O Baile de Trinta Dias

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Naquele dia Namjoon tinha acordado bastante cansado, sem muita vontade de interagir com quem quer que fosse. Poderia dizer que seu estado se devia ao fato de estar treinando à exaustão a entrada, as danças e demais atos que precisaria performar ao lado do marido na festa idealizada pela Rainha; e, em parte, estaria correta a colocação. No entanto, ele conhecia bem seu corpo, e sabia que todo aquele cansaço, por certo, significava outra coisa. Sentir-se cansado não era um incômodo isolado; estava sentindo, também, leves dores de cabeça e na região do ventre, assim como um pouco de insônia e um nível curioso de carência. Seus períodos estavam próximos, e nessa fase, tudo era difícil e complicado para ele.

Em Ilsan, quando se encontrava assim, podia apenas se isolar e fingir que não existia mais ninguém no palácio. Não tinha obrigações com pessoa alguma que não fosse seus pais e o irmão, e eles não costumavam se importar com sua reclusão. Ali em Gwacheon, contudo, era esposo do futuro Rei. Não tinha liberdade de se dar ao luxo de remoer a própria indisposição. Era preciso "fazer sala" para os membros da Corte, ser agradável com a Rainha e a Rainha Consorte, estar disponível sempre que o esposo o solicitava. Tinha que ser o melhor companheiro que Seokjin poderia ter, e o Príncipe Consorte mais adorável. Especialmente naquele dia, em que a tal festa de comemoração aos seus trinta dias de casado seria realizada.

A princípio, tinha achado a ideia interessante. Um baile para celebrar trinta dias de casamento era algo inédito, e, em verdade, não parecia haver nada errado numa decisão como aquela. Excetuando a clara falta de entusiasmo de Seokjin, era uma iniciativa positiva, em sua opinião. Entretanto, após perceber, dois dias atrás, os sintomas de que seus períodos estavam a caminho, desejou com todas as forças que Seokjin tivesse se oposto com maior veemência à ideia da mãe. Seu esposo, porém, apesar de alfa puro, não tinha um comportamento indesejado, como lhe ensinaram que seria o provável nessa situação, e ele não foi além dos limites aceitáveis. O que tinha resultado na confirmação da festa a qual ele preferia não ter que participar.

Seokjin era um alfa bastante diferente do que lhe disseram que ele seria, e isso incluía ser obediente e calmo, qualidades que gostava, mas nunca esperara encontrar em alguém com seus genes. Talvez, naquela manhã em específico, tivesse gostado que Seokjin fosse exatamente como lhe informaram que um alfa lúpus seria: arrogante, autoritário e um bocado egoísta. Mas Seokjin tinha um jeito de ser bastante dócil e polido na maior parte do tempo, e Namjoon sabia que preferia isto a ter se casado com alguém exatamente igual ao que lhe disseram que seria.

"Alfas lúpus são a pior espécie, Namjoon", Yoongi lhe dizia sempre, em toda a oportunidade que tinha. "Se eu fosse tu, jamais aceitaria me casar com um." Seu pai, quando o aconselhava, não ia tão longe quanto o irmão, mas sempre ressaltava o quanto um alfa da espécie de Seokjin poderia ter um gênio forte e ser um bocado abrupto, controlador, possessivo e dominador. "Obedece sempre, cede quando solicitado e não faz questionamentos. Tu não queres enfurecer teu marido", seu pai dizia. Mas Seokjin era controlado, não o dominava nem tentava delimitar seus passos. Seokjin conversava de forma suave, ria de suas colocações incomuns e se interessava em saber como tinha sido seu dia. Mesmo com suas ausências estranhas e ainda que se recusasse a tocá-lo até o presente momento, Seokjin se importava com ele de um jeito que não lhe disseram que aconteceria.

Namjoon gostava de Seokjin do exato jeito que ele era, gostava de verdade. Uma vez ou outra poderia querer que ele fosse diferente, mais previsível e instintivo, menos autoconsciente e apreciativo, porém, no fundo entendia que não trocaria seu alfa por nenhum outro, nem pediria que ele mudasse, se tivesse a chance. Isso tinha vantagens, tornava a convivência mais harmônica e a transição de Príncipe de Ilsan para Príncipe Consorte de Gwacheon menos dolorosa. Todavia, também tinha desvantagens, como seguir intocado, sem saber como era uma vida conjugal, e ter que se prestar a participar de uma festa que, quem sabe, teria sido evitada se Seokjin fosse um pouco mais enérgico.

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