estou flutuando entre a multidão - e meu rosto parece um ponto de interrogação
existem dias em que eu me sinto tão vazia que consigo ouvir o eco reverberando e desaparecendo dentro do meu próprio corpo
dias como esses, em que sinto como se não estivesse viva deixo-me se contornada por uma espécie de dormência
quase como se estivesse oca
e as vezes, eu consigo aguentar por vários dias [até semanas]. esse não existir, mantendo-me nesse vácuo de existência e sentimentos
permitindo que minha essência se derrame e flutue por todo lugar, [exceto dentro de mim mesma]
o problema é que, com o passar dos dias, as coisas ao meu redor também tornam-se vazias e sem sentido.
e quando isso acontece, sei que preciso voltar. me encarar e não mais vazar.
então como que por obrigação, torturo a mim mesma. compulsivamente e quase que obsessivamente sussurro várias vezes ao meu espírito viajante o quão medíocre eu sou
continuo repetindo até fazer efeito, até que sinta novamente.
perfurando a mim mesma, até que a dor venha.
deixando-me novamente ser preenchida pela tristeza. já que sem ela, eu não existo.
nunca mais vou escrever como antes, talvez seja um eufemismo dizer isso, mas nesse exato momento é como me sinto. e isso me dói um pouco. como ossos quebrados que se curaram de forma irregular.
todos os meus textos, cartas, poemas e contos que escrevi no auge da minha pré adolescência eram legais e reais. juntei minhas palavras como se estivesse contando um conto de fadas trágico, delicado e fraturado, jurando a mim mesma que sabia o significado de estar triste, de me sentir deprimida. mas eu estava enganada.
não que eu esteja autoinvalidando minha tristeza adolescente, foi sim trágico.
mas em algum momento ao longo e curto caminho da minha vida eu percebi que não queria mais escrever só sobre minhas infelicidades. eu queria ser feliz e escrever sobre momentos que me deixassem com o coração cheio e explodindo de amor.
então, minha escrita tinha parado de ser trágica. deixou de ser sobre meus fracassos adolescentes e passou a ser sobre outras coisas. coisas que me faziam uma pessoa comum. e eu parei de compartilhar.
porque não era mais tão belo textualmente falando, tão etéreo, sempre cruzando aquela linha entre o cair e o voar. mas eu estava muito bem com isso, com minha escrita tranquila. com uma vida amena.
eu podia viver com aquilo. com essa conscistência e escrita contente. e eu não queria ter que voltar aos sentimentos trágicos. a escrita sombria e fúnebre.
por isso acho que estou dando um adeus a minha escrita como um todo. nada está ameno. as coisas não estão tranquilas e não tenho ficado com o coração quente. meu peito arde e dói demais.
então aqui está algo que eu consigo me despedir, aos meus textos do passado e aos meus textos do futuro. meus sinceros sentimentos.
figurativamente falando, estou incendiando eles, colocando fogo em minha escrita e logo tudo não passará de cinzas espalhadas.
francielly serra
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ainda escrevo ?
Poetry"ainda escrevo ?" é uma possibilidade. Uma pergunta que continua sem resposta e que ainda me faço. Talvez eu escreva algo em 2020. Talvez não. Este é meu segundo livro de rascunhos textuais (e se você for muito gentil, poético). Caso tenha interes...