Melhor do que imaginei

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Durante o caminho, dona Ana me pediu para que lhe contasse como fui parar, ali naquela igreja onde nos conhecemos.
A conversa foi fluindo, e eu lhe contei tudo, sobre como era antes de meus pais morrerem, sobre o orfanato, sobre minha irmã, e o porque fui parar ali. Por algumas vezes deixei algumas lágrimas rolarem, e percebi que elas ficavam emocionadas também, dona Maria chegava até soluçar, e algumas vezes dizia que o mundo é muito desigual para as pessoas.
No caminho pude perceber que o senhor José era o motorista, dona Maria uma espécie de governanta, e dona Ana seria a patroa, mas se vissem os três juntos, como vi na igreja, falavam quem eram amigos de loga data, e parece que realmente era isso, a amizade entre eles era visível.
Chegamos a um condomínio fechado, e logo a uma casa enorme, quando dona Maria falou que a casa era grande, não imaginei o quanto.
Entramos na casa e dona Maria me pediu pra esperar na cozinha, que logo já iria conversar comigo. Fiquei ali na cozinha conversando com o senhor José, e pude descobrir algumas coisas, ele e dona Maria eram casados, tinham um casal de filhos, que estudavam fora do país, conheciam a dona Ana e o esposo que se chama Ricardo desde muito jovens, e quando eles abriram o escritório de advocacia, vieram trabalhar para eles. Dona Ana tinha um filho, que estudava junto com os filhos de dona Maria, e pelo que entendi, era dona Ana e seu marido que custeavam a educação dos mesmos.
Com pouco dona Maria chega e começa a me explicar como funciona a casa.

- Bom Natália, acho que você percebeu o quanto essa casa é grande,  tinhamos mais duas empregadas, elas eram irmãs, e tiveram que voltar a cidade natal, isso já faz um mês, e desde então parece que vou ficar doida. - ela riu

-Nao tenho medo de serviço não, só me dizer o que devo fazer que já começo agora.

- Vamos tomar um café, enquanto isso vou te passando o que tem para fazer, e você então pode começar.

Depois de alguns dias fora do orfanato, hoje pude tomar um café de verdade, e aquele cheirinho de café, me trouxe a lembrança da Irmã Júlia. Meus olhos ficaram marejados com a lembrança, e dona Maria percebeu, mas ficou quieta.

Ela me explicou do serviço, realmente era muita coisa, a casa é enorme. Me levantei peguei o que ia precisar, e ela me levou até o andar de cima que no qual ficavam os quartos e alguns banheiros, ela ia ficar na cozinha e começar a fazer o almoço.

No total eram 5 quartos, 3 para hóspedes, um do filho, e um do casal. Os dos hóspedes eram a mesma decoração, os 3 tinham banheiros enormes também. Por enquanto não havia sujeira, somente poeira, parece que não eram usados frequentemente.
Estava no terceiro quarto, quando Dona Maria veio me chamar para almoçar, e vi no seu rosto a feição de surpresa, os móveis estavam todos levantados, as cortinas abertas e suspensas, eu estava cantarolando uma música, e limpando os vidros. Eu sempre fazia assim no orfanato, levantava tudo, arredava todos os móveis, já limpava os vidros, e já organizava tudo no lugar novamente, assim ia liberando cômodo por cômodo. Dona Maria não falou nada, mas percebi que ela foi até os outros quartos, e ela estava certa, eu nao sabia quanto ia ganhar por aquele dia, mas ela tinha que fiscalizar mesmo, era seu trabalho fazer isso.

-Vamos menina Natália, você deve estar com fome, só está com o café até agora.

- Já estou indo dona Maria, já estou acabando esse quarto e já desço.

- Está bem, estarei na cozinha.

Terminei o quarto e desci. Senhor José estava almoçando também, dona Maria me entregou um prato para que eu possa me servir. A muito tempo nao comia uma comida tão gostosa, nem me lembro quando foi, no orfanato não nos faltavam alimentos, mas era sempre o básico. Terminei lavei meu prato, pedi licença e voltei ao andar de cima.

O quarto do filho era bem grande, o banheiro, nunca tinha visto igual, tinha banheira e tudo. Tinha algumas fotos, pelo que vi era de quando era adolescente. Tinha um closet com algumas roupas, pelo que deu pra ver parece que tinha algum tempo que nao eram mexidas. Limpei o quarto todo. Fui pro do casal, que era o quarto maior, e o que realmente tinha alguma baguncinha para arrumar, mas nada demais.

Acabando os quartos, limpei o corredor, as escadas e desci para a sala. Pude ver pelas janelas que já ia caindo a tarde, provavelmente devia ser umas 16:00, 16:30. Limpei a sala que era enorme, muitas fotos, pelas fotos pude perceber que dona Ana e o senhor Ricardo eram advogados. Tinha uma foto que estavam em frente a um prédio, e uma placa atrás,
Guimarães Advocacia, no foto eles eram mais jovens, não conhecia o senhor Ricardo, mas a feição de dona Ana era a mesma. Em um porta retrato maior, os três juntos, o casal e o filho, e não posso negar, o filho era lindo, digno de ator de novela.
Limpei todos os móveis. Já ia passando para sala de jantar, quando dona Maria me chamou.

- Menina Natália, por hoje já está bom. Você me surpreendeu positivamente. Você consegue vir amanhã para terminar?

- Claro que sim dona Maria, só me anota o endereço, pois não sei nem onde estou, se me deixarem ali na esquina me perco concerteza.

Ela riu..e logo falou que o senhor José iria me levar, e amanhã pela manhã me buscava também, pois pela manha  ele sempre ia ao centro buscar alguma coisa, então me daria carona.

Ela me entregou um envelope, falou que era pelo dia de serviço. Agradeci pela oportunidade, me despedi, pedi para agradecer também a dona Ana, pois não tinha visto ela durante o dia, dona Maria me falou que ela passava o dia na empresa junto com seu marido, e só chegavam a noitinha.

Senhor José me levou, fomos conversando sobre a cidade, ele foi me contando um pouco sobre os locais que a gente ia passando, até chegar na pensão. Combinamos o horário do outro dia e nos despedirmos.

Cheguei no quarto, em vista dos quartos da casa da dona Ana, o da pensão era do tamanho do banheiro do quarto de hóspedes, eu mesmo ri da minha comparação. Abri o envelope e tinha R$ 150,00 reais, quase cai pra trás, era muito dinheiro pra um dia de serviço. Sei que trabalhei por ele, mas mesmo assim era muito dinheiro.

Guardei o dinheiro, tomei meu banho, fiz minhas orações, agradeci pela oportunidade, e cai na cama, eu estava morta de cansaço.

Apenas uma empregadaWhere stories live. Discover now