O Circo

809 87 9
                                    

Juno

Jack estava escrevendo em um caderno preto que ele tinha trago. Estava deitado na cama e me mandou sentar no tapete. Até agora ele só tinha feito algumas perguntas pra " montar minha ficha", pelo que me disse. Coisas como idade, o que gosto e coisas do gênero. Depois que parou de escrever ele se voltou pra mim

Jack: certo, já tenho o que preciso por enquanto. –  fechando o caderno. – o resto só posso descobrir na prática

Juno: agora podemos ver o karim?

Ele torceu o nariz com a minha pergunta, parecia não querer ir.

Jack: claro, trato é trato - cruzando os braços

Juno: você não disse que levariamos comida pra ele?

Jack: por enquanto só água. Se você se comportar então nós damos doce ou pizza pra ele. – assenti confirmando enquanto ele pulava da cama, quanto mais o observava mais percebia características infantís em seu comportamento, pequenas coisa. A mania de balançar os pés quando está entendiado ou feliz, fazer birra,seu egoísmo  e atitudes imaturas.

Ele se aproximou e esticou a mão pra mim como se pedisse pra apertar ela

Juno: pra que isso? – questionei segurando a mão dele. A pele  era surpreendente macia, me lembrava de tocar um bichinho de pelúcia novo.

Jack: o mestre mandou não questionar e fechar os olhos –disse com um sorriso, eu fechei os olhos. Senti vertigem por um segundo mas logo sumiu– pode abrir os olhos.

Eu obedeci e vi que estavamos no centro de um picadeiro. As arquibancadas da plateia pareciam escadas, estavam vazias e algumas quebradas. A imensa lona que devia servir de teto tinha rasgos que permitiam um  pouco de luz do sol entrar ( mesmo que timidamente).
As cores que talvez um dia tenham sido vividas pareciam desbotadas. O lugar era lúgubre, escuro e deprimente demais, assim como a maioria dos lugares abandonados. Aquele circo em especial parecia bem grande, não conseguia imaginar o motivo de ter sido abandonado.

Juno: onde estamos?

Jack: no meu circo de horrores. Siga-me! –ordenou puxando meu braço em direção as cortinas rasgadas e que um dia foram vermelhas mas agora  eram gastas o suficiente pra parecer até brancas em alguns pontos. Senti cheiro de sangue seco mas jack não parecia incomodado. Pensei que a cortina grande fosse o fim e nós  encontrariamos o karim logo ali mas os bastidores do circo tinham um tamanho desnecessáriamente grande.

Um labirinto de camarins com um corredor de espelhos iluminados,cortinas  gastas, perucas,maquiagem velha, máscaras, roupas extravagantes e muitas coisas do gênero espalhadas pelo chão.

Jack parou não muito longe da cortina que dava pro palco e a sua frente tinham varias cordas presas a sacos de areia grandes.

Jack: hmmm vamos ver... –disse desamarrando uma das cordas e isso fez com que as cortinas vermelhas se abrissem e pudessemos ver o palco– uhum...agora vamos ver...qual dessas é a dele? talvez... essa! –desamarra mais uma corda,que fez uma sacola grande manchada de vermelho cair no centro do picadeiro. O som foi perturbador– não... então esse! –dessa vez fez um barulho de algo despencando do teto mas nada caiu no chão.Jack me puxou pro palco e então eu vi três crianças amarradas uma a outra como uma corrente humana e todas sendo sustentadas por um balanço de trapézio.

A criança que servia de base pra corrente estava com os pés pendurados no balanço, tinha um corte vertical no torax. A segunda estava com a cabeça cortanda e seus braços amarrados aos da primeira. A ultima criança  estava com os braços presos as pernas da de cima e se debatia violentamente tentando se ver livre, sua boca amordaçada a impedia de gritar enquanto era banhada com os fluidos corporais das duas crianças em cima dela.

Dei alguns passos pra trás, estava horrorizada com aquela cena

Jack: oh!parece que você gostou das minhas trapezistas! – segurando meu pulso mais firme pra impedir que eu me afastasse. Quando me virei,vi que seu rosto expressava um sorriso de uma criança orgulhosa como se quisesse um elógio.

Juno: o...onde está o karim? – perguntei suando frio e com medo da resposta. Ele não pareceu notar meu nervosismo e impaciência

Jack: foi mal,juju. –encolheu os labios–  Eu não lembro direito onde o coloquei... trouxe muitas crianças pra cá. – coçou o queixo parecendo pensativo e então balançou a cabeça  – mas ele está vivo, eu garanto.

Sentir meu corpo inteiro arrepiar. E me lembrei do que kagekao me disse "você não vai querer saber".
(O que jack fez com ele? )

Juno: o que fez com ele? – bruscamente solto meu pulso de suas mãos  e recuo mais alguns passos

Jack: ah sim...se me lembrar o que fiz com ele posso lembrar onde está. Eu trouxe  ele pra cá depois... hmmm...marreta ,chicote,cordar...Ahh! Cordas!  ele está na corda bamba! – parecendo animado

Ele foi até o canto do palco e ligou um holoforte empoeirado depois apontou pra um ponto do teto a nossa direita, revelando meu irmão.

Juno: KARIM! – gritei mas não houve resposta

Karim estava pendurado pelos pulsos com correntes e seus pés tocando a corda bamba que estava a muitos metros do chão.  Parecia ter sido colocado lá pra parecer um equilibrista mas era obvio que só permanecia lá por causa das correntes.

Corri até o pé de uma das duas plataformas da corda bamba. Havia uma escada pra chegar até lá então eu comeceu a escalar ela até alcançar o topo. Dali já dava pra ver meu irmão. Cheguei na borda da plataforma e vendo a alturas em que estava, senti meus joelhos tremerem.

Jack: viu? ele ainda está vivo. – disse ele atrás de mim. Não tinha percebido se ele tinha vindo atrás de mim pela escada ou simplesmente aparecido ali.

Precisava confirmar se Jack estava mentindo pra mim. Cheguei o mais perto da beirada da plataforma pra ver o karim melhor.

As costas e a parte de trás dos braços dele mostravam muitos pequenos e grandes cortes que pareciam ter sido feitos por chicotes. As feridas ainda estavam abertas, sangrando e supurando. Em sua perna tinha um hematoma escuro, parecia ter sido acertada por algo pesado pra impedir ele de andar e possivelmente fugir. Apertando os olhos consegui ver seu peito se mexendo levemente com a respiração. Ele estava realmente  vivo porém inconsciente ou dormindo.

Juno: como vou tirar ele de lá? – questionei

Jack: "como"? Ora essa! Mas que pergunta boba. É claro que tem que ir até ele pra solta-lo.

Juno: mas ele está no meio da corda!

Jack: então eu espero que você tenha um bom equilíbrio... – seu sorriso maléfico se abriu totalmente – assim como seu irmãozinho

Doces Pesadelos - Laughing Jack Where stories live. Discover now