Capítulo 29 - Casa

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DANTE


Encaro os olhos intensos de Liz e suspiro irritado. Não com ela, nunca com ela, mas com as pessoas que a tiraram de tudo o que era bom, dos pequenos prazeres da vida. Deslizo o polegar acariciando seu queixo e vejo ela abrir a boca inspirando profundamente

Então tomo uma decisão

- Vou te ensinar

- O que? – ela pergunta chocada e se afasta – Não vai não

- Vou sim

- Isso é ridículo – ela diz rindo assombrada – Eu não preciso aprender a andar de bicicleta

- Talvez não precise, mas tenho duas bicicletas aqui e seria horrível desperdiçar essa chance, não acha?

- Dante...

- Por favor – interrompo e lhe lanço um olhar inocente – Prometo que se não gostar nós paramos

Ela inclina a cabeça pensando e eu sorrio encolhendo os ombros, ela suspira e assente pesarosa

- Tudo bem, mas não ria quando eu cair

- Você não vai cair – falo e sopeso as palavras dela – Quem te ensinou a dirigir?

- Uma antiga amiga minha – ela diz simplesmente e eu concordo antes de tirar as bicicletas do porta a malas. Pego uma e subo mostrando a ela como funciona, dou algumas voltas lentamente e depois paro descendo

- Sua vez – anuncio e ela sobe se equilibrando – Basta mover as pernas e deixe que elas façam o trabalho, você só precisa guiar a bicicleta

Liz tenta parando algumas vezes e logo em seguida desliza alguns centímetros não sabendo se olha para o chão ou para a frente da rua. Deixo-a ir sozinha depois de lhe mostrar alguns truques e sorrio quando ela pedala até uma árvore mais próxima sem titubear

Cruzo os braços quando a vejo dando a volta bem mais longe e voltando e arregalo os olhos quando um cachorro sem coleira dispara em sua direção querendo brincar. Corro atrás deles, mas diminuo o passo quando vejo Liz sair da bicicleta já sabendo a intenção do cachorro, só não sabia que ele ia pular em cima dela de toda forma

Faço uma careta quando ela cai de bunda no chão junto com a bicicleta e corro alguns passos puxando o cachorro animado para longe

- Para com isso – eu falo quando ele tenta lambe-la e escuto as risadas de Liz. O dono vem correndo até nós e prende o cachorro pedindo desculpas e seguindo seu caminho – Você está bem? – pergunto preocupado e ela assente ofegante do chão

- Talvez minha bunda não seja mais a mesma, mas tudo bem com o resto – ela fala divertida e eu dou risada enquanto pego seus pulsos e a puxo para cima. Ela arfa rapidamente e encobre com uma tossida, franzo a testa desconfiado e antes que ela pisque eu levanto a manga do moletom inspecionando seus pulsos

Marcas meio arroxeadas cobre seu pulso esquerdo como se mãos a tivessem forçado por um bom tempo. Fecho os olhos sentindo meu sangue esquentar e continuo de cabeça baixa enquanto falo com ela

- Quem fez isso?

- Ninguém, não é nada – ela diz e tenta puxar o pulso, seguro gentilmente e passo o polegar pela marca

- Liz eu não estou pedindo, estou mandando que você me diga quem fez isso com você

- Dante...

- Agora – eu falo e levanto os olhos, ela repara meu olhar e prende a respiração, me inclino para frente e posso sentir sua respiração quente em minha bochecha – Quem?

- Foi o Martin, mas está tudo bem, ele...

- Do Tempest? – pergunto interrompendo-a e ela assente engolindo. 

Me inclino para baixo e roço um beijo suave no machucado tirando um ofego baixinho dela. Depois de alguns segundos que eu usei para controlar minha raiva eu levanto meu olhar encontrando o dela e seus olhos estão tão brilhantes que eu me pego inclinando para frente usando aqueles poucos centímetros que nos separam

Encosto minha testa na dela suspirando e entrelaço nossos dedos acariciando a palma de sua mão

- Estou cansado – sussurro e ela aperta minha mão

- De que?

- De tentar não beija-la

Meus olhos se abrem para ver sua reação a minhas palavras, mas o que eu vejo não chega nem perto do que eu esperava. E Liz aquela mulher extraordinária não me deixa pensar muito porque tomando a decisão por nós dois ela se inclina e me beija.

Seus lábios macios tomam os meus em um beijo profundo e eu contorno sua boca quase que a reverenciando enquanto minhas mãos encontram sua cintura a puxando para mais perto. Liz suspira entre um beijo e outro e eu sorrio satisfeito quando ela pousa suas mãos em meu peito se apoiando em mim.

Sua língua se entrelaça com a minha e eu solto um grunhindo enquanto subo minhas mãos contornando seu pescoço enquanto mudo a direção do beijo, sinto o seu gosto na ponta da língua e esse gosto reverbera por todo o meu corpo alimentando aos poucos o desejo.

E eu a beijo até que os dois estejam ofegantes

Eu a beijo descontando todos os beijos que não tínhamos dado

Eu a beijo como um homem faminto

- Dante... – ela sussurra e eu puxo seu lábio inferior fazendo com que ela estremeça de encontro a mim – Droga

- O que? – pergunto tão perdido quanto ela

- Acho que você queimou alguns dos meus neurônios – bufo uma risada e a beijo de novo, só porque posso, só porque ela está ali na minha frente com o corpo colado ao meu.

- O sentimento é reciproco meu bem

- Mamãe! – me afasto suavemente de Liz e a vejo piscar os olhos rapidamente olhando ao redor, desço o olhar vendo como seus lábios estão inchados e vermelhos por meus beijos e sorrio. Seu sorriso aparece quando vê Luke correndo em nossa direção e eu arfo surpreso quando ele estende as mãos abraçando tanto a mim quanto a Liz – Sabe o que eu fiz hoje na escola? – ele pergunta e mesmo sem querer nos abaixamos em sincronia para observa-lo

- Espero que nenhuma traquinagem – Liz diz depois de me lançar um sorriso cumplice

- Eu pintei um quadro

- Sério? – ela pergunta pegando a mão dele e confirmando sua história, seus dedos pequenos estão sujos de praticamente todas as cores, mas principalmente de preto

Estranho

- Sim, então eu pintei nossa família

- Vou querer ver como ficou – Liz fala e bate em seu nariz. Luke se vira para mim e sorri

- Eu pintei você lutando no ringue e a gente assistindo

Ah, agora eu entendi a tinta preta

Sorrio bagunçando seu cabelo e me inclino

- Tenho certeza que ficou muito bonito

- A professora disse que ficou bonito e que eu deveria trazer o quadro para que todo mundo assinasse atrás – Luke diz de forma inocente e eu recebo um olhar enviesado de Liz

- De todo mundo ou só de Dante? – ela pergunta ironicamente e eu bato em seu ombro brincando. Ela ri ainda mais e eu lanço uma piscadinha para Luke que entende e começa a fazer cosquinha na mãe, seguro-a no meu peito para que ela não caia e vejo Luke gargalhar quando ela começa a devolver as cosquinhas.

Dou risada e me esquivo para longe quando ela lança suas mãos para cima de mim. Nossas risadas cobrem a rua e eu me pego pensando que nunca na minha vida eu teria pensando que estaria aqui

Durantes os meses que passei em Madrid nunca me senti realmente em casa, mas incrivelmente foi com os braços em torno de Luke e Annelise que me senti em casa, não mais sozinho.

E de jeito nenhum eu deixaria que quem quer que tenha machucado Liz saísse impune.

Eu revidaria o que ele tinha feito.

A Mentira PerfeitaOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz