Nós remávamos pelo rio, aparentemente silencioso, e calmo.
Mas eu sabia que havia algo de errado. Me virei para Legolas, e seu olhar estava preocupado.
- Eu também ouvi. - Ele disse, mantendo seu tom de voz baixo. - À direita. - Ele avisou.
Meus olhos instintivamente se viraram na direção indicada, e pude ver facilmente. Acompanhando os sons de passos acelerados, vultos passando por detrás das folhagens à margem. Eu sabia exatamente o que eram.
Senti minha mão pousar sobre o cabo da espada instintivamente, antes de pensar melhor. Uma espada seria inútil no meio do rio. Toquei no arco Galadhrim dado por Galadriel.
- Não irão nos atacar por hora. - Legolas disse - Vão esperar até descermos para terra firme.
- E em alguma hora, teremos que descer. - Eu completei, desanimadamente.
Foi quando eu vi uma figura parada na margem. Era um orc, e um dos grandes. tinha a pele avermelhada, e uma grande mão branca cobria seu rosto. Ao me encarar, ele se virou e continuou correndo.
- Saruman. - Eu disse, como se o próprio nome fosse uma maldição. - Nunca pensei que ele poderia chegar a esse nível.
- Conheceu-o antes disso? - Legolas perguntou, e eu assenti com a cabeça.
- Durante minha jornada com os anões, em Valfenda. Ele sempre foi de opinião forte, e extremamente manipulador. Mas era justo. O medo pode corromper a alma se não puder controlá-lo.
- Como alguém pode ser justo, e manipulador? - Gimli perguntou. Eu soltei uma risada, sem humor algum.
- Ele tinha a mesma opinião que meu pai. Acreditava que a missão dos anões era perigosa, e tentou me convencer a ficar ao seu lado. Ele via algo em mim. - Eu pausei, trazendo as memórias a tona - Lembro que tentou por muito me convencer a ver seu ponto de vista. Mas nada conseguiu. Saruman acabou por descobrir que sempre fui uma aprendiz de Gandalf. - Eu sorri, dessa vez de verdade ao me lembrar do mago.
...
Aquela noite, montamos acampamento à margem do rio. Tínhamos que ter muita cautela, e manter vigia constante. Não gostava da ideia de voltar a terra firme, mas não poderíamos passar as noites nos barcos.
Vi que Boromir observava algo a distância, e me aproximei. Logo reconheci a pequena figura no meio do lago, agarrada a um tronco flutuante.
- É o Gollum. - Eu disse, o reconhecendo na mesma hora. Não era de se surpreender que ele estivesse aqui.
- Ele nos segue desde Moria. - Disse Aragorn, surgindo de trás de mim. - Esperava tê-lo despistado no rio. Mas ele é um barqueiro muito esperto.
- E se ele avisar onde estamos para o inimigo? - Boromir perguntou. - A travessia será ainda mais perigosa. Minas Tirith é o caminho mais seguro. Sabem disso. De lá podemos nos reagrupar, atacar Mordor de um lugar de força.
- Não há força em Gondor que possa nos ajudar. - Aragorn respondeu.
- Foi rápido o bastante para confiar nos elfos. Tem tão pouca fé em seu próprio povo? Sim, há pontos fracos, e fragilidade. Mas também há muita coragem e honra nos homens. Mas você não vê isso!
Aragorn tentou se afastar, mas foi puxado de volta por Boromir. Eu tomei um susto, e pousei a mão em minha espada. Antes de hesitar, e soltá-la. Boromir não o atacaria, eu sabia.
- Está com medo! - Ele disse, com repugnância. - Sua vida toda tem se escondido nas sombras, com medo de quem é!
- Eu não vou levar o anel a centenas de léguas da sua cidade! - Aragorn sibilou.
Resolvi não me meter, sentindo que esse era um assunto dos dois. Mas concordava com Aragorn. E sabia que Boromir ainda não tinha desistido de usar o anel contra Sauron. Fui me aproximar de Sam, que tentava convencer Frodo a comer.
- Eu prometi ao Gandalf que te ajudaria. - Ouvi Sam dizer, sendo respondido por Frodo.
- Não pode me ajudar Sam. Não dessa vez. - Nessa hora senti meu coração se apertar. Frodo escondia algo, e eu tinha uma ideia do que poderia ser.
Me aproximei, logo me virando para Sam.
- Posso falar com Frodo um momento? - Pedi. Ele se afastou com um último olhar preocupado, e eu me ajoelhei a frente de Frodo.
- Galadriel falou com você. - Eu disse. Não era uma pergunta, e Frodo não precisou confirmar - Sei como se sente.
- Como pode saber? - Frodo perguntou, sua voz repleta de dor - Como pode sequer imaginar, quando pode desistir a qualquer momento? Eu não posso, e mesmo que não queria, não me sinto capaz de continuar...
Sozinho. Eu completei a frase mentalmente, sabendo o que Galadriel lhe dissera.
- Sei como se sente, porque também falei com ela. - Eu disse, sussurrando - Sei disso porque vi meu futuro, e porque sei o que me espera... - Eu pausei, sabendo que Frodo poderia entender por conta própria - Porque tenho tanta escapatória quanto você. Não quero, e sei que não devo desistir, mesmo que tenha medo.
Frodo, que parecia paralisado com minhas últimas palavras, finalmente encontrou sua voz.
- Você...?
- Sim. Vi com meus próprios olhos, mas não quero que ele saiba. - Eu sabia que Frodo entendia a quem eu me referia - Não é culpa dele, e de ninguém mais além de mim. Senti ressentimento de Galadriel, cheguei a odiá-la. Mas... - Eu suspirei, sabendo o quanto essas palavras doeriam em mim - Ela está certa. E talvez eu nunca vá entender o que ela queria que eu entendesse, mas de uma coisa tenho certeza. Apesar de temer muitas outras coisas, não temerei a morte.
- Eu temo. - Frodo respondeu, e eu senti meu coração se apertar.
- Lembra-se do que eu lhe disse em Valfenda?. É muito corajoso por ter vindo até aqui, e por aceitar sua carga. Mas não precisa fazer isso sozinho. - Eu disse, olhando para Sam, e voltando a olhar para Frodo.
- E se precisar? - Ele respondeu - E se não houver outro jeito?
- Haverá. - Eu respondi - Porque você sabe em quem pode confiar. Você perguntou a Gandalf, mas sabia a resposta o tempo todo. Confie em si mesmo, mas também permita-se acreditar nos que merecem sua confiança. Pense em minhas palavras, por favor.
- Pensarei. - Ele disse. Eu assenti com um pequeno sorriso, antes de começar a me afastar. - Aerin!
Frodo me chamou de novo, e eu me virei para ouvi-lo.
- Ficará bem?
- Ficarei. - Eu respondi - Se puder manter segredo.
- Irei. - Ele respondeu, antes de acrescentar - Sentirei sua falta. Por toda a minha vida.
Eu sorri, sabendo que essa era sua despedida. Ele sabia, assim como eu, que nosso tempo estava se esgotando.
- E onde quer que eu esteja, estarei orgulhosa de você. - Eu respondi.
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O Retorno do Anel
FantasyE ela viveu feliz para sempre... Ou era o que ela pensava. Após a aventura com os anões, a reconquista de Erebor, e a Batalha dos Cinco Exércitos, Aerin pensou que finalmente poderia viver sua vida em paz. Mas aparentemente, sua paz ainda está longe...