Cinco

48K 3.3K 1.3K
                                    


   

  -Olha aqui...

  < 6789 <

  < 6789 <  

  scola não gosta dela ou a acha forçada demais, mas ela nem percebe e continua no seu pseudo glamour hollywoodiano.

   -Olha, Pri, comigo não precisa se preocupar. Já sei a coreografia todinha. – afirma começando a dançar feito uma doída desengonçada enquanto canta a música.

   Escondo meu rosto no ombro da Bruna pra não rir.

   -Que isso, garota? Está possuída?!

  Ouço alguém perguntar rindo. Levanto meu rosto num segundo, pois sei a quem a voz pertence: P.H.

  -Primo! Você veio!- grita Priscilinha indo abraça-lo.

  Clara para instantaneamente e cruza os braços revoltada pela brincadeira.

  -E aí, meninas!- ele acena correndo o olhar por todo mundo. Apesar disso não parece me notar. Devo ser insignificante demais pra isso. 

   Espero que ao menos minha maquiagem continue inteira já que agora me sinto em pedaços.

   Alguns meninos da nossa turma acabam chegando fazendo a Priscilinha soltar o primo pra dar uma pequena bronca neles pelo atraso. Segundos depois é a Tathi que começa a dar uma bronca nela, mas porque tem que ir embora.

   Priscilinha acaba a liberando e me pergunto se eu também não posso fazer isso. Fingir que tenho hora (o que de certa forma não é mentira) e dar no pé. Mas a ideia só passa por minha cabeça sem sair de minha boca.

   Estamos agora a quase vinte minutos ouvindo Priscilinha falar sobre a dança, a hora em que entraríamos, a roupa que deveríamos experimentar de novo (caso alguém tivesse emagrecido ou engordado) os ensaios (tanto da valsa quanto de Shake it off)... e eu só consigo pensar no quanto P.H. está me ignorando e no quanto vou me ferrar se chegar muito atrasada na casa do meu pai.

   A reunião termina apenas quando alguns alunos do outro turno já estão entrando. Assim que recebo a alforria verbal me levanto pra ir correndo em direção ao bicicletário.

  É quando P.H. me chama.

   Nãããããão!

  -Pera aí, Cléo.

  Ao me virar ele está vindo correndo até mim. Olho nervosa pra Bruna um pouco mais atrás e percebo que ela está dizendo por linguagem labial para eu respirar fundo e fazer cara de esnobe.

    Isso deve ser fácil pra Clara Melo, mas não pra mim.

   -Tá com pressa?- o P.H pergunta me dando dois beijinhos.

  Meu coração acelera. Nem sei como consigo responder.

   -É. Vou dormir no meu pai hoje.

   -Em Copacabana, né?

  Ele ainda lembra...

  -Ahã.

 -Caramba! Agora vendo de perto... Você está bem diferente.

  -Isso é ruim?

  -Não, não, cara. Você está linda. Como sempre, aliás.

   Deus, diz que eu não estou sonhando. Por favor. Mas se eu estou diferente, como posso estar linda como sempre?

  Se bem que ele também está, mesmo tendo cortado o cabelo bem baixinho no estilo Channing Tatum...

  -Ah, obrigada. Pelo visto se bronzeou bastante na Austrália.

   -Fazer o que, né? Fiquei morando em Gold Coast, a terra do surf. Aí já viu. Era praia todo dia.

   -Nem sentiu falta do Brasil, aposto.

  -Ah, a gente sempre sente falta. Certas coisas são inesquecíveis. – ele afirma sorrindo e olhando fundo nos meus olhos.

  Fico sem fala.

  -Mas vai lá. Não vou te prender. Depois a gente bota a conversa em dia. Quero saber tudo que aconteceu no Arpoador enquanto eu estive fora.

  -Claro. –digo eufórica, sem conseguir pensar em qualquer coisa além disso.

  Ao me despedir corro para o bicicletário antes que cometa algum mico. Não sei como destranquei o cadeado da bicicleta nem passei pelo portão do colégio. Estou tão leve que ela me leva pelas ruas com se eu fosse uma pluma ao vento.

  Ao chegar na ciclovia da praia, abro os braços no estilo Cristo Redentor e sigo pedalando sem segurar o guidom. Carros, trânsito, pessoas... Nada importa. Sou como um balão de gás ao sabor da brisa. E mesmo tão perto do chão me sinto no céu. 

Mens@gensOnde histórias criam vida. Descubra agora