Parte 2 - Capítulo 8: Um Acordo

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--Que dia, hein!? Hahahaha!!!--disse Amis tragando outro frasco do remédio negro enquanto Daimon desacelerava por entre as árvores azuis com folhas amarelas

--É.--respondeu Ana o quão seca e friamente lhe era possível fazer

Não houve mais conversa naquele dia, fosse nas horas seguintes, no momento que pararam para montar o acampamento ou nos vinte minutos que passaram comendo as frutas que Amis trouxera, até que por fim:

--As estrelas estão bonitas, não é?--disse, fechando o saco de frutas e repousando o corpo contra cavalo, que já estava mais do que desmaiado

--Não me importo com as estrelas.--respondeu Ana, se deitando sobre o pano que lhe servia de cama

No dia seguinte, não houve conversa durante o café da manhã, muito menos enquanto Daimon, calmamente, percorria a Estrada dos Gigantes:

--Aqui é o caminho para Doram, já ouviu falar de...

--Não.

--Bem...eu... é um lugar....

--Não tenho interesse.

Amis suspirou, Ana, que estava se segurando em suas costas, escondeu a satisfação de irritá-lo, a qual logo devolveu o lugar para a raiva, a frustração e o tédio de ver a mesma árvore copiada e colada de novo, de novo e novamente... até que uma coisa cortou entre as árvores:

--O que é aquilo?--ela disse se apertando contra as costas do Guardião

--Hum?...--fez com que Daimon parasse, levou a mão esquerda a espada e olhou ao redor, mas além das árvores, tudo que avistou foi um passarinho negro, com peito branco e um bico laranja que mais parecia um bumerangue os observando do topo de seu ninho--...Ah! É só um tucaninho...--estalou os dedos com a mão esquerda enquanto que da direita tirou uma fruta de sua sacola--...pspspspsps!

O pássaro olhou com atenção, se levantou do ninho, pendeu o corpo para frente em expectativa, Amis, por sua vez, continuou sacudindo a fruta de um lado para o outro, forçando-o a virar sua cabeça desproporcional de acordo, até que, num movimento súbito, disparou a fruta em pleno ar. A criatura saltou, rasgou a atmosfera, agarrou a fruta com o bico e aterrissou no galho do lado oposto da estrada, de onde ficou os observando enquanto seu bico esmagava a fruta.

Ana já havia visto pássaros enjaulados fugir, voando como flechas vivas pelas ruas da cidade. Já havia visto pássaros treinados voando fazendo truques e respondendo perguntas, mas ela...

--Nunca viu nada assim, né?

--Não...--respondeu com olhos colados na ave

--Eu lembro de quando vi um pela primeira vez...--sacudiu as rédeas e Daimon se pôs a caminhar novamente--...É como se eles não devessem voar não é mesmo?

--A cabeça deles é grande demais! Como é possível!?

--Hahaha.... Eu tinha uma amiga na Universidade de Aram que estudava eles. Eram os animais favoritos dela, Alba, ela estava sempre...

--Em Aram?

--Sim, ela...

--Não estou interessada.

Amis se calou e ela saboreou o momento, mas tão logo as árvores voltaram a se mover uma pergunta lhe ocorreu: "Será que há outros?". Tomando sempre o cuidado para que Amis não percebesse, começou a olhar ao seu redor, procurando por mais tucanos. De fato, ela os encontraria, as vezes arrancando uma das frutinhas amarelas no topo das árvores, ás vezes, em pares, esfregando seus bicos e assim por diante.

Foi também assim que ela começou a prestar atenção nas árvores e notar que o tom de amarelo das folhas não era o mesmo de Hisam, nem o tom de azul ou mesmo a distância entre as árvores. Quilômetro a quilômetro, os troncos se tornavam mais escuros, as folhagens mais esverdeadas, por fim, pequenos arbustos cilíndricos começaram a brotar por entre as árvores.

O Segredo na TorreWhere stories live. Discover now