capitulo 23

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Sophia

Você é um bebê guloso, sabia?

Eu sorrio, retirando meu peito da boquinha faminta de Alexandre. Ele é um anjinho, com olhos que herdou do pai. Seu rostinho ainda é indefinido, muito pequeno para dizer se puxou mais a mim ou ao pai.

Vicente entra na cozinha com o olhar atento. Aproxima-se com um sorriso, beija minha bochecha e acaricia suavemente a cabeça de Alexandre.

— Como é bom começar o dia com uma visão dessas.

Seu olhar intenso me deixa desconfortável. Eu desvio o olhar, e ele logo percebe, afastando os olhos. Vicente mudou. Não é mais o amigo que eu conhecia; agora ele me observa como um homem que tenta me conquistar, sempre com olhares ou palavras que me deixam sem graça. Apesar de ser encantador, o que muitas mulheres considerariam um sonho, sinto que falta algo. O amigo que eu tinha parece ter sumido.

— Sophia, eu queria te convidar para jantar. O que acha?

Seu olhar se prende ao meu, e eu rapidamente desvio, sentindo o peso da expectativa.

— Desculpa, Vicente. Acho que não é uma boa ideia. Tenho o Alexandre para cuidar...

Vicente sorri de canto, como se já esperasse minha resposta.

— Isso não é um problema, meu anjo. Já organizei tudo. A Vitória disse que adoraria cuidar dele.

Ele parece ansioso, buscando qualquer brecha.

— Vicente, a Vitória tem a Melissa, que acabou de nascer. É difícil cuidar de uma criança, imagina de duas.

Eu minto. Sei bem que essas duas crianças são tranquilas. Na verdade, essa é a terceira vez que ele me faz esse convite, e estou fugindo de algo que não sei se estou pronta para encarar.

Ele suspira, visivelmente triste.

— Tudo bem, então.

Vicente pega as chaves do carro e sai, deixando no ar uma mistura de frustração e expectativa.

Respiro fundo. Sinto que estou apenas prolongando o inevitável quando se trata de Vicente. Eu o deixei acreditar em algo que talvez eu não possa corresponder, e agora me vejo fugindo, o que me faz sentir fraca.

O dia se arrasta devagar. Vou até o quarto de Enrico, e a enfermeira se retira ao me ver, deixando-me sozinha com ele. Desde que tudo aconteceu, sempre há um médico e uma enfermeira à disposição, prontos para agir. Eles têm até um dormitório aqui. Olho para Enrico e, se não fosse pelos aparelhos ao redor, poderia acreditar que ele está apenas dormindo. Está mais magro, e a cabeça raspada revela os dispositivos que monitoram sua atividade cerebral.

Pouco depois, o Dr. Ernandes entra no quarto.

— Boa tarde, senhorita Sophia. Vim checar como ele está.

Ele pega sua prancheta e faz algumas anotações enquanto eu reúno coragem para fazer a pergunta que me atormenta.

— Dr. Ernandes, o senhor acha que ele vai acordar algum dia?

O médico suspira, como quem já ouviu essa pergunta muitas vezes, e me dá um sorriso ameno.

— Em meus quase trinta anos de prática, já vi muitas coisas acontecerem, Sophia. Como médico, baseio-me na ciência, mas sei que às vezes acontecem coisas que não conseguimos explicar. Milagres? Talvez. Já presenciei situações que desafiam a lógica, mas não posso lhe dar certezas.

— Eu tenho tanto medo de que ele nunca acorde...

Minha voz fraqueja.

— Nessa situação, o melhor que posso aconselhar é que você não se concentre demais em esperar. Isso pode se tornar um fardo emocional muito pesado.

Doce Aluna~Triângulo  De DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora