CAPÍTULO 2

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Michelle limpou a mesa com o coração disparado. Calma! Ele a olhava, mas ela não iria correndo conversar com ele. Ela tinha de limpar a mesa quinze, a treze e aí, só aí, ela passaria calmamente pela mesa dele, fingiria que nem o tinha visto, olharia em volta, como se certificando de que não tinha deixado nada fora do lugar, e deixaria que seus olhos se encontrassem. Então, ela sorriria e...
"Michelle?" A outra garconete a cutucou.
"Ahn?" Ela perguntou. Ele estava com os cabelos presos, estava tirando a atenção dela.
"A mesa dez quer a conta. Pare de sonhar com o seu felino e vá logo!" Nancy foi ríspida.
A mesa doze estava ao lado da dele. Ela poderia continuar com o plano.
"Dez por cento de gorjeta? Não vou pagar, não sou obrigado!" O homem da mesa disse bem alto. Michelle queria sumir dali, todos olhavam para ela, e ela odiava ser o centro das atenções.
"Sem problema, senhor. Na nota está especificado o valor sem a gorjeta." Nancy veio socorrê-la. Ela perdeu a voz.
"Mesmo assim, está muito caro! Está errado! Olha esse hambúrguer! O preço está diferente. Cadê o gerente?"
Fumando na parte de trás a mais de uma hora. Mas Michelle não podia dizer isso.
"Senhor, o hambúrguer que o senhor comeu é esse aqui. Veja, o preço está correto." Nancy cruzou os braços. Michelle se encolheu.
"Isso é um roubo! Hambúrguer é hambúrguer! Vocês enchem eles de frescura só pra cobrar a mais."
Nancy não respondeu. A diferença era o tipo de carne. Michelle olhou para o chão.
"Tome! Sem gorjeta pra você." Ele colocou umas notas amassadas na mesa, se levantou e saiu esbarrando em Michelle. Nancy se afastou. Michelle lhe devia agora. Muito.
Ela suspirou.
"Dia difícil?" O coração dela deu um salto no peito ao ouvir a voz sexy dele.
Ela não tinha como falar e acalmar as batidas de seu coração, então acenou.
"E quando seu turno acaba?" Ele foi direto ao ponto e Michelle ainda não estava pronta. Ela começou a tremer. Droga de timidez!
"Da daqui a a a pou pouco." Meu Deus! Gagueira seletiva! Ela queria morrer.
"Posso esperar?" Ele queria esperar! Michelle não conseguiria falar com ele. Ela balançou a cabeça, dizendo não. Não conseguiria nem olhar para ele.
" Tudo bem. Eu sinto a sua excitação, Michelle. Vou vir quantas vezes for necessário." Ele disse. Michelle deixou a bandeja cheia de copos, pratos e talheres cair. Ela fechou os olhos com o barulho. Ia ser demitida!
Ele se abaixou e em segundos recolheu tudo. Ela estava estática olhando para o chão. Ele fez sinal para ela ir na frente, ela foi. Na entrada da cozinha lhe entregou a bandeja e disse.
"Um outro dia a gente conversa, então." E se virou. Michelle ficou olhando as costas dele, mas olhou para o lado e viu aquele homem mal encarado de novo. Darlene! Sua irmã tinha aprontando!
"James!" Ela chamou ele se virou. Seus olhos dourados estavam surpresos por ela saber o nome dele. Todos naquela cidade minúscula sabiam os nomes da maioria dos Novas Espécies que apareciam por ali.
"Eu eu eu..." Ela fechou os olhos com força, respirou fundo e disse:
"Ado adoraria con conversar com você. Meuturnoacabaemdezminutos!" Ela deu um suspiro aliviada. Conseguiu dizer. Ele sorriu e se sentou em sua mesa de novo.
Dez minutos depois, ela se forçou a caminhar sem tropeçar ou derrubar nada até a mesa dele.
"Eu fiquei surpreso por você saber meu nome. Não tenho o nome como a maioria dos outros Novas Espécies." Ele disse. Michelle respirou fundo. Ela tinha de se acalmar. Ele era só um homem. Muito bonito, forte e alto, mas apenas um homem.
"To todo mun mundo sabe o nome de vocês por aqui. Vocêssãocomocelebridadesparanós." Ela fechou os olhos. Que droga!
"Sabe que não precisa ficar nervosa em minha presença, não é?" Ele sorriu, as pontas das presas aparecendo. Meu Deus! Ele era lindo!
"Por por que que vo vo voce não não não... Se seu no nome..." Ela ia sair correndo dali!
"Meu pai escolheu o nome dos meus três irmãos mais velhos. Quando minha mãe estava grávida de mim e do meu irmão gêmeo, ela exigiu escolher nossos nomes. Ela esperava que fossemos fêmeas." Ele a olhou demoradamente.
"Seu seu seu ir ir..."
"Joseph. Ele também gosta do hambúrguer daqui." Ela conhecia Joseph. Ele tinha uma namorada. Uma moça muito boa, de voz doce e educada. Michelle adorava servi-los, quando eles apareciam.
Ela sorriu. O homem mal encarado se levantou da mesa e saiu. Michelle não conseguiu conter um suspiro de alívio.
"Agora que o macho que te assustou foi embora, vai se acalmar?"
Ela olhou para baixo. Aquele cara horrível lhe esperaria na saída, ela sabia. Já tinha a ameaçado antes.
"Me conte, o que uma fêmea tão bonita e inteligente faz nessa cidade pequena? Você já se formou? Em quê?"
"Mi mi minha avó vó, morava vá a a qui. Eu herdei dei a cá cá casa, estou ou fazen zen fazendo vê vete veteri..."
"Veterinária? E numa cidade que fica praticamente dentro da Reserva?" Ele sorriu.
"Eu eu eu..."
"Eu estava brincando, se bem que eu me disponibilizo se você precisar fazer um trabalho sobre felinos." Os olhos dourados brilharam. Michelle não conseguia dizer mais nada. Ela estava em seu limite. Ele a assustava e atraía, ela não sabia qual das duas coisas a afetava mais.
"Eu eu preci pre pre..."
"Quer ir embora?" Ele perguntou. Ela acenou envergonhada. Não conseguiam conversar, qual era o sentido de estarem ali, então?
Ele pegou sua mão e alisou o dorso de leve. Michelle fechou os olhos.
"Posso te acompanhar? Eu quero me certificar de que aquele macho babaca não vai te seguir." Ela acenou e saíram. A rua estava calma, a cidade era pequena, logo estaria totalmente deserta.
"Ele es está procurando mi minha ir irmã." Ela disse. Ele acenou.
"Irmãos! Eu seria filho único com muito gosto." Ele fechou a cara. Engraçado, Michelle pensou, Joseph parecia tão bonzinho.
"Joseph parece ce ce u u um bom ra rapaz." Ele sorriu amargo.
"É. Ele é. Eu sou o malvado de nós dois." Ele era. Michelle acreditou em cada palavra, pois seus olhos dourados brilharam frios quando ele as disse. Um calafrio passou por ela.
"Eu não estava falando dele. Eu tenho sete irmãos e duas irmãzinhas." Ela arregalou os olhos.
"Somos a maior família da Reserva. Meu pai sempre se orgulhou dos 'nadadores' dele." Ela riu.
"Eu só te tenho a Darlene. Eu a a amo muito." Ele sorriu, seus olhos ficando ternos.
"Eu e Joe somos muito unidos. Ele é como uma parte minha, a mais bondosa. E carente também." Ele sorriu, mostrando as presas.
"E os outros?" Ele ergueu as sobrancelhas.
"Se continuarmos conversando sua gagueira melhora?" Ela deu de ombros. Ela estava começando a se acostumar com ele.
"Certo, meus irmãos. Numa ordem do melhor para o pior, segundo o resto dos moradores da Reserva, temos meu irmão Honor. Ele é o melhor de nós. Calmo, bem disposto, cordial, tem uma boa conversa, inteligente e por aí vai. Mas é tímido. Rivaliza com você, mas não gagueja." Ela sorriu. Seu coração estava mais calmo.
"Depois dele vem Noble, que é tudo o que seu nome diz. O músico da casa. O melhor músico que eu conheço, na verdade. Ele só não é melhor que Honor por que é muito reservado, está quase sempre sozinho. Depois dele, Joe. Um anjo, como é chamado. E depois vem Violet, ela é firme, decidida, bondosa, inteligente e humilde. Candid é calado, inteligente, e muito, muito esperto. Honest é o sem noção da casa. Sempre falando mais que a boca, na minha opinião, ele sabe muito bem quando está falando demais, mas não vejo maldade nele, então, ele fica no grupo dos bonzinhos."
"E você na não?" Ela quase não gaguejou. Ele não sorriu.
"Não. Eu faço o que tenho de fazer. Corto cabeças se tiver que cortar, e estou bem com isso." Ele falava a sério.
"Mas eu saí da ordem. Vamos lá. No time dos malvados, O menos malvado, é Pride. Ele nem pode ser considerado mau, ele tem sede de sangue o que o leva a fazer coisas ruins, mas ele não é em essência mau."
"Sede de de de..." Ela voltou com tudo a gaguejar.
"É complicado. Digamos que ele começa a lutar e não consegue parar." Ela acenou. Não queria saber mais sobre Pride.
"Depois dele, temos Daisy. Ela é um amor, desde que não se pise no seu calo. E nem olhe com cobiça para Florest."
"Eu o o o conheço." Ele acenou.
"Quantos anos nos e e ela... "
"Sete. Somos precoces. Ela decidiu que vai acasalar com ele aos dezesseis. E eu não vejo como ele pode escapar." Ela riu agora. Ele também. Chegaram em frente a casa dela e pararam.
"Ainda falta um."Ela observou. Ele suspirou.
"Simple. Ele e eu estamos empatados. Mas muitos dizem que o temem mais."
"Ser te te temido é importante?" Ele acenou.
"Entre nós? Sim. Não me pergunte por que, mas é." Ele disse seu tom encerrando a conversa.
Ele pegou sua mão de novo e beijou o dorso.
"Não tenho pressa. Voltarei amanhã. Vai me deixar te acompanhar de novo?"
Ela sorriu.
"Sim. Eu vou." Ele lhe deu um sorriso cheio de dentes brancos e presas. Os olhos brilharam. Michelle ficou feliz. Ninguém nunca lhe deu a atenção que ele lhe deu.
Ele se virou ela também. Abriu o portão e ia entrando quando o ouviu perguntar:
"Você não se sente mal, usando tanto desses produtos de limpeza em sua casa?" Ela deu de ombros, gostava das coisas bem limpas.
"Eu gosto de lim limpeza." Quase falou direito.
Ele acenou e foi embora.
Michelle suspirou. Um Nova Espécie a levou em casa! Não que se gabaria, mas no dia seguinte, muitos estariam curiosos. Ela teria de contar tudo para a sua colega, Nancy.
A casa estava mesmo cheirando a desinfetante. Michelle não tinha usado tanto assim, tinha? Um arrepio percorreu sua coluna, ela se virou para sair, mas era tarde demais, braços fortes a seguraram contra um peito duro.

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