as pequenas coisas - part 2

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Domingo, 21 de setembro de 1975

Naquela manhã, quando amanheceu, Sirius foi o primeiro a se levantar, o cabelo bagunçado em um coque, vestindo uma camisa de banda trouxa, brincos acorrentados, jeans rasgados e doc. Ele praticamente acelerou o café da manhã, esperou muito impaciente, sabendo que Remus não iria acordar até o meio-dia, então pulou o almoço para poder seguir em direção à Ala Hospitalar.

Depois de protelar um pouco da Madame Pomfrey, Sirius foi autorizado a entrar com a promessa de que seria, "mais silencioso que um rato", o que ele seguiu fechando os lábios e jogando a chave fora.

Remus estava dormindo profundamente em uma cama, as feições suavizaram agora que ele estava inconsciente. Ele tinha alguma novas cicatrizes que foram remendadas; um em seu ombro, um segundo em sua orelha e a terceira em sua bochecha. Seu peito mal se levantou e os lábios estavam tingidos de azul, manchas de sangue seco deixadas em sua pele, que estava mais pálida que um fantasma. De longe, sua pele opaca e corpo sem vida poderiam ser confundidos com um morto.

Enquanto Sirius olhava para seu amigo doente, em vez de enfrentar um desgosto doloroso, ele apenas sentiu raiva. Ele odiava vê-lo assim, tão...imóvel, vulnerável, sozinho. Bem, ele não estava sozinho agora. Sirius se certificou de que estará sempre lá antes que Remus tivesse a chance de abrir os olhos. A solidão era uma coisa comum com as quais muitos se preocupavam em conviver, Sirius sabia, ele viveu com isso a vida inteira. Era praticamente sua sombra. Mas ele nunca permitiria que Remus provasse aquela depressão, nunca.

Sentando-se em uma cadeira ao lado da cama, Sirius observou cuidadosamente aquele garoto enquanto ele dormia. Ele foi se quebrando aos poucos quando viu sangue fresco sair das bandagens de Remus e seu corpo frágil mais lento. Pelo menos ele não está sozinho.

Não demorou muito para que James e Peter subissem, cumprimentando Sirius com um aceno silencioso, James carregando algumas guloseimas para Remus, e Peter segurando um cartão malfeito que ele exibiu na mesa de cabeceira dos meninos.

Eles chegaram bem a tempo quando Remus começou a se mexes em seu sono, os olhos se movendo lentamente sob suas pálpebras, estremecendo com a forte luz do sol. Sirius esperou pacientemente enquanto seu amigo começava a acordar, as pestanas se abrindo e os dedos ossudos se contraindo levemente. Ele se esticou, mas estremeceu, o que fez o estômago de Sirius apertar. Logo um sorriso suave torceu os cantos dos lábios de Remus enquanto seus olhos passavam por seus amigos.

"Está ficando um pouco assustador com vocês olhando para mim quando acordo," ele murmurou, a voz rouca e seca. Sirius instintivamente lhe entregou um copo d'água, que ele aceitou com gratidão e bebeu em três grandes goles.

"Não podemos evitar," James deu de ombros com um sorriso arrogante. "Você é muito irresistível para olhar."

"Cai fora," Remus riu, a voz ainda tensa.

"Como você se sente?" Sirius perguntou, percebendo sua hesitação quando ele tentou se mover.

"Como merda, mas o que há de novo?" ele respondeu com indiferença.

Sirius sempre respeitou a honestidade brutal de Remus, mas às vezes ele sentia que o garoto brincava sobre sua dor como uma forma de minimizar o quanto ela doía.

"Trouxe um pouco de chocolate para você", disse James enquanto entregava ao menino alguns sapos de chocolate.

Remus sorriu, "Saúde,
companheiro."

Eles sentaram e brincaram por um tempo, Remus insistindo para que os outros comessem alguns petiscos, o que James respondeu dizendo, "Moony, trouxemos para você, agora para de tentar ser um anjo de merda e coma, seu merda."

Remus apenas mostrou o dedo do meio para ele e mexeu no embrulho. Sirius percebe que ele nunca comida muito nas noites que iam mal, era uma revelação. Ele notou muitos sinais ao longo de seus anos e escreveu todos eles para que nunca esquecesse.

1. Se Moony não comer, isso significa que a transformação foi ruim, mas quando ele está com fome, isso significa que correu bem.

2. Se Moony esconde seus estremecimentos, isso significa que ele está com dor (MUITA DOR)

3. Se Moony não sorrir, isso significa que uma merda aconteceu e ele precisa de conforto.

4. Se ou quando Moony aparecer bem, então ele realmente está bem e eu posso parar de adicionar algo nessa porra de lista.

Sirius ainda estava esperando que o 4 acontecer, mas só o tempo diria.

Logo, Pomfrey os conduziu para fora. "Ele precisa de descanso, garotos," ela lembrou estritamente, indo até Remus enquanto afofava seu travesseiro, checava suas feridas e pegava o pacote de chocolates que estava espalhado em seus lençóis.

Sirius se levantou e saiu das cortinas fechadas com James e Peter, mas deu a Remus um último olhar tímido. O menino olhou para trás e deu um sorriso cansado. O sorriso de Moony. Sirius amou o sorriso de Moony.

Ele deu a Remus um pequeno aceno antes de sair.

***

"Precisamos mudar essa coisa toda de animagos."

"Não há nada que possamos fazer até a próxima lua cheia."

"Isso, a menos que eu não engula a folha antes disso."

"Você não vai engolir, Pete."

"Você diz isso agora."

Sirius caminhou impacientemente ao longo do dormitório deles, sua mente fervilhando com as ideias sobre como ajudar Remus. Cada mês que passava era mais um mês em que ele tinha que sentir dor, sem ninguém para ajuda-lo. Remus não deveria ficar sozinho na noite mais assustadora de sua vida, Sirius não permitiria.

"Sirius, cara, sente-se," James relaxou.

Mas Sirius não conseguia se sentar, ele não podia apenas sentar e esperar, ele tinha que fazer alguma coisa. Ele passou a vida inteira esperando; esperando por uma oportunidade de escapar, esperando por alguém para salvá-lo, esperando que sua família se importasse. Eventualmente, Sirius percebeu que esperar não fazia absolutamente nada, era para os fracos e incapazes.

James havia se levantado, colocando uma mão gentil no ombro de Sirius, seu toque simples parecendo deixar o mundo agitado um pouco mais claro.

"Não podemos simplesmente- não podemos ficar aqui e não fazer nada!" Sirius gritou. Emoções inesperadas começaram a se agitar dentro dele e sufocar suas palavras, mas ele as empurrou para baixo, muito, muito para baixo. "Você o viu, Remus, não é? James, ele parecia praticamente morto! Enquanto estamos aqui, ele- ele está lá, ele está sofrendo-"

"Sirius," James sussurrou, sua voz tranquilizadora. Ele sempre se perguntou como James conseguia silenciar alguém tão rapidamente, tirar as palavras da boca deles antes que eles tivessem a chance de termina-las. Um presente passado de sua mãe. "Estamos trabalhando nisso há três anos, não é como se estivéssemos fazendo nada."

"Mas Remus vai-"

"Remus ficará bem por enquanto. Ele é forte, mas não podemos perder o foco no assunto em questão." James estava certo e Sirius odiava admitir. "Temos que passar este mês sem contratempos," anunciou. "E isso significa não engolir a folha-" James se virou para Peter, "–e não se preocupar com o que está por vir.." Ele se virou para Sirius e cumprimentou com aqueles olhos azuis claros e carinhosos. "Nós chegaremos lá quando chegarmos lá."

Sirius suspirou, então acenou com a cabeça, aceitando a verdade hostil. Chegaremos lá quando chegarmos.

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⏰ Última atualização: Sep 22, 2021 ⏰

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See The Rainbows In My Eyes // Tradução // WolfstarOnde histórias criam vida. Descubra agora