21

1.2K 114 65
                                    


Quando Louis fechou a porta do banheiro, uma rajada de ar percorreu o corpo úmido de Harry, fazendo com que se arrepiasse nos braços e os ombros. Seu sabão e todos os objetos que ele utilizava para barbear-se estavam no lavabo junto a ele, e seu perfume o envolvia; uma mescla muito comum de malagueta, bergamota e colônia de homem, que ele só associava com Louis.

"Louis" .

Ficou muito afetado depois de ver seu irmão naquela noite. Profundamente afetado. E, por isso mesmo, Harry sabia que ele o necessitava como nunca naquele momento. Se realmente Louis lhe importava, deveria sair da banheira, secar-se com a toalha, colocar a camisola e ir buscá-lo. E logo, o que? Quando se voltasse para ele, quando o estreitasse entre seus braços, o que faria se ele quisesse que o consolasse de uma maneira em que Harry não estava disposto a fazê-lo? Já lhe disse claramente em várias ocasiões que queria estar com ele.

Depois de ver Sebastian a apenas um momento, era impossível manter a raia as lembranças do que lhe tinha feito. Imagens de seus piores pesadelos se equilibraram sobre ele após sair dos cantos mais escuros de sua mente. A dor, a terrível sensação de impotência e a vergonha. Lágrimas ardentes começaram a lhe queimar os olhos.

Como podia ir para o quarto, sabendo de antemão que Louis possivelmente tentaria lhe fazer essas coisas? Não estava seguro de sentir-se capaz de passar por essa experiência. Nem tampouco de querer fazê-lo. Queria-o muito, sim. E desejava ser seu amigo. Mas havia certos limites, ao menos para preservar a prudência.

Limites...

Parecia uma palavra tão egoísta...

Harry mordeu o lábio inferior e apertou os olhos com força. Desde o primeiro momento, Louis lhe tinha dado tudo o que podia, sem reservas e sem exigir nada em troca. Como poderia ele, em consciência, impedi-lo de acessar a uma parte de si?

"Louis" ... Dançando a valsa com ele no sótão, seduzindo-o com a música de sua flauta, lhe dando um órgão, lhe ensinando a utilizar a língua de sinais. Ao recordar os últimos meses, Harry percebeu, não pela primeira vez, de que a relação entre eles era muito desigual, ele sempre estava dando, e Harry recebendo. Isto tinha que mudar em algum momento e dependia dele que o fizesse. Louis podia expressar seu desejo de estar com ele, podia inclusive pressioná-lo para conseguir seu objetivo, mas nunca o obrigaria.

Ficou em pé, observou a água deslizando-se por seu corpo e caindo na banheira. A toalha molhada escorregou das mãos e caiu ruidosamente na água. "Silêncio" . Não voltou a ouvir o som de gotas caindo na água. Tampouco um aquoso plaf. Só o terrível nada que foi a presença dominante em sua vida durante tanto tempo, quando conheceu Louis, tinha deixado de esperar nada distinto. Hora após hora, dia após dia, ano após ano de silêncio e solidão. Louis tinha mudado tudo isto.

Com um sorriso triste, Harry recordou quão desiludido que se sentiu ao descobrir que se casou e não tinha recebido presente algum. Que equivocado estava. Louis tinha chegado em sua vida levando tantos presentes que fazia já bastante tempo que tinha perdido a conta; e cada um deles envolto em abundante amor. Sem papéis bonitos nem fitas extravagantes. A coisa que lhe tinha dado não se podia colocar em uma caixa. Mas nem por isso eram menos maravilhosas. Como podia negar algo a um homem como ele?

Olhou fixamente a porta fechada. Logo, sem permitir-se pensar em nada mais, estendeu a mão para agarrar uma toalha com o fim de envolver seu cabelo molhado. Em menos de um segundo, ao menos assim lhe pareceu, vestiu a camisola e tinha abotoado todos os botões. Com mão trêmula, agarrou o pomo, o fez girar de maneira resolvida e abriu a porta.

A primeira vista, o quarto lhe pareceu escuro, mas logo seus olhos se acostumaram a penumbra. Enquanto saía do banheiro, sua silhueta, projetada pelo candeeiro que se encontrava atrás dele, dançava de maneira inquietante sobre o chão e as paredes. A irregular luz se movia; e se refletia no mogno do armário e a penteadeira. Um pouco antes, Harry não tomou o tempo necessário

Harry's Song - Adaptação Larry StylinsonWhere stories live. Discover now