QUATRO - GUSTAVO

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E

u girei indo e voltando com a cadeira preso em meus pensamentos.

Soltei um suspiro cansado, Eu estava cansado, cansado de tudo.

E me odiei por saber que estava cansado do meu casamento, Eu amava tanto a Daniella, tanto que doía, mas ela se fechou, após o sequestro da nossa filha ela se fechou, infelizmente havíamos nos tornado um casal de fachada, não tínhamos mais uma vida conjugal, a tempos não nos entregavamos como marido e mulher.

Nesses 24 anos, eu so vivi a dor da Daniella, estivesse com ela, sofri por ela, e esqueci de sofrer por mim, Só agora me dei conta de que o sumiço da nossa filha era real, e que eu sentia muito por isso, tanto que doía imensamente agora. Eu compreendia a dor da Daniella, sei que nela era maior, nas mães geralmente são maior, mas ela nunca se deu conta de que também precisava sofrer?

Eu não queria ser egoísta e um lado meu pensava que eu estava sendo, mas o outro só me fazia pensar que eu estava sendo justo.

Infelizmente, só agora pude me dar conta que meu casamento estava por um fio curto pronto para ser quebrado, só bastava uma coisa e ele deixaria de existir, e a separação se tornaria uma pauta entre nós.

Observei a porta do meu escritório ser aberta e eindireitei minha postura.

Observei Daniela entrar de robe, abatida e triste pela porta. Ela sempre estava assim, e dês de quando Aurora sumiu, eu nunca a vi fazer um esforço pra mudar isso, pelo menos não entre mim e ela.

- A faculdade ligou, parece que a Kristini se meteu em um problema. - Assenti.

- Claro, eu vou mandar preparar o carro e te aguardo...

- Eu não vou. - Daniella respondeu antes mesmo de eu completar a minha fala.

- Mas porque?

- Eu não tenho ânimo Gustavo, vai você. - Ela nunca tinha ânimo.

Encarei Daniella e acabei soltando um sorriso involuntário de pura descrença. Já tinha me levantado então apenas peguei a chave do carro e sei andando.

- Que isso você tá rindo? - Eu parei.

Me virei e a encarei.

- É que eu não sei porque sempre pergunto porque, você nunca está disposta. 

- Gustavo é o meu luto. - Alterou a voz.

- Um luto que já tem duração de 21 anos. - Também alterei a minha.

- Oque? - Ela deu um passo até mim. - Está me impedindo de viver o meu luto? - Eu rir incrédulo.

- Eu jamais  te impediria de viver o seu luto, eu so acho que está na hora de amenizar tudo isso, olha em volta Daniella, olha pra mim, você não percebe que eu também sofro? Que eu também preciso de você.

Agora ela sorriu com o semblante incrédulo.

- Você está me culpando?

- Não Daniella.

- Está sim. - Ela gritou - Eu perdi minha filha e se você tivesse sido mais cuidadoso, se não tivesse deixado ela sozinha naquela incubadora, ela estaria aqui conosco agora.

Então era isso, ela me culpava, ela me culpava por ter me afastado por um momento da nossa filha para atuar como médico.

Naquele momento eu senti uma coisa que jamais havia sentido, era mais que dor, era algo muito mas luto doloroso, aquilo era demais pra mim.

Ela suspirou e suavizou a expressão dura me sua face, talvez se dando conta do que tinha dito, enquanto eu so queria saber oque mais ela pensava de mim.

A Babá 3 - Novos Caminhos Donde viven las historias. Descúbrelo ahora