7- Talvez Eu Confie

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Mais um dia pra lista. Mais um dia em que ele não veio, um dia sem notícia. Todo amanhecer tudo que se encontravam no quarto era apenas uma bandeja com comida e um copo de água, algumas vezes água e suco e outros dias até sem comida, mas eu estava sobrevivendo. Passei a chorar toda vez antes de dormir. Não sabia direito o porquê.

Escorado na parede do quarto e encarando a gaveta, comecei a inventar passatempos, um deles era contar o número de parafusos encontrados no pequeno objeto de madeira a minha frente. Outro dos meus passatempos era olhar para porta e imagina-la sendo aberta.

Acabei por levar meus pensamentos a coisas variadas. Nada muito especial.

Já se passava do início da noite e eu estava quase caindo no sono quando tive a brilhante idéia de esperar ele para ver ele entrando e colocando a comida. Esperei horas e quase cai no sono diversas vezes. Mais eu queria.

Olhava pra parede da cama quando ouvi a porta sendo destrancada, me levantei na mesma e hora e ele abriu a porta. Finalmente o vi, depois de quase 1 semana, ele se assustou ao me ver. Não trouxe bandeja alguma, talvez tenha vindo pegar a última que deixou aqui.

— O que faz acordado? - Ele perguntou. Depois de dias sem ouvir sua voz, ou qualquer outro som, aquelas palavras quebraram a barreira do silêncio de dias. Por algum motivo eu fiquei feliz.

— Não tô com sono - Ouvir minha própria voz sair daquele jeito foi estranho - mesmo mentindo - pois estava quase pra desmaiar de sono.

— Não é o que parece - Ele disse. Já ia saindo do quarto quando eu falo;

— Eu quero tomar banho - Agora parece ser ridículo levando em conta a situação. Mas no momento, fora tão sensato que pra mim foi a melhor coisa que eu havia dito desde o sequestro.

Ele ignorou e fechou a porta até eu dizer de novo.

— Por favor - Ele ouviu,abriu a porta me olhando, suspirou. Veio até mim e me ajudou a sair do quarto. Estava tão claro, pensava que era noite.

— Que horas são? - Fiz a pergunta como se fosse aleatória, tinha quase certeza de que ele não responderia, como sempre.

— 8 da manhã - Fiquei sem reação. Finalmente fora respondido. E era bem mais cedo do que eu esperava. Andamos até o banheiro ele deixou uma toalha pra mim e disse que me esperaria do lado de fora, e ainda soltou um "Sabe que não deve fazer gracinhas"

Ou eu estava louco ou ele estava confiando em mim, embora houvesse a opção dele apenas já souber que eu não posso fugir dele nem se tentasse. Fico com a segunda.

Tomei o banho que queria tomar sem ter medo de ter alguém me olhando e sem me conter. Acho que levou meia hora pra mim me limpar e deixar tudo como eu queria. Foi bom, sentir a água gelada do chuveiro tocar minha pele, sentir o sabonete deslizar sob os meus dedos e ensaboar o resto.

Terminei meu banho e peguei a toalha levando primeiramente ao meu rosto e depois ao resto do corpo.

Sai do banheiro e não havia ninguém me esperando do lado de fora. Eu já sabia onde as roupas estavam e sabia o caminho. Mas nesse caminho algo chamou minha atenção... Bem em cima de uma mesinha havia um telefone fixo, e na minha frente a escada. Olhei para os dois alternativamente e confesso que a vontade de chegar ao telefone foi grande, olhei em volta procurando sinal do meu sequestrador e nada vi.

Dei passos lentos até a mesinha, porém parei, voltei meu olhar a escada e repensei... Eu não conseguiria de qualquer jeito. Esta poderia ser minha última e única chance... Mas eu a abandonei.

Subi as escadas e entrei no quarto. Vesti uma roupa e troquei os lençóis da cama. Eu não sabia se podia descer, mas desci assim mesmo levando os lençóis sujos até o banheiro e saindo de volta.

Eu realmente não sei o que deu em mim, outrora se fosse eu já teria pegado o telefone e ligado pra Deus e o mundo, mas eu passei por ele 4 vezes e simplesmente nem olhei na 4. Andei até a cozinha e abri a geladeira, peguei um litro d'água e despejei em um copo levando a boca em seguida.

Me espantei ao vê-lo escorado em uma estante me encarando com as sobrancelhas erguidas. Talvez estivesse assim por minhas atitudes.

— Eu tava com sede... Pensei que não se importaria - Disse bebericando outro gole.

— Eu não me importo...Só achei estranho o fato de você ver um telefone 4 vezes e não tocar nele em nenhuma delas. Quase cometeu um deslize na primeira vez mas foi de boa - Então ele sabia?

— Foi um teste? - Perguntei.

— Eu tô cansado de ficar correndo atrás de você vez ou outra, e cansado de te repreender por causa disso. E tinha que saber se podia confiar em você...- Uou, o que tá acontecendo?

— Hã...O que ?

— É isso aí - confiança? Que tipo de sequestrador confia em seu prisioneiro?

O Último Sequestro I Nosh 𝑣Where stories live. Discover now