KAYO - QUARENTA E SEIS

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— Aron ficou perdido por alguns minutos, encarando Analiz sem reação diante da delicada situação de abrir uma queixa contra a mãe dela.

— Ana, é que...

— É que o quê? — ela o cortou, exigindo explicações.

— A Daniella...

— A Daniella o quê? — Aron parou, sentindo a pressão do momento.

Ele olhou ao redor em busca de apoio, seus olhos passaram por mim, Gustavo, Agatha, e finalmente suspirou.

— Ana, — ele começou a explicar, "é que a Daniella... ela está com a filha hospitalizada. Se você apresentar queixa agora, ela será detida por alguns dias."

Analiz encarou Aron com intensidade, intimidando-o ao ponto de fazê-lo abaixar a cabeça.

— Toda vez que ela me vê, preciso passar por essa situação. Olha para mim. Estou com o braço deslocado e levei pontos na testa por causa de uma história absurda que só ela sustenta.

Analiz respirou fundo.

— Estou cansada disso. Suportei tudo isso por causa do senhor Gustavo, mas estou cansada.

Aron cruzou os braços e respirou, abaixando a cabeça.

— Ana, — ele começou a dizer, mas foi interrompido por Analiz.

— Vou entender se você não quiser se envolver nisso. Só me indique outro policial.

— Não, Ana, é meu trabalho... — Aron suspirou sabendo que não tinha muito oque fazer — Você só precisa de pelo menos três testemunhas.

Analiz olhou para Karla.

— Nem precisa pedir, filha. Isso tem que acabar, ou eu acabo. Então vou sim depor a seu favor.

Analiz sorriu para ela e dirigiu o olhar para mim.

— Pode fazer isso? — ela me questionou, e eu sorri levemente.

— Claro. — Acariciei sua mão.

Por fim, Analiz suspirou.

— Eu preciso de um de vocês dois, — referindo-se a Agatha e Gustavo. "Eu vou entender se não quiserem, até porque..."

— Eu faço, — Agatha a interrompeu. — Eu confirmo a agressão.

— Eu também confirmo, — pronunciou Gustavo.

— Não, seu Gustavo, não precisa...

— Não, filha. Como você disse, isso tem que acabar. É melhor para todos. — Ele falou e sorriu.

Aron registrou a queixa com quatro testemunhas: eu, Karla, Agatha e Gustavo. Gustavo achou melhor não estar presente quando Daniella fosse à delegacia, e Agatha voltou aos seus afazeres. Karla saiu para fazer algo que não prestei atenção quando ela informou Ana. Agora, só estávamos eu e ela no quarto.

Sua expressão triste me incomodava.

— O que foi? — Questionei, sentando-me na cama em frente a ela.

— O quê?

— Essa carinha.

— Só tenho ela. — Deu de ombros.

— Falo da tristeza, não é difícil perceber quando você está triste.

Ela suspirou.

— Eu achei que ia me sentir melhor se eu abrisse a queixa contra a Daniella, mas me sinto péssima.

— Sério? — Fiz-me de desentendido.

— É. Não sei explicar, Kayo. Na verdade, eu sempre sinto isso, essa sensação ruim quando a gente discute ou eu faço algo contra ela.

Desviei o olhar, pois sabia o motivo de Ana ter essa sensação. Querendo ou não, o sangue chamava.

Fiquei pensando no que falar, mas não tinha nada que eu pudesse dizer sem envolver a verdade. Eu era péssimo com mentiras, não sabia consolá-la sem deixar escapar algo verdadeiro.

Então, resolvi fazer o que deveria ter feito dias atrás e não fiz.

A encarei por um longo tempo até ela perceber.

— O que foi? — Riu sem entender.

— Sabe, você tem visitado muito esse hospital aqui, — disse.

Ela fez uma careta rindo.

— Aí, é verdade. — Riu. — Não tinha pensado por esse lado.

Gargalhou suavemente.

— Mas o que tem?

— É que... queria garantir que na próxima vez que voltarmos aqui juntos, voltássemos como marido e mulher.

O sorriso dela suavizou-se. Eu sorri de canto.

Coloquei a mão no bolso e tirei de lá o porta-aliança, abrindo-o. O anel solitário com uma pedra no centro brilhava.

— Eu não sou nada bom com isso, — comecei. — Não sei falar palavras bonitas, e talvez eu esteja me precipitando também. — Ri nervoso. — Mas tenho uma única certeza, Analiz.

A olhei nos olhos.

— A única certeza que tenho é que quero você como minha esposa pelo resto da minha vida. Aceita casar comigo? — Perguntei.

A boca dela entreaberta e os olhos semi-arregalados me deixaram desconfortável. Ela nem piscava, olhava imóvel para mim.

De repente, um relapso de medo passou pelos meus olhos. Esperei, esperei, esperei mais um pouco, mas ela não disse nada.

— Por favor, fala alguma coisa, — pedi nervoso.

Ela se contorceu fazendo uma careta.

— Ah, meu Deus, Kayo. — Balbuciou. — Mas é claro que sim. — Sorriu.

Respirei aliviado.

— Por um momento, achei que você não ia aceitar.

— É que... você me pegou desprevenida. — Riu boba. — Mas sim, eu aceito sim, é óbvio que eu aceito. — Sorriu.

Eu sorri também, agradeci por sua mão direita estar livre e coloquei a aliança em seu dedo anelar.

— Podemos nos casar amanhã? — Perguntei.

Ela riu.

— Óbvio que não, né Kayo. — Riu levemente. — Mas podemos nos casar nos próximos meses se tem tanta urgência. — Sorriu.

(...)

Capítulo breve, antecipando emoções para o próximo. Fiquem atentos.

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