ALÉM DAS ONDAS DO MAR

CAPÍTULO 3

Elowin:

A superfície sempre foi um mistério para mim, minha mãe nunca me deixou subir até lá, na verdade, ela nunca me deixa ir à lugar nenhum sem os tubarões soldados para me protegerem, do quê? Eu não faço idéia.
Me sento na poltrona feita de pedaços de ostras e me relaxo ali. O desespero de repente me invade, não faço idéia do que vou fazer na noite de Lua Cheia. Todas as princesas ao completarem 16 anos, tem por tradição fazerem seus votos ao povo e demonstrarem seu poder, a parte dos votos é fácil, fui criada para isso.. mas os poderes.. eu devia ter desenvolvido alguma coisa. Movimentar a água, super aquecê-la, fazer levitação ou.. qualquer coisa, mas até então eu só sei bater a minha calda enquanto me movimento pelo castelo. Sim, apenas pelo castelo. Meus pais me proíbem de sair sem um acompanhamento, graças aos céus confiam o bastante em Obliqua para permitir que me leve para "nadar por aí", mas isso não é o bastante. Eu queria poder conhecer as pessoas, apenas ficar nadando e nadando não basta. Queria ter amigos, amigos de verdade, que não sejam filhos de Reis amigos dos meus pais. Ok, eu tenho uma "amiga" mas acho que não posso chamá-la assim, Oriana é princesa do Reino Alfa, nós conversamos apenas algumas vezes que seus pais vem aqui resolver assuntos reais com os meus. Ela é exibida e não para de falar de si mesma, vive tentando me colocar para baixo e diz que nunca vou ser uma Rainha como ela. Eu já tentei me afastar, mas minha mãe diz que ela é uma menina adorável e que eu devia ser grata por pessoas influentes como ela estarem falando comigo.. as vezes eu acho que minha mãe faz isso de propósito para me punir, pelo quê, eu ainda não sei. Ela simplesmente tem um vício em punir pessoas que não lhe fizeram mal algum, tem horas que até penso que a bondade de rainha que expressa diante do Povo é uma completa farsa, mas eu não digo isso, jamais. Não se eu não quiser acabar morta ou ter meus ossos devorados por tubarões. Melhor deixar como está.
Meu Pai, o grande Rei é mais aberto comigo, ele é um pouco melhor que minha mãe, mas não muda muito. Ele é mais calado, ela é quem toma as decisões. Ele se mostra preocupado de verdade comigo, e sempre tenta me fazer sorrir, mesmo aqui no castelo. Não posso dizer que temos aquela relação de pai e filha, mas é melhor que com a minha mãe, que não consegue ficar comigo por 2 minutos sem me lançar um insulto. Tenho sérias dúvidas sobre seu amor por mim.. talvez eu tenha feito alguma coisa quando criança que tenha levado ela a agir assim, enfim, eu já nem sei mais o que pensar.

Oriana hoje está no castelo, e mais uma vez, tenho que suportar as longas horas arrastadas fingindo que amo sua companhia quando na verdade eu gostaria de estar aprisionada do que estar com ela.

- O que você vai apresentar no dia de Lua Cheia, Elowin? - pergunta intrigada.
- é segredo. - falo, espero que não tenha notado que meu coração começou a bater mais forte e que eu estou morrendo de medo de alguém descobrir que ainda não tenho dom nenhum.
- somos amigas bobinha, pode me contar o que é.
- não, já disse. É segredo. E você? O que vai apresentar? - tento direcionar a conversa para ela, isso sempre funciona. Oriana ama falar de si mesma.
- bem, eu diria que é segredo também. Mas eu não quero bancar a chata como você. -ela se levanta e nada até a porta do meu quarto.
Levanta as mãos levemente e me olha com um sorriso de orelha a orelha, já entendi, irá esfregar na minha cara seu ilustre dom. Oriana dá um giro e vem com tudo para cima de mim, me afasto rapidamente intrigada com o que ela irá fazer. A água ao nosso redor de repente começa a borbulhar muito forte, ela fecha um arco de bolhas ao nosso redor apenas com o poder das mãos e de repente tudo escurece. Suas mãos avançam para os corais ao seu lado, e cria uma espécie de.. monstro? O coral toma forma com o mover de duas mãos, olhos esbulhagados saem do ser e eu me assusto. Ela é lança uma ordem e ele vem em minha direção.
- sua vez bobinha, reaja com o seu poder e se salve.
Me desespero, eu não tenho poder algum. Se Oriana souber disso será uma vergonha eterna, e se eu não reagir ela é capaz de me matar com os corais, ou o monstro, estou confusa. Tento fugir dele, mas o bicho vem atrás de mim obedecendo aos comandos de sua dona.
- Oriana, pare. Eu não vou demonstrar nada, eu não posso, não hoje. - minha voz sai falhada, espero que não tenha dado para notar meu medo.
- e por que não? Talvez seja por que você você não tem nenhum dom? - sua voz é maléfica e zombateira. Ela da a ordem final ao coral, e ele vem e me aperta. Está sugando meu ar, eu não consigo me soltar, ai Deus, eu nunca achei que fosse morrer assim.
- O que foi Princesa Elowin, não consegue se soltar? - sua voz é impiedosa e seu olhar é de pura satisfação.
Eu não posso, não posso deixar que ela vença, não posso permitir que me tire a vida aqui, no meu quarto, no meu castelo, na minha casa. Reúno todas as forças que ainda me resta e fito meu olhar nela. Estou com tanta raiva, tanta, tanta, tanta raiva. Raiva por não ter nenhum dom, raiva por minha mãe não me amar, raiva por todos esperam que eu supere suas expectativas e por fim, raiva de Oriana, que é um bruxa em pessoa e só quer ter o prazer de me vê longe do seu caminho, mesmo que para isso tenha que me matar. Mas eu não vou deixar que ela vença, não, não, não, não.. se concentre. Você consegue Elowin, se concentre. Faça o quiser. Olho para Oriana, e de repente seu rosto é tomado de horror, ela tenta cessar as bolhas mas não consegue, não consigo olhar para nada ao nosso redor, apenas para ELA. Sim, Oriana é meu alvo. Vou arremessar sua cabeça para bem longe, vou matá-la, e ela verá quem é a forte entre nós. Sinto poder em minhas mãos, minha cauda bate com velocidade, nado até o topo do quarto e a-observo de cima. Ela está se encolhendo, por que ela está se encolhendo? Sua aparência está azul, um azul intenso, pessoas só ficam azuis assim quando sentem.. medo. Oriana está com medo de mim, mas por quê?
- Pare, pare, pare! Socorro.. - sua voz é fraca, parece que está sendo sufocada. Mas eu não entendo, eu nem toquei nela, não ordenei que ninguém tocasse. Como ela pode estar assim?
- Você venceu, tá bom? - sua voz é fina e quase desaparece - eu perdi..
Dizendo isso ela desabafa no chão frio do quarto. Eu congelo onde estou, atônita, preocupada, eu a- matei? Oh não, eu não queria ter feito isso...
De repente a porta do quarto se abre, minha mãe entra rapidamente com a Rainha Kaila ao seu lado, mãe de Oriana. As duas me olham assustadas, e logo após olham para o corpo da sereia estatelado no chão.