Capítulo 4

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Sua visão está turva. O cheiro de sangue invadiu suas narinas e seu corpo fraquejou. Respirar é um desafio diante das mutilações severas.

- Hu, hu, hu... Mushi Bashira. Olhando-a assim, você não é grande coisa. E isso nem é por conta do seu tamanho.

O som metálico das lâminas do tessen dourado quase rasgaram seus ouvidos. Shinobu encolheu seus ombros e seus músculos tencionaram. Ela tossiu e cuspiu sangue que se acumulava em sua boca. Diante dela, está o oni mais asqueroso e repulsivo que ela já teve o desprazer de cruzar o caminho. O que tem de beleza, tem de insano.

Shinobu percebe o quão próximo que o monstro está, quando esse se ajoelhou e com seus dedos em garras recolheu o sangue ainda vivo de seus lábios. Seus reflexos estão lentos e falhos, mas sentiu asco quando viu a língua do oni limpar os dedos manchados com seu sangue.

- Huuu, curioso.

A moça reparou na face pensativa e no sorriso macabro.

- O gosto do seu sangue fez com que minhas papilas se atiçaram. O que há no seu sangue, que não tem nas moças que matei?

Não respondeu de imediato. Estava muito cansada e a falta de sangue por muito pouco não a fez tombar sobre o oni.

- Não tem problema. Manterei o mistério até que se recupere, afinal - Shinobu sente um tranco em seu pescoço e a sonolência que sentia, desapareceu momentaneamente quando o oni puxou seu cabelo com e o tranco a assustou - você não sairá daqui.

As pálpebras se abriram em pânico e seu coração disparou. O dia surgiu, mas a lembrança em seu sono ainda está viva. As costas de Shinobu latejavam com o confronto da noite anterior. Virou com dificuldade seu corpo e apoiou um braço em seu rosto, protegendo-o do sol.

- " Se eu conseguisse prendê-lo até o sol nascer... "

- Shinobu-san?

Ela ergueu a cabeça num susto e se sentou sentindo as fisgadas nas costas.

- Sim?

- Uma encomenda chegou endereçada à senhora. Por favor, pode vir recebê-la?

O desânimo voltou a lembrar do que se trata. A moça atrás da fuzuma se refere a loja Shouki.

- Certo, já estou indo. Peça para esperarem um pouco.

- Sim, senhora.

Os passos se afastaram e Shinobu buscou forças para se levantar. Olhou em volta procurando nada em especial. Talvez sua paciência. Vestiu sua yukata floral e ajeitou seu cabelo na frente do espelho. Seu semblante refletia seu cansaço, mas nada que não pudesse esconder com um sorriso falso. Sua especialidade.

Ela seguiu após fechar a porta, indo de encontro ao pequeno saguão. Os funcionários a saudaram e ela retribuiu com graça. Uma delas e pela voz, a mesma que a chamou em seu quarto, indica as caixas em um canto. Ao lado, está um rapaz com a cartola aparada em suas mãos e terno verde escuro ao estilo ocidental.

- Kochou Shinobu-san? - ele se inclina - sou Tadeo e vim trazer as comprar em nome de Goemon Douma. Ele pediu para deixar a seus cuidados.

- Ah, sim. Que amável.

Seu sorriso não é genuíno, mas quem reconheceria?

- Por favor, assine aqui.

O rapaz mostrou uma prancheta e uma caneta bico de pena. Assinou seu nome no espaço indicado e entregou o objeto. O rapaz conferiu a assinatura e aguardou seu material. Se inclinou mais uma vez e vestiu sua cartola, deixando o lugar.

Sangue e RedençãoWhere stories live. Discover now