O Grande Gato que Cuida de Mim

Yoongi vira ahjussi

Yoongi tentava se manter calmo. Colocou ração para sua gata, Kiki, serviu um copo de iogurte e se sentou em sua mesa para começar um desenho novo, mas não importava quantos segundos haviam passado, continuava checando as horas no celular.

No dia anterior, havia recebido a ligação que estava esperando já fazia um ano desde que seu cadastro na fila de adoção havia sido oficialmente aprovado, então sabia que quando seu telefone tocasse, era porque poderia finalmente começar a se preparar para ter uma criança em casa.

Tudo começou a dois anos atrás. Após publicar um novo livro, um blog sobre pedagogia escreveu algo que marcou profundamente Min Yoongi: "O autor claramente não tem uma criança em casa". Obviamente ficou chateado com a crítica, mas após pensar um pouco, o foco da questão para ele se tornou "Por que eu não tenho uma criança em casa?". Trabalhava com um público que não tinha a mínima intimidade.

Sempre quis ser pai, mas ficava pensando que precisava estar em um relacionamento sério para começar a pensar no assunto, porém Moonbyul o incentivou a ir em uma reunião sobre adoção, ao menos para tirar algumas dúvidas. Depois de pensar um pouco, começou a separar a papelada para o cadastro. Participou de cursinhos, teve entrevistas com psicólogos e assistentes sociais e preencheu sua ficha. Como havia colocado um limite de idade bem maior do que a da maioria dos adultos que entravam na fila, sabia que não iria demorar tanto para encontrarem uma criança.

Yunhee, de nove anos, foi entregue ao abrigo por conta do histórico de negligências da mãe, e como não sabiam a identidade do pai, vivia lá desde os cinco. Já havia sido adotada uma vez, porém foi devolvida pelo casal após dizerem que ela não havia se adaptado à rotina da família, que já tinha dois filhos biológicos. Essas eram as informações que o assistente social havia passado pelo telefone e tudo que saberia sobre a garota até ir visitá-la. Felizmente, Jimin respondeu muito empolgado que o escritor já poderia ir no dia seguinte levar a menina para um passeio se quisesse.

Então ali estava Yoongi, roendo as unhas até dar o horário que havia combinado por telefone. Colocou seu casaco e foi até a garagem, entrando no carro e dirigindo até o local.

— Yoongi?

O escritor ouviu ser chamado assim que colocou os pés na recepção.

— Eu sou o Jimin, foi comigo que você conversou pelo telefone. — Explicou, abrindo a porta de uma salinha e deixando que o escritor entrasse.

— Ah, sim. Olá. — Se sentou na poltrona.

— Ok, deixa eu ver uma coisinha... — Murmurou pegando uma prancheta. — Assine aqui, por favor. É uma autorização para que você saia com ela para um passeio.

— Que horas tenho que voltar? — Perguntou enquanto assinava o papel.

— Antes de escurecer está bom, mas fique tranquilo quanto a isso. — Puxou uma pasta sobre a mesa. — Você quer ver uma foto da Yunhee?

— Sim, sim...

— Aqui. — Puxou uma foto 3x4 do meio dos registros e entregou para o escritor.

Yoongi analisou o papel minúsculo com a foto da garota com uma expressão séria e ficou nervoso ao pensar que em breve iria a conhecer pessoalmente.

— Eu vou chamar ela. Por favor, evite chorar ou ter uma reação muito... Eufórica. Tente agir naturalmente, mesmo que seja difícil. A Yunhee é uma menina muito tímida. — Jimin instruiu antes de sair pela porta.

Mesmo que estivesse nervoso, sabia que não teria nenhuma das reações citadas pelo assistente social, não chorava fácil e não estava fantasiando um encontro como nos filmes dramáticos. No curso preparatório avisaram o quanto a ficção romantiza o ato da adoção e que a relação com a criança é construída pouco a pouco, ainda mais se tratando de uma com nove anos.