdeira crescer.