Pulseiras

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O silêncio se fez presente no auditório após as últimas palavras ditas por Levi. Um silêncio ensurdecedor. Ninguém esperava pelo beijo, muito menos pela pequena revelação de que Rivaille estava se demitindo.

O maestro abriu e fechou a boca algumas vezes, sem palavras para tudo aquilo que havia acabado de acontecer. Levi olhou para Eren, que estava de olhos arregalados, mas em momento algum deixou de segurar sua mão, pelo contrário, estava apertando-a com força como se estivesse ao seu lado e lhe dando todo o apoio necessário. Apertou mais a mão do mais novo também e olhou de relance para Marlo, que fez um sinal com a cabeça para que ele continuasse com aquilo quase como se pudesse ler a mente do baixinho.

Suspirou fundo com sua mente raciocinando rapidamente e pegou o microfone mais próximo. Olhou para os repórteres que estavam ali e para os câmeras, olhou para o camarote localizado na galeria do lado direito do teatro e viu as famílias influentes ali, encarando-o com caras fechadas que transmitiam claramente nojo e repulsa.

─ Estão gravando isso? – apontou para uma câmera e o profissional atrás dela apenas assentiu com a cabeça. – Queria que todos que aplaudissem o discurso de segundos atrás soubessem de uma coisa. Desde que o maestro descobriu a minha orientação sexual, ele tem feito ameaças juntamente com as famílias que arcam com os fundos da orquestra. Se é surpresa para vocês, Rivaille Ackerman é gay – apontou para o maestro, para as famílias logo acima e depois para si próprio. – Isso mesmo, esse mesmo maestro que fez esse discurso hipócrita de 'seja válida toda forma de amor' estava me pedindo para escolher entre abafar a minha orientação ou a minha carreira, como se isso interferisse em alguma coisa do meu talento ou do que eu faço aqui.

Essas palavras foram o suficiente para que os cochichos se formassem, com algumas pessoas sacando o celular para filmar, mas Levi pouco se importava com aquilo. Se fosse em outra época, ele jamais falaria aquilo; no entanto, agora tinha a coragem e por quem lutar.

Eren, Armin e Historia encararam Levi no mesmo momento, meio incrédulos com o que estavam ouvindo. Não faziam ideia de que tudo aquilo estava acontecendo com o baixinho. Eren nem sabia o que pensar, principalmente pelo namorado não ter dito absolutamente nada sobre aquilo.

─ Não sou somente eu que passo por isso nesse meio. É tudo muito bonito vendo as apresentações, mas a opressão por conta do preconceito é gigante. Muitos colegas de trabalho sofrem com a mesma coisa, o sistema de famílias ricas e extremamente conservadoras faz com que muitos músicos tenham que ocultar relacionamentos por ameaças de perderem seus empregos devido ao preconceito. É assim que funciona nesse meio, ou fica de boca fechada e infeliz ou vai para a rua, não é? – Levi virou-se para o maestro, que estava vermelho de raiva e ódio.

─ Você não tem como provar essas acusações – e foi o que o maestro rebateu e o Ackerman revirou os olhos, sorrindo sarcástico mais uma vez.

─ Não tenho? Um minuto – Levi bateu no bolso do paletó que usava, pegando o celular e mexeu um pouco. – Isso não foi ideia minha até porque eu não iria usar isso, não tenho interesse em ação judicial, mas eu não vou passar por mentiroso na frente de todos – e dizendo isso, aproximou o microfone do celular explanando uma das várias conversas que teve com o maestro, diante às ameaças e o evidente preconceito pela sua orientação sexual. A ideia a princípio havia sido de Hannes e até que veio a calhar ter gravado uma das conversas.

A maioria das pessoas estavam chocadas com o conteúdo da conversa. Essa não durou muito, mas o suficiente para saberem que era o maestro quem falava e que claramente havia preconceito e ameaça.

─ Quem não tem como provar? – Levi virou-se para o maestro, soltando mais um sorriso sarcástico e virou-se para as câmeras novamente. – Agora digo isso para todos os meus colegas de profissão: vão viver a vida de vocês de forma livre e sem medo. Se não fosse pelos músicos, as orquestras não existiriam. Nossa orientação sexual não interfere no nosso talento ou no que fazemos, ninguém é obrigado a se privar de se relacionar com quem quer que seja por conta de pessoas com a cabeça pequena, isso se existir alguma coisa que não seja vento aí dentro – apontou para o maestro. – Está na hora desse sistema mudar.

O Nosso Fio VermelhoWhere stories live. Discover now