C A P I T U L O 1

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Já fazia quase um ano que eu não saía de casa. Onze meses para ser mais exata. Desde o começo da pandemia, eu não tive mais contato com a rua, exceto nos momentos em que eu me debruçava no parapeito da janela do meu apartamento no sexto andar para tomar um pouco de sol e olhar as pessoas vivendo do lado de fora.

Isso também significava quase o mesmo período sem sexo.

Quase, pois, na verdade, era até mais. Tudo porque eu resolvi me fechar em casa antes mesmo de toda essa confusão de pandemia ter início. Havia recebido uma oferta incrível de trabalho com uma empresa famosa por ser uma ótima oportunidade de crescimento. Decidi que não me distrairia com nada até terminar o aplicativo que eles tinham me contratado para fazer – ou seja, sem festinhas e sexos casuais como eu costumava ter ao fazer outros serviços.

A oferta tinha surgido três meses antes da pandemia, então eu estava há pelo menos catorze meses sem transar. Sem contar as semanas de diferença entre aquilo e minha última balada que terminei na casa de um completo estranho.

Eu estava prestes a subir pelas paredes.

A rotina, que eu nunca antes me incomodei já havia se tornado um problema. Todos os dias eram a mesma coisa. Acordar. Tomar café da manhã. Conferir se não precisava pedir mercado no aplicativo. Trabalhar um pouco. Pedir comida. Trabalhar mais um pouco. Tomar sol. Tomar banho. Assistir algum filme ou seriado no streaming. Dormir. Recomeçar.

Sem uma festinha. Sem uma saideira com as amigas. Sem dar uns beijos mirabolantes no meio da pista de dança, misturando línguas desconhecidas à minha. E, claro, sem sexo. Nem uma rapidinha, só tinha meus dedos e meus brinquedos, o que poderia ser maravilhoso, mas limitado. Começava a sentir falta do calor humano, dos apertos fortes que sempre marcavam minha pele clara, dos tapas deixando minha bunda ardendo, dos puxões nos meus cabelos escuros e longos, dos sussurros, das ordens, dos gemidos... de estar dividindo o momento com outra pessoa.

Mas sair não era uma opção, não enquanto as coisas não melhorassem. Se não fosse por mim, eu tinha que manter aquele pensamento pelos outros. Pelos vizinhos do prédio onde eu morava. Pelos transeuntes nas ruas. Pelas famílias que poderiam ser afetadas com uma simples saidinha, com uma festinha ilegal daquelas que vinham me chamando cada vez mais.

Então eu me conformava em ficar em casa, repetindo as mesmas atividades dia após dia. Definhando aos poucos dentro da minha mente, com saudades do contato humano. Sentindo raiva por não ter como mudar nada. Precisando de um abraço apertado, um beijo na testa e uma boa foda para me fazer esquecer de todo aquele caos que começava a parecer eterno.

A vida lá fora, porém, não estava assim tão parada. Depois de alguns meses, quando foi sendo normalizado o alto número de mortes, as construções voltaram a acontecer. Carros foram ficando mais barulhentos na avenida. E aos poucos tudo aparentava próximo do normal – ainda que não fosse. Por isso, troquei meus horários. Passei a trabalhar na madrugada e a dormir de dia, aproveitando meus calmantes.

Minha primeira semana trabalhando de noite foi maravilhosa. O silêncio lá fora misturava-se ao do interior do meu quarto-escritório. Eu conseguia me focar mil vezes melhor assim. Já não estava mais naquele projeto do começo da pandemia, mas meu trabalho não diminuiu. Estava recebendo cada vez mais ofertas de freelancer e minha conta bancária começava a acumular um bom resguardo para emergências.

Então, numa noite qualquer, aquilo aconteceu.

Meus olhos castanhos não desgrudavam da tela do monitor, os dedos eram ágeis pressionando as teclas formando linhas e mais linhas de códigos. Vez ou outra eu precisava do mouse para conferir se não havia deixado um erro para trás. O som do silêncio me tranquilizava enquanto o cheiro do café fumegando ao meu lado fazia o momento soar mais calmo do que realmente era.

Ouvi um ruído atrás de mim. Ignorei quase de forma inconsciente. O som repercutiu se transformando, aos poucos, na melodia de corpos se chocando. Não era brusco suficiente para acreditar serem dois adultos se encontrando. Parecia mais como uma parcela pequena se chocando contra o corpo de alguém. Movimentos contínuos, golpes secos. Então um grunhido másculo, do tipo que homens acabam deixando borbulhar pelos seus lábios quando estão atingindo o ápice e se derramam por completo, sempre seguido de um suspiro prolongado como o que eu ouvi no instante seguinte.

Eu havia escutado o vizinho do apartamento ao lado se masturbando até gozar.

Paralisei com os dedos próximos do teclado sem digitar coisa alguma. Meu coração estava acelerado, minhas coxas se apertavam, pois, a excitação me encontrara e me molhado. A voz dele terminando de se masturbar estava ecoando dentro da minha cabeça como um disco no repeat. Eu não sei se era pela minha necessidade ou porque aquela voz tinha um timbre rude do jeito que eu tanto gostava.

Quis voltar a trabalhar, mas a noite estava perdida. Eu não tinha condições, não sem aliviar o tesão que havia ficado ao ouvi-lo. Engatinhei até a cama ao meu lado, encostando as costas na mesma parede onde ele parecia estar e tirei meus shorts. Meus joelhos erguidos se afastaram automaticamente. A parte de trás da cabeça tocou a parede... os dedos deslizaram para dentro da calcinha... eles ficaram molhados e começaram a transcorrer por toda minha intimidade, do jeitinho que eu gostava de ser provocada, até alcançarem de vez o clitóris e começarem uma dança lenta.

Primeiro, movimentos lentos. Sentindo. Lembrando da voz daquele homem cujo rosto eu nem conhecia. Fechei os meus olhos, um suspiro escapou ao sentir o estímulo espalhando uma onda elétrica através das minhas pernas. Meus quadris mexeram em reflexo. Acelerei os toques, ansiosa pelo que vinha depois. Uma mão subiu ao seio farto, massageando-o sobre a blusa mesmo.

As ondas foram escalando minhas pernas lentamente. Comecei a ofegar descontroladamente. Eu não me masturbava com tanto tesão assim há meses. A voz dele ainda ecoava na minha cabeça. Soltei um gemido mais alto, perdendo a linha. Eu precisava ter aquele orgasmo. Meus olhos se apertavam, as pernas começavam a vibrar cada vez mais, a respiração estava em falta.

— Goza — a voz dele surgiu do outro lado da parede.

Arregalei os olhos e fui mais depressa sentindo toda eletricidade se espalhando pelas coxas e ventre. Minha voz saiu alta e se perdeu no mesmo instante, meus pulmões tremeram soltando todo ar de uma só vez e meu corpo relaxou.

Com a respiração pesada, eu me atirei deitada na cama. Meus cabelos pretos ficaram espalhados no travesseiro. Meu peito subia e descia com dificuldade, e eu não conseguia parar de sorrir. Não era felicidade propriamente dita, apenas uma sensação próxima do alívio. Ele tinha me ajudado a gozar; aquela era a interação mais próxima de sexo que tinha nos últimos catorze meses. Claro que não era suficiente, eu sentia a necessidade de ter mais.

Porém, naquela noite me bastava.

Um vizinho de tirar o fôlego (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now