O Príncipe

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A quilômetros do castelo, a carruagem se movia em silêncio. Na cabine
Jimin apertava os punhos com forças, sem conseguir relaxar.

Foi um plano ardiloso, tinha que admitir. Arranjaram o matrimônio e assinaram acordo às surdinas. Antes que percebesse, suas coisas estavam sendo embaladas em baús de madeira.

— Bando de covardes... — resmungou com a cara choroso, sem ter como mudar a decisão do pai e do Conselho, se vendo partir a um destino incerto.

Jimin não conseguia se conformar. Quando chegasse lá, ocasionalmente, selaria sua vida casando-se com uma princesa. Princesa essa que nunca viu, sequer sabia seu nome. Ou seja, se sua noiva fosse feiosa e desagradável, ele teria que dizer sim. Voltar a seu reino já não era uma opção.

O príncipe bufou, sentindo a mesma dor de cabeça avançar. Ele massageou a têmpora com os dedos, sua mente voando para dias atrás na discussão acalorada que teve antes de partir. Acumulava uma imensa mágoa pelo pai ter armado tudo e praticamente lhe expulsado do castelo, então jurou em voz alta nunca mais voltar lá.

E ele cumpriria isso.

Haviam dias, semanas na verdade, que sua comitiva viajava por estradas tortuosas, por vezes íngremes, terrenos argilosos que o impediram de prosseguir. Houve episódios que nem mesmo a força dos cavalos puro sangue foram o bastante para mover as rodas atoladas, então os guardas e servos revezaram para empurrar a carruagem real, sem que Jimin movesse um dedo ou sair dela, obviamente.

Sacolejar, ficar naquele espaço pequeno com o trote constante da viajem estava lhe enjoando. Mas o pior era dormir em beiras de estradas, com mosquitos marcando sua pele branquinha e ainda ter que ouvir noite a dentro conversas chatas entre a tropa.

Jimin revirava os olhos com tantas histórias cabulosas. Havia algo em fogueiras e carnes assadas que estimulavam esse tipo de gente a tagarelar sem parar sempre as mesmas histórias: lobisomens, bruxas, seres mágicos escondidos na floresta...

O povo não tinha o que inventar.

A última história foi sobre os gorgons, uma espécie de ogro, que morava em cavernas e saía de lá apenas para capturar humanos, fazendo... sabe-se lá o quê com as pobres vítimas que nunca voltavam.

Enquanto isso, Jimin só desejava dormir em uma cama de verdade.

Se seu humor já era azedo tendo uma vasta mordomia no castelo, aquela viagem enfadonha,  sem conforto algum, lhe roubando o sono dia após dia, o deixava ainda mais ranzinza.

Inúmeras vezes Jimin saiu de sua carruagem e bateu o pé no chão, ordenando que se calassem. Mas de nada adiantava pedir silêncio, a comitiva voltava a conversar no minuto seguinte, por isso agora apenas tampava os ouvidos com as almofadas e virava de lado na cama improvisada.

Mas uma noite tudo mudou.

O príncipe havia embalado em um sono profundo, como nunca antes, então  não ouviu os gritos das mulheres e nem nas espadas sendo desembanhadas pelos guardas.

Quando Jimin abriu os olhos, seu corpo já estava sendo erguido por algo grande. Braços fortes prendiam seu tronco enquanto se debatia de cabeça para baixo.

Já não havia mais nada que os guardas pudessem fazer. O jovem príncipe foi levado para dentro da floresta escura pelos monstros verdes.

Os Gorgons Where stories live. Discover now