Capítulo 3

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Catarina de Albuquerque

Três semanas haviam se passado desde o falecimento do vovô. A dor em nossos corações ainda era imensa, principalmente porque não esperávamos que ele se fosse tão repentinamente, após um infarto fulminante.

Havíamos ficado sem chão, mas, aos pouquinhos, estávamos nos reerguendo. E eu, tirei forças de onde nem sabia que existia para cuidar da minha avó, que embora também tentasse demonstrar força, estava abalada demais por perder seu companheiro.

Ainda faltava pouco mais de um mês para que eu completasse dezoito anos, contudo, eu precisava encontrar um emprego o quanto antes. Minha maior preocupação no momento era poder suprir os cuidados com a vovó, caso a sua doença se agravasse e ela precisasse de maiores cuidados. E pagar as contas também.

Eu estava fazendo docinhos dia e noite, mas não era o suficiente. Deixei o luto guardadinho dentro de mim e saí cedo de casa, disposta a encontrar um trabalho. Prometi a mim mesma que eu não voltaria desempregada.

O ônibus me deixou em frente à Indústria Bragança, uma empresa que eu já havia entregado meu currículo há algum tempo. Resolvi começar minhas tentativas por ela mais uma vez. Se não desse certo, iria para outra empresa, e assim por diante. Eu tinha o dia inteiro para isso.

Entrei na recepção e observei, de imediato, que era cercada por seguranças. Não era para menos, o ambiente era simplesmente lindo e bem suntuoso. Desde a parede, pintada em um tom grafite que parecia cimento, os móveis bem desenhados em tons de branco e preto e os objetos decorativos, como quadros e plantas.

Ao mesmo tempo em que fiquei encantada, me senti insegura e tímida. Certamente eles não contratariam alguém sem experiência. Pensei em sair dali imediatamente, mas me lembrei que não poderia. Eu precisava ao menos tentar.

— Pois não, senhorita? — Uma voz suave me tirou dos meus devaneios.

— Oi, bom dia! — cumprimentei a recepcionista simpática.

— Bom dia! Em que posso ajudá-la?

— Gostaria de entregar o meu currículo, e, se possível, conversar com alguém do setor de contratações.

— Posso ficar com ele, e se tivermos alguma vaga que se encaixe no seu perfil, entraremos em contato — respondeu, solícita.

— Aqui está. — Entreguei o papel. — Perdoe a minha insistência, mas eu preciso muito de um emprego — insisti.

— Você ainda não tem dezoito anos — disse, analisando meu currículo.

— Completarei no próximo mês. Eu aceito qualquer vaga disponível, por favor... não posso esperar até o meu aniversário.

— O que está acontecendo? — Escutei uma voz feminina e virei meu rosto.

Avistei uma senhora alta, magra e muito elegante. Ela usava um terninho em tom creme que parecia feito sob medida. O cabelo dourado, cortado até a altura dos ombros estava intacto. Seus olhos azuis-cristalinos me fitaram, curiosos, quando me deu um sorriso cordial.

— Bom dia, senhora Carmen! Essa senhorita veio entregar um currículo e gostaria de conversar com o setor responsável — a recepcionista respondeu, e, pela sua postura, percebi que Carmen era alguém importante na empresa.

— Senhora Carmen, me chamo Catarina de Albuquerque — falei, estendendo minha mão para cumprimentá-la.

— Olá, Catarina. Seja bem-vinda! — me cumprimentou de volta. — Querida, me dê o currículo, por favor. — A recepcionista entregou-o e pediu licença, retirando-se.

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