Capítulo 1

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Dias atuais...

Catarina de Albuquerque

Finalizei a última etapa do preparo dos docinhos e os coloquei na geladeira. Há pouco mais de um ano, achei na internet uma receita de um famoso doce brasileiro, conhecido como brigadeiro, e tive uma grande ideia. Desde então, vinha trabalhando com muitas encomendas que faziam sucesso pelo bairro em que eu morava.

Além do tradicional com leite condensado, chocolate em pó e manteiga, eu também fazia o tal brigadeiro branco, assim como os dois misturados, e em alguns casos, de acordo com os pedidos, acrescentava frutas no meio, como uvas ou morangos.

Minha intenção com as vendas seria usar parte do dinheiro que eu recebia para ajudar nas despesas de casa, o que foi expressamente proibido pelo meu avô. Com o passar dos anos, aprendi que não era fácil sustentar uma casa com três pessoas e mais um cachorrinho, ainda mais na idade em que ele estava. No entanto, ele e a vovó não aceitavam minha ajuda de jeito nenhum.

Então, passei a guardar todo o lucro das vendas de docinhos, que apesar de não ser muito, já era alguma coisa, para um dia começar minha almejada faculdade. Poderia demorar o tempo que fosse, mas um dia eu me formaria com honras. Eu devia isso aos meus pais e aos meus avós.

Eu não fazia coisas que a maioria dos adolescentes faziam, como sair com os amigos, ir ao cinema, paquerar... pois além de ter sido criada por avós extremamente conservadores e protetores, sempre fui reservada e um pouco tímida. Não gostava muito de tumultos ou festas, não estava acostumada. Eu tinha outros planos para a minha vida, não havia espaço para esse tipo de coisa.

Como eu tinha recém-concluído os estudos no ensino médio, fazia as encomendas durante o dia, e passava as noites em claro desenhando os meus vestidos de noiva. Eu desenhava outros modelos de roupas também, mas depois que descobri minha verdadeira paixão, resolvi priorizá-las. E diferente dos meus desenhos de anos atrás, agora eu já tinha lápis e papéis próprios para fazer os croquis, o que tornavam meus mais de cem esboços, muito mais realistas.

E assim que eu completasse meus dezoito anos, que seria em breve, procuraria um emprego formal, já que nenhuma empresa das quais entreguei currículos me contratou por ainda ser menor de idade. Meus pais deixaram algumas economias em uma conta poupança que eu teria acesso quando atingisse a maioridade. Também não era muito, mas juntando esse valor com os pequenos lucros dos docinhos e mais um salário fixo, meu sonho ficaria muito mais perto de ser realizado.

Tudo estaria se encaminhando perfeitamente bem se não fosse o aperto esquisito que estava sentindo no meu coração, desde que vovó passou mal, há quase um mês. Estávamos muito preocupados com os resultados dos exames, principalmente após a médica solicitar uma consulta com urgência.

O clima em nossa casa estava tenso, e apesar disso, eu tentava me manter forte por eles, mesmo que estivesse muito preocupada. Vovô Afonso estava cada dia mais abatido e mal conseguia sorrir de maneira sincera. Embora tentasse fazer parecer que estava tudo certo, eu sabia que alguma coisa, além da saúde da vovó, o incomodava. Sempre fui muito observadora, desde pequenininha. Não sabia o que era, mas daria um jeito de descobrir.

Enquanto lavava a louça, escutei o barulho da porta e avistei meus avós chegando da consulta. Meu coração falhou uma batida ao ver suas expressões cansadas e tristes.

— Vovô, vovó... — Sequei minhas mãos e fui até eles.

— Oi, querida — vovó respondeu com um sorriso que não alcançou seus olhos.

— Como foi a consulta? Está tudo bem, não está? — perguntei, ansiosa e meu avô me fitou.

— Filha...

[DEGUSTAÇÃO] Protegida pelo CEOWhere stories live. Discover now