CAPÍTULO 1

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Cidade de York, 1810.

Angústia. Era isso que a jovem Beatrice Birtwhistle sentia em seu peito enquanto Rosalind, sua acompanhante, arrumava sua mala. A jovem, no auge de seus vinte e dois anos, se sentia impotente, incapaz de controlar a própria vida devido a um acordo feito quando sequer entendia como era ser gente.

— A senhorita gostaria de levar algo a mais? Alguma joia ou acessório? — perguntou a jovem de cabelos negros e pele cor de oliva, aguardando pela ordem.

— Minha vontade de fazer essa viagem deve caber na mala. Ah, claro, ela não existe — murmurou Beatrice, definitivamente sem um pingo de animação.

— Não deveria ter pensamentos tão negativos, afinal, se tornar Condessa não deve ser algo tão ruim. Castelos, mansões e todas as jóias que quiser não são bem um castigo.

Ambas sempre tiveram muita afinidade uma com a outra, por isso Rosalind se sentia tão à vontade para falar daquela forma com sua senhoria.

— Não são tais coisas que me farão sentir estar em lugar algum além do inferno.

Beatrice se levantou aos suspiros e bufadas, indo até a janela do quarto, tendo a vista do enorme jardim à sua frente. Sentiria falta de Spring Hall, mas esperava que seu indesejável futuro marido a permitisse voltar para visitar sua mãe e passar o verão.

— Tenho certeza de que não será tão ruim.

Embora a acompanhante não medisse esforços para animar a Lady, Beatrice seguia indubitavelmente irredutível quanto a sua decisão de jamais amar o homem que viria a ser seu marido.

— Já deveria saber que nada que vier de um casamento sem amor me fará feliz, então, por quê ainda insiste?

Rosalind apenas esboçou um sorriso fraco para a dama enquanto mantinha o olhar firme nos dela.

— Não sou nada, M'lady. Os homens não me cortejam, não vou a bailes e nem a jantares com a intenção de conseguir um casamento vantajoso, não vivo rodeada de jóias nem de seda... A senhorita conseguiu tudo isso apenas por estar viva, e ainda tem um noivo com um título nobre que está a esperando em Londres. Não sabe a sorte que tem...

Beatrice se calou e assim permaneceu por longos segundos após a fala de sua acompanhante. Jamais havia pensado daquela forma, jamais se viu como uma dama sortuda e não começou a pensar assim depois do breve sermão, mas tinha total empatia por Rosalind, mesmo que a mesma não precisasse de tal.

— É melhor irmos logo antes que minha mãe me arraste até Londres pelos cabelos — comentou, dando uma bufada breve antes de seguir para fora do quarto que lhe trouxera tantos momentos divertidos e, bem, alguns nem tanto. Sequer deu uma última olhada no cômodo com medo de não querer sair dali nunca mais. Precisava enfrentar seu destino o quanto antes.

Talvez não fosse tão infeliz.

— Santo Deus, achei que teria que arrastá-la pelos cabelos! — exclamou Vivian, a matriarca, com as mãos na cintura e os olhos verdes reluzindo em algo que parecia ser ânimo.

— Mamãe, não seja tão dramática. Não combina com você. — comentou a jovem de fios dourados, tais quais os de sua mãe, já descendo as escadas na companhia de Rosalind.

— Eu sei, mas não custa tentar.

Realmente, ninguém discordava da beleza e leveza da ex-duquesa de York; sempre educada, calma e serena mesmo após a morte trágica do marido. Há quem diga que a dama sequer chorou no enterro do amado e, de fato, nenhuma lágrima rolou perante os olhos julgadores da sociedade. Foi apenas ao se mudarem definitivamente para Spring Hall que todas as lágrimas que segurou durante os dias de tormento tiveram permissão de rolar, e assim foi por três longos dias, até não restar mais nenhuma gota de tristeza. Apenas seu peito ficou parcialmente vazio, pois metade de seu coração estava enterrado a sete palmos abaixo do chão, junto com seu Richard.

Lady de Yorkحيث تعيش القصص. اكتشف الآن