Capítulo 11: Três cabeças.

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Alec ficou em silencio, voltando a cuidar da floresta ao nosso redor com uma expressão que deixava claro que a conversa havia acabado. Engoli em seco, pensando na rainha das estrelas e em como ela havia falado comigo.

—Ei! —Olhei pra cima quando Scarlett voou sobre nós, pairando ao lado do barco enquanto suas asas brancas ficavam abertas e esticadas. —Vi algo mais a frente. Parecia uma lágrima de sangue, mas eu não tenho certeza.

—Mostre o caminho que irei segui-la. —Alec murmurou, e Scarlett assentiu, subindo para o alto de novo, ficando sobre a copa das árvores. Comecei a olhar pela floresta ao redor, com meu coração martelando dentro do peito com a possibilidade de finalmente ir embora dali.

Alec começou a mover o barco com um pouco mais de força e rapidez, parecendo mais ansioso que eu para encontrar aquela flor. Continuei olhando ao redor, avaliando a floresta silenciosa e morta. A chuva aumentou sobre nossas cabeças, fazendo meu cabelo ruivo grudar ao redor do meu rosto.

—É logo ali! —Scarlett exclamou, apontando com o braço a direção que via a possível flor. Me virei naquela direção, apertando a madeira do barco com força enquanto mantinha os olhos em alerta. Pensei em Harry e todos que estavam em Del Mar, sentindo um certo aperto no peito pela saudade. Queria voltar pra eles.

Então eu a vi, um pouco mais a dentro na floresta, rodeado por arbustos mortos e sujos de lama. Uma flor brilhante e viva no meio da escuridão. Suas pétalas, assim como seu caule parecia ser feita de diamante. O mesmo diamante dos olhos de Scarlett e das outras estrelas.

—Está ali. É mesmo uma lágrima de sangue. —Falei, praticamente sem fôlego, enquanto ficava de pé no barco e aguardava Alec se aproximar da faixa de terra. Meu coração acelerou quando Scarlett pousou ali, olhando para a floresta ao redor e depois pra mim.

—Parece que está tudo limpo. —Afirmou, estendendo a mão pra me ajudar a pular do barco para a terra firme. —Você deve pega-lá. Eu não posso e Alec também não.

—Tome cuidado. —Alec afirmou, ficando de pé e puxando uma faca.

Engoli em seco ao ver a lâmina dela e então me virei para a flor, me afastando de Scarlett para mais perto dela. Meus passos eram lentos, apesar da minha ansiedade. A grama morta embaixo de mim farfalhava quando meu pé afundava nela e a floresta ao redor parecia congelada no tempo.

A cada passo mais perto da flor, mais eu ficava ansiosa. Minha respiração se prendeu na minha garganta quando me abaixei entre aqueles arbustos, observando a flor mais de perto. Estendi a mão, tentando desviar dos galhos secos que enroscavam na minha jaqueta, enquanto tentava alcançá-la.

—Sophia, não se mecha. —Scarlett mandou, me fazendo ficar imóvel e olhar pra cima, para o meio das árvores e da escuridão da floresta, enquanto o som da chuva batendo nas folhas deixava tudo com um ar ainda mais sombrio.

Parei de respirar quando encontrei dois olhos imensos e amarelos na escuridão, pertencendo a algo muito, muito grande pelo formato que os olhos tinham. Eu conhecia aquele tipo de olhos, que estavam fixos em mim. Já havia visto algumas vezes, em um tamanho muito menos. Mas ali, no meio da escuridão, eu não conseguia ver o seu tamanho, mas sabia o que era.

—Fique parada! —Scarlett mandou, enquanto meu coração martelava no peito. Tentei ficar imóvel, mas a flor estava a centímetros da minha mão, pronta para ser agarrada. Forcei um pouco meu braço mais para frente. —Sophia!

A coisa no meio da escuridão soltou um chiado, com os olhos ficando maiores e mais em alerta. Meu sangue gelou quando aquela coisa se moveu, se inclinando para fora da escuridão e para mais perto de mim. A cabeça da cobra apareceu primeiro, verde, grande e com uma língua enorme que serpenteava pelo ar. Então apareceu a segunda cabeça e depois a terceira, fazendo meu coração afundar dentro do peito. Era uma cobra enorme de três cabeças, que se ligava a um único corpo grande que serpenteava pelo chão.

—SOPHIA, CORRE! —Alec exclamou, quando a cabeça deu o primeiro bote na minha direção.

Tombei para trás, gritando quando ela engoliu o ar na minha frente. Fiquei de pé e corri na direção do Scarlett, vendo ela criar um arco de magia e atirar uma flecha na direção da cobra. Me abaixei, abraçando minha cabeça com as mãos quando a flecha passou zunindo ao meu lado. Olhei para trás, vendo a flecha atingir uma das três cabeças. A cobra soltou um barulho grotesco, antes de uma das duas outras cabeças morder a flecha e a engolir, livrando a outra.

Scarlett atirou outra flecha, enquanto eu soltava para dentro do barco onde Alec estava e via Scarlett dar um salto para o ar, abrindo as asas e desaparecendo no céu. As cobras dispararam na direção do barco, enquanto Alec o empurrava com toda força que conseguia para nós afastar dali. Vi, como se fosse em câmera lenta, o momento que a cobra passou pela flor e uma das cabeças abocanhou-a. O corpo da cobra se moveu com mais rapidez, ficando maior em segundos, como se a flor a deixasse mais forte e a ajudasse a crescer mais ainda.

—ALEC! —Gritei quando a cobra saltou para dentro da água, afundando naquela escuridão. Me agarrei as laterais do barco quando ele começou a balançar quando o corpo da conta bateu no fundo do barco. —Está embaixo de nós!

A calda da cobra saltou da água, batendo contra o meio do barco e se enrolando nele. Me agarrei com ainda mais força quando o barco começou a ser puxado pela água, antes de começar a virar. Alec agarrou suas coisas e me puxou, abrindo as asas negras no momento que o barco virava e era puxado para o fundo daquele pântano lamacento.

Soltei um grito quando percebi que ele estava subindo e subindo, tão alto quanto Scarlett. Minhas mãos se agarraram aos ombros dele, ou tentaram, porque ele me soltou e eu despenquei. Meu coração parou de bater quando pensei que ia cair sobre aquela água e afundar como o barco. Mas as mãos firmes de Scarlett me pegaram e me prenderam contra si. Abracei os ombros dela, sentindo meu coração chegar a boca.

—O barco já era. —Falou, como se eu não estivesse tendo um ataque do coração naquele momento. —Sophia, você está bem?

—Não! —Exclamei, fechando meus olhos para não ver a altura em que estávamos enquanto ela se afastava pelo céu. —Eu quase consegui, Scar. Estava a centímetros da minha mão. E aquela coisa... aquela coisa engoliu a flor em segundos.

—Eu sei. —Ela disse, pesarosa. —Sinto muito, Sophia. Mas esse é o pântano e nada aqui é mágico e bonito.

Eu sabia disso. Já tinha entendido isso em todos aqueles dias que estava ali. E estava começando a odiar com todas as forças quem quer que tivesse me mandado para aquele lugar.



Continua...

O Reino das Estrelas / Vol. 2Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin