Perdido e encontrado, feridas antigas não doem como as novas

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O barulho da chuva contra a janela do seu quarto foi o que despertou Itachi naquele domingo, um dos poucos dias sem grandes responsabilidades para ele. Ele olhou para o teto tingido de uma nuance fraca de amarelo como a areia do mar e devagar lembrando que hoje seus pais iriam sair no dia do encontro mensal ou algo assim, e ele precisava levar Sasuke para a casa de Naruto.

Itachi lembrou também que era o aniversário de Shisui e seu primo ganhou uma festa num salão de eventos fora da base militar onde moravam. Ele já tinha avisado que não poderia ir, usando o encontro dos seus pais como desculpa, embora a verdade fosse que ele não queria estar no meio de um monte de pessoas sem ser capaz de se divertir como elas.

Shisui entendeu pois era o único que sabia que Yuruzu e Yuzuki estavam se empenhando em tirar sua paz. Quando o mais velho queria alguma coisa, o mais novo era pressionado até que pedisse a ajuda de Itachi.

Na única vez que ele negou ajudar, Yuzuki apareceu na escola cheio de machucados e Itachi não teve coragem de negar outra vez.

Ele soltou o ar e fechou os olhos, querendo dormir e nunca mais sair daquele quarto, quase dormindo outra vez até que batidas em sua porta o despertaram. Itachi viu com os olhos embaçados seus pais entrarem no quarto.

-Desculpe te acordar cedo, filho - Mikoto se aproximou da cama dele - Nós ja estamos saindo.

-Tudo bem - Itachi coçou os olhos e sentou na cama - Sasuke acordou?

-Sasuke está tomando café já, é só você levar ele na casa do Minato e você pode voltar a dormir.

Ele acenou e sua mãe beijou sua testa para sair, já o seu pai ficou parado perto da porta, hesitando em sair.

-Está tudo bem com você, Itachi?

-Sim, eu só estou cansado.

Não era mentira, ele estava mesmo cansado em vários sentidos, cansado também de ouvir essa pergunta e não poder dizer a verdade ou pedir ajuda. Itachi só teve coragem de olhar no rosto do pai depois que respondeu, encontrando a mesma expressão impassível de sempre.

-O campeonato nacional está se aproximando, certo? - Itachi assentiu e Fugaku continuou - Tente não se esforçar demais, atletas também precisam descansar.

-Farei isso.

Fugaku acenou e se despediu dele, o deixando com um grande vazio. Itachi não tinha uma estima tão baixa ainda, não ao ponto de achar que seu pai não se preocupava com ele, ele tinha certeza que o caso não era esse. Sua família tinha essa característica dominante, eram diretos e reservados, aparentando desinteresse, não só seu pai como o irmão dele e os avós são assim. O sentimento deles é forte, ele não tinha dúvidas, mas são pouco demonstrados.

Se fosse para exemplificar, ele diria que era como o fluxo constante de magma, oculto por uma montanha alta e inalcançável, suprimida por várias e várias camadas de solo rochoso, mas ainda vivo e intenso, apenas incapaz de subir à superfície sem uma grande pressão.

Itachi não conseguia se encaixar direito naquela forma silenciosa de amar, ele sentia seu interior exigindo liberdade, mas ele tinha medo de não conseguir retomar o controle e machucar as pessoas na sua volta, então diariamente ele suprimiu todas suas emoções, por ter medo.

O problema é que sempre que via Naruto e sua família o magma de emoções se agitava dentro dele, mais perto do limite, mais perto de escapar, de machucar.

Depois que parou na porta de Naruto com o irmão ao seu lado, não foi necessário apertar a campainha pois o garoto saiu correndo ao encontro deles, na verdade, se escondendo atrás dele, agarrado a sua camisa.

A Estrela da SolidãoWhere stories live. Discover now