CAPÍTULO V, QUANDO EU O CONHECI

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A luz forte me cegava na medida em que eu abria mais os olhos. Ao fundo, um túnel desfocado parecia chamar meu nome. Algumas pessoas distantes pareciam estar reluzentes enquanto esperavam segurar minha mão para me levar a um lugar melhor.

Espera... Eu estava morrendo?

— Acorda aí, mulher. Pelo amor de Deus, Jones. Me diz que ela não morreu.—Tadeu me empurrou com um dedo, antes de me chacoalhar feito um saco de batatas.

Ele falava desesperadamente, mas ambos os homens ao seu redor não entendiam. Este homem estava louco, xingava em português da maneira mais desesperada possível, enquanto eu, deitada no chão de um corredor, escutava tudo tentando não rir. Era uma situação tão hilária que até o último pingo de sanidade me deu adeus. O dia nem tinha terminado ainda e eu tinha várias histórias para contar. Talvez eu mesma vazasse tudo isso para a mídia, minha vida precisava ser engraçada para alguém. É rindo, ainda de olhos fechados, que eu consigo deixar claro que estava acordada. Ou viva.

— Bateu a cabeça mesmo. —Meu melhor amigo me segurava entre os braços.

Quando a primeira lágrima toca minha testa, percebo que Tadeu chorava rezando um Pai Nosso. Ele não estava tão preocupado assim, estava?

Eu só via meu melhor amigo chorando em duas hipóteses: atuando— inclusive, o choro teatral dele era tão verdadeiro que me arrepiava toda vez—, e quando Kim Kardashian teve seus 4 filhos. Eram apenas esses os motivos que faziam Tadeu chorar.

Isso era o que meu melhor amigo nos deixava ver, na verdade, pois apesar dele tentar parecer ser sempre forte— e levemente sarcástico— por debaixo disso tudo, um coração mole habitava aquele peito. Quase sempre houve especulações sobre um relacionamento entre nós, já que Tadeu nunca falou abertamente de sua orientação sexual para os fãs, mas eu sempre tentava desmentir isso, a fim de não prejudicá-lo. A carreira de meu amigo era extremamente estabilizada, diferente da minha.

Me ajoelho devagar, enquanto busco, sem sucesso, meu celular no chão. Eu não o tinha trazido?

— Ay, você está bem? Pensei que tinha te perdido. Como tu ousarias morrer antes de colocar silicone? Amiga, fiquei com tanto medo. —O mesmo me segura mais uma vez, encostando sua cabeça em meu ombro, choramingando algo sem sentido. É claro que o primeiro pensamento dele seria esse.

—Preciso pelo menos fazer um Botox na boca antes de partir. Já pensou morrer desbocada?— Retribuo seu abraço apertado.

Montados em um bolinho, Jones resolve se juntar a nós envolvendo seus enormes braços ingleses ao redor dos nossos. Talvez— só talvez— Tadeu e Jones fizessem um casal bonito. E no mínimo muito louco, afinal estávamos falando de um casal formado apenas 18 horas atrás, que iniciou na Inglaterra e continua na Coreia do Sul. Nem se eu quisesse viver tanto minha vida, eu conseguiria me relacionar desta forma.

A outra pessoa, parada na porta do quarto, continuava estática, observando a cena com cautela, sem entender uma palavra sequer. Ele parecia assustado e aliviado. Com certeza Tadeu o amedrontou com minha possível morte e eu não duvidava.

— Vou pegar gelo, por favor, não levante até que a tontura passe. Sua testa está vermelha.

Meu melhor amigo levanta e começa a fazer o caminho contrário ao que eu fiz antes. Parou apenas quando percebeu que estava sozinho e voltou correndo para pegar na mão de Jones e arrastá-lo junto.

— Já volto amiga. Quando eu voltar, mataremos esse cara. —Ele sai de costas, olhando para o dono do quarto. O rapaz se assustava mais ainda.

Cruzei as pernas e arrumei minhas roupas antes de sentir minha cabeça doer bem no centro da testa. Percebendo o que acontecia, o rapaz que até então estava em pé, se ajoelha na minha altura e leva suas mãos à minha cabeça. Parecia cauteloso ao tocar com delicadeza no galo que se formava. Analisou a parte da frente, tocou nas laterais e massageou a parte de trás da minha cabeça, antes de voltar sua atenção ao meu pé.

De Norte a Sul, Leste OesteOù les histoires vivent. Découvrez maintenant