Encontro

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Raquel tinha os olhos fixos em sua filha, a garota brincava com a batata frita enquanto se entretia com os lanches.

— Paula, não brinque com a comida. — ela limpou a boca suja da garota com o guardanapo.

— Mãe, posso fazer uma pergunta? — a mais nova bebeu seu suco e encarou a mãe.

— Pode.

— Quando o papai vai voltar?

Aquela pergunta fez Raquel ficar sem reação. Já fazia algumas semanas que a garota não fazia aquela pergunta, ela pensava que a filha havia esquecido, mas estava enganada.

— Eu já disse que ele não é seu pai, Paula! — Raquel falou irritada e percebeu que assustou a filha. — Me desculpa. — tocou a mão da menor. — Eu não gosto que você chame ele de pai, você sabe.

— Vocês brigaram? — a mais nova olhava a mãe com curiosidade.

— Sim, filha, ele fez coisas que... Bom... — Raquel não iria contar a verdade para a filha então pensou nas palavras certas. — Ele machucou muito a mamãe e então eu decidi acabar o nosso relacionamento.

— É por isso que você chorava a noite? — Paula tocou no ponto fraco de Raquel mesmo sem saber.

— Sim, filha, era por isso também. — sorriu fraco.

— Sinto muito, mamãe. — Paula apertou a mão da mais velha. — Eu não gosto de te ver triste.

— Não se preocupe meu amor, já passou. — sorriu para a menina.

Enquanto Paula terminava seu lanche Raquel olhou para as pessoas que também estavam na lanchonete, haviam casais e muitas crianças, o clima era descontraído e a música ao fundo tornava o local agradável. Por um instante uma lembrança invadiu a mente de Raquel: a primeira vez que foi naquela lanchonete com seu primeiro namorado, Sérgio.

Pensar em Sérgio era tortuoso, suas lembranças dos momentos vividos com ele não seriam esquecidos tão facilmente, ainda mais quando ainda existia amor da parte dela. Mas agora ela sabia que não tinha mais volta, ele amava outra, e por culpa dela própria o relacionamento deles acabou.

Sem perceber um sorriso surgiu em seus lábios, por mais que fosse triste, apenas em pensar nele ela se sentia feliz.

— Mamãe! — Paula a chamou pela segunda vez.

— Desculpa, amor. — ela saiu de seu transe. — Eu estava distraída, o que foi?

— A vovó está esperando. — lembrou a garota.

— Sim sim! vamos. — Raquel recolheu alguns pertences sobre a mesa e foi até o caixa para pagar a conta. Quando estava quase na porta de saída escutou Paula pedindo para ela comprar algum doce.

— O que eu disse sobre doces? — ela se abaixou ficando na altura da garota.

— Por favor, só um! — pediu fazendo um biquinho fofo.

— Só um. — Raquel entregou o dinheiro para a filha e esperou a menina ir até o balcão.

A garota sorria alegre para a atendente enquanto escolhia entre as opções de doces e Raquel acabou sorrindo da cena, realmente ela era muito parecida consigo.

— Com licença? — Raquel escutou uma voz masculina surgir atrás dela.

Naquele momento Raquel travou por dentro. Era ele. Só podia ser, ela reconheceria aquela voz mesmo após anos. Rapidamente se virou e comprovou o que pensava: Sérgio estava na sua frente, exatamente como ela se lembrava, um pouco mais velho e agora usando óculos.

— R-raquel? — ele estava tão surpreso quando ela. — é você mesmo? — Sérgio sentiu seu coração bater mais forte ao ver a mulher, ela estava ainda mais bonita do que ele lembrava.

— Sérgio. — ela falou soltando o ar que nem notou estar prendendo. — Quanto tempo, não é mesmo?

— Fazem o quê? Uns oito anos? — sorriu fraco. — O que faz por aqui?

— Vim visitar minha mãe e aproveitar as férias. — Raquel colocou as mãos no bolso, estava tímida em estar cara a cara com Sérgio novamente.

— Mande um beijo para a Mariví. — ele abriu um sorriso maior ao lembrar da mulher.

— E você, como vai a vida?

— Vou indo. — respondeu ele olhando em seus olhos, como se pudesse ler o que se passava na mente dela.

— Prontinho mamãe! — Paula agarrou as pernas de Raquel distraída com o doce.

"Mamãe" aquela palavra deixou Sérgio surpreso. Ela agora era mãe, tinha uma família e possivelmente um novo amor. Ela seguiu mesmo em frente — pensou.

— É sua filha? — Sérgio notou a semelhança de ambas e recebeu um aceno de Raquel. — Qual o seu nome, princesa? — ele se abaixou na altura da garota.

— Paula. — ela mordeu um pedaço do cupcake que comprou e sujou a boca. — E o seu?

— Filha, olha os modos. — Raquel também se abaixou e limpou a boca da filha.

— Desculpa. — sorriu envergonhada.

— Não se preocupe lindinha, quando eu era pequeno eu também fazia isso. — a garota riu. — Me chamo Sérgio, é um prazer conhecer você.

— Igualmente. — Paula mostrou a educação que tinha.

Os três escutaram os sinos da porta tocarem, indicando que alguém havia entrado e em seguida uma voz feminina se aproximou do grupo.

— Amor? O que faz aí? — a morena tocou o ombro de Sérgio atraindo os olhares dos três.

Ambos se levantaram e encararam a mulher. Raquel notou Sérgio passar os braços na cintura da morena e sorrir para ela, aquela cena doeu mais do que Raquel imaginou, mesmo ela sabendo que Sérgio havia seguido a vida.

— Eu reencontrei a... — ele fez uma pausa e relembrou o que Raquel era. — Uma velha amiga.

— Prazer, Raquel. — ela estendeu a mão para a morena.

— Prazer é todo meu. — cumprimentou Raquel. — Me chamo Larissa.

— Bom, foi um prazer rever vocês, mas eu preciso ir. — a verdade era que Raquel queria ficar, mas vê-los juntos era difícil demais.

— Espera. — a mulher tocou o braço da loira. — Você é amiga do Sérgio, não é? O que acha de ir no nosso casamento? Os amigos dele são meus amigos também. — sorriu amigável.

— Casamento? — Raquel perguntou mais para si mesma do que a eles.

Aquela palavra a destruiu de maneira inigualável. Raquel controlou as lágrimas e sorriu para o casal a sua frente.

— Sim, vamos nos casar daqui a quatro semanas. — ela levantou a mão com a aliança.

— Quem sabe. — sorriu sem jeito. — Se eu ainda estiver por aqui. — ambos encararam Raquel. — Bom eu tenho realmente que ir, foi um prazer.

— Até a próxima, Raquel. — Sérgio a viu sair pela porta e sentiu a sensação de vazio novamente: igual da vez que ela terminou e se despediu pela sua sala.

Raquel entrou rapidamente com Paula no carro, ela sentiu o ar se esvair rapidamente e seu coração acelerar. Sem perceber as lágrimas desceram em seu rosto. Aquela cena a pegou de surpresa e acertou precisamente seu coração, mas ela entendia que aquilo era apenas consequências das suas escolhas.

Escolhas essas feitas sem pensar.

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Notas da autora:

Comentem o que acharam do primeiro capítulo!! Estou muito ansiosa para saber a opinião de vocês 💖

Vou atualizar essa fanfic sempre de três em três dias, então até o próximo 😘

Eu ainda te amoWhere stories live. Discover now