Almoço de Negócios

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Alana o percebeu novamente. Era o terceiro dia seguido em que ele estava lá, sentado na mesma mesa do caro restaurante. Pela terceira vez, ele fez contato visual. Como todas as reuniões eram marcadas naquele hotel da Avenida Paulista, chegou à conclusão de que deveria ser um hóspede.

Voltou-se para o homem à sua frente e quase teve que pedir para ele repetir a pergunta. Sua missão ali era convencer o executivo que a opção mais rentável era vender sua companhia, antes que ela declarasse a  falência. Argumentou mais uma vez, ainda que o homem tivesse o olhar mais voltado aos seus seios do que para o seu rosto. Ela percebia, mas não chegava a se chatear, já estava acostumada como tipos como aquele. Afinal, não era todos os dias em que se via uma mulher negra, jovem e bonita como diretora de operações de uma multinacional.

- E qual é valor que me oferecem? – o executivo, um senhor baixo e pesado praticamente bufou.

"Eu não deveria estar aqui", ela pensou, entre um sorriso  e o outro. Na realidade ela estava cobrindo um buraco na empresa. Desde que o diretor de vendas fora afastado, ela estava indo às reuniões. O presidente da empresa confiava muito na sua habilidade de negociação, por isso, enquanto ninguém chegava para ocupar o lugar, ela ia ficando. E nisso já se iam sete meses.

Estava exausta. Sete meses sem vida pessoal, totalmente dedicada à empresa. Seu namoro não resistiu a esta rotina e agora, por mais que estivesse ganhando muito bem, sua vida pessoal estava mergulhada em um abismo. Fora duro ter que se acostumar a dormir sozinha.

Alana rabiscou um valor em um guardanapo e o estendeu para o homem.

- É o máximo que estamos dispostos a pagar.

O executivo tocou sua mão, antes de apanhar o papel, fazendo com que Alana se contivesse para não revirar os olhos como queria. Retirou sua mão rapidamente, enquanto o homem analisava o valor em silêncio.

A algumas mesas atrás, o estranho fez contato visual e ergueu uma taça para ela. Alana quis desviar o olhar, mas não conseguiu, não por ele ser bonito – muito bonito, por sinal – mas por conta do seu jeito ousado, afinal ele estava flertando com uma mulher acompanhada. O homem sentado com ela podia ser seu marido... Alana odiou o pensamento, nem sob o efeito de drogas ficaria com um tipo como aqueles.

- Isso é aviltante. É uma empresa de família! Esse valor não paga minha história...

- Por ser um negócio de família, estou colocando dois zeros a mais aí do que ela realmente vale – Alana tentou não ser dura, mas não conseguiu, o homem sentiu-se ofendido.

- Pois, coloque mais um zero  - exigiu, erguendo o queixo – Só que nesta negociação. Porque ela termina aqui – empurrou a cadeira e levantou-se – Agora se me der licença, vou embora, porque perdi o apetite. Sua empresa quer acabar com a minha vida e me mandam você para me oferecer minha última refeição – disse irônico – Adoraria que o banquete fosse servido em outro lugar que não aqui, como sei que isso também não acontecerá, tenha uma boa tarde – e retirou-se, quase esbarrando no garçom.

"Só faltava essa! Levar uma cantada dessa qualidade e não saber se a venda será fechada ou não", ela pensou, suspirando.

- Senhorita, quer fazer o pedido? – o garçom perguntou sem graça.

Alana fez um pedido leve, também havia perdido o apetite com aquela saída deselegante e repentina. Fechou os olhos, imaginando que seria bom se o dia acabasse ali, sem precisar voltar para a empresa e relatar seu semi fracasso. Quando abriu os olhos, olhou na direção em que estava o estranho e percebeu que ele não estava ali. Suspirou novamente, um tanto frustrada, nem um flerte a distância conseguia manter.

FugazWhere stories live. Discover now