III

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O tio, com pressa, não tirou muito tempo para se despedir de Heloísa, mas com um beijo na bochecha disse que quando voltasse os três saíram pra "botar as fofocas em dia" e aproveitarem o tempo dela na cidade

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O tio, com pressa, não tirou muito tempo para se despedir de Heloísa, mas com um beijo na bochecha disse que quando voltasse os três saíram pra "botar as fofocas em dia" e aproveitarem o tempo dela na cidade. Heloísa ficou um pouco chateada com uma saída tão súbita, cansada da viagem ela não queria ir até a cidade, mas ficar ali sozinha também era tedioso e, mesmo dizendo a si mesma que não faria nada em seu primeiro dia "de férias", ela acabou no jardim procurando as ferramentas que sabia que sua tia guardava em algum canto por ali.

O regador da tia havia sido decorado pelos alunos dela com lantejoulas e pinturas em tinta guache e ela teve dificuldade em enchê-lo sem molhar nada, para que não estragasse. Ainda era de manhãzinha então ela regaria a hortinha e daria uma olhada nas flores da casa antes de fazer um café da manhã simples pra aguentar o dia de preguiça que ela teria pela frente. Como a jardineira medíocre que era, Heloísa não conseguia identificar metade das plantas da tia pelo nome, mas lembrava vagamente de pra que serviam de seus anos como ajudante. Havia tomate, malvarisco e manjericão em um canto, pimenta, salsinha e cebolinha em outro e claro, aquelas que ela não sabia o nome. Passando para as flores das janelas, Heloísa quase morreu de susto, nunca tinha visto aquelas flores mais secas do que aquilo e tratou de regar bem e de colocar um pouco de adubo para tentar salvar alguma coisa. A casa não parecia em estado melhor e ela até entrou pra dar uma olhada. Um furacão parecia ter passado por ali, ela levantou as cadeira jogadas pelo chão, mas logo resolveu que aquele não era trabalho seu e voltou pra casa do tio pra tomar o seu café.

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Thales tentava convencer os espíritos do lar que a casa havia endoidado de vez por meia hora e não tinha chegado a lugar algum com aquilo. Aqueles pequenos traidores eram muito mais apegados a casa do que a ele, por mais que ele pessoalmente tivesse ajudado a resgatá-los do outro lado. Se surpreendia todos os dias com a capacidade da ingratidão deles, que graças à Thales possuíam a forma de crianças e podiam fazer o que lhes bem entendesse, bem... menos falar, isso era fora da sua capacidade.

- Olha, mas as coisas não podem ser assim pra sempre - disse mais uma vez ao jovem espiríto - Eu sempre sou o errado da história, mas é ela que quebra tudo com seu humor explosivo. Sabem do que chamam isso lá do outro lado? Relacionamento abusivo, ela é tóxica, okay?

Ele esperava realmente que ela não escutasse dessa vez, tinha a certeza de que o seu próximo passo seria dar um fim aos bonitos tapetes que ele havia conseguido com muito esforço. Foi então que as cadeiras começaram a se levantar. Thales demorou alguns segundos para registrar o que estava vendo e se arrepiar inteiro ao notar que não era a casa que estava colocando as coisas no lugar. Aquilo durou cinco minutos e então simplesmente parou, ele estava paralisado e escutou apenas o barulho da porta se fechando. A porta que ele havia trancado.

As Flores da Tua JanelaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora