Lothlórien

272 40 2
                                    

Eu estava em transe. 

Eu ouvia Frodo gritando, mas não conseguia ter alguma reação. Porque aquilo ainda não parecia real para mim, simplesmente não podia ser real. Porque Gandalf era a pessoa mais forte que eu já conhecera, porque Gandalf não caía. 

Mas ele tinha caído. E enquanto eu encarava o mesmo ponto, como se esperasse que ele fosse voltar a qualquer segundo com palavras tranquilizadoras, Boromir já tinha agido. 

Ele agarrou Frodo, chamando por Aragorn. Eles se viraram, seguindo pela porta, para longe. Legolas me puxou gentilmente, me guiando para sairmos de lá. Eu não resisti. 

Flechas choviam à nossa volta, o que me fez voltar a realidade. Tínhamos que sair daquele lugar. Eu ainda tinha uma missão a cumprir. Narya, o anel do fogo, queimava em minha mão, mas eu não sentia dor. Era mais como um aviso, uma força me lembrando de resistir. 

E então, estávamos do lado de fora. Os hobbits caíram no chão. Eles choravam, inconsoladamente. Gimli pareceu raciocinar por um momento, e então fez menção de voltar para as montanhas. Boromir o agarrou.

Aragorn era o único que parecia estável, embora eu soubesse que ele carregava uma dor profunda por baixo de sua máscara. Ele realmente era um grande líder. 

Eu não chorei. Não sabia porque, mas tudo que eu sentia era raiva. A dor, como se um buraco tivesse sido aberto em meu peito. Eu nem sentia mais o anel queimando em minha mão. Sentia apenas... raiva.

Legolas parecia perdido, como se ainda não tivesse compreendido a situação. Eu sabia como ele se sentia, porque eu já sentira o mesmo. Nós éramos elfos, éramos imortais. Nunca entenderíamos completamente. Mas desde que quase perdi meus amigos mais queridos, aprendi que a morte é a maior inimiga dos mortais. Ela deixa uma dor mais profunda do que qualquer lâmina. Uma dor que nunca pode ser curada completamente. 

Eu olhei em volta. Todos os meus amigos estavam fadados ao mesmo destino. O tempo não tem compaixão. A dor era sufocante, apenas de imaginar. A imortalidade não era um dom. E sim uma maldição.

Legolas parecia ter compreendido isso, enquanto seu olhar se tornava mais vazio. Eu o abracei, instintivamente sentindo que o peso era demais para carregar. 

- Ele se foi. - Eu disse, minha voz trêmula - Legolas, ele não vai voltar. 

Eu sentia que tremia, e mesmo assim as lágrimas não vieram. Eu entendia Arwen muito bem naquele momento. O que valia uma vida eterna, se isso significa perder tudo aquilo que lhe é caro?

Mas agora não havia tempo para o luto. Porque o inimigo não nos daria esse tempo. 

- Legolas, Aerin. - Aragorn nos chamou - Levante-os. - Seu olhar parecia pedir desculpas, mas eu assenti, indo em direção a Merry e Pippin. 

- Dê um tempo a eles, por piedade! - Boromir exclamou.

- Ao anoitecer essas colinas estarão cheias de orcs! Temos que chegar às florestas de Lothlórien. - Aragorn disse, pondo um fim ao assunto. - Vamos Legolas, Aerin, levante-os. 

Eu me ajoelhei ao lado de Merry e Pippin, encarando-os. Seus rostos estavam manchados pelas lágrimas, e eu sentia minhas próprias palavras carregadas pelo luto.

- Eu sei que dói. - Eu disse - Mas preciso que sejam fortes. Só por mais algum tempo, eu preciso que sejam fortes, tudo bem? 

Os dois assentiram, e eu os ajudei a se levantarem. Sam já estava de pé, mas Frodo se mantinha afastado. Eu fui até ele.

 - Frodo - Eu disse, colocando minhas mãos em seus ombros - Lembra-se do que Gandalf disse? Sabe o que tem que fazer. - Eu suspirei - Eu sei que dói. E em mim também, mas não podemos ceder agora, tudo bem? 

O Retorno do AnelOnde histórias criam vida. Descubra agora