Memories

012

Any Gabrielly

São exatamente oito da manhã, estou revisando papéis que minha chefe não tem paciência de revisar, a mesma está em uma reunião nesse momento e vejo que Nour, que está na minha frente está entrando em parafusos com os papéis em sua mesa.

Hoje faz exatamente um mês que foi contratada, ela pega rápido as coisas só que não se acostumou com o ritmo da revista, como a moda nunca para, nós também não paramos. Nossa chefe quer sempre estar a um passo da concorrência, sempre com as informações em primeira mão e com isso temos que ralar, correndo de evento em evento, de ligação em ligação, de furo em furo.

Agradeço mentalmente por trabalhar somente pela manhã, apesar que minha chefe não se importa se eu tenho algo para fazer no meu horário de folga, ela me chama e eu tenho que fazer o que ela pedi.

Enquanto ela está na reunião, estou pensando na volta de Josh, movendo o colar de conchas na minha mão.

[...]

– Como eu sei que você ama o mar, seria legal um passeio pela praia. – Josh diz ao estacionar o carro do seu pai na vaga perto da praia.

Ela está vazia, não há quase ninguém, está bem calor e isso significa que esse lugar deveria estar lotado.

Josh enlaça nossas mãos e caminhamos até a areia, quando sinto  a areia fofa nos meus pés me sinto em casa. Eu amo o mar, assim como amo lua. A lua é responsável pelas mares, aquele som gostoso de se ouvir, as ondas colidindo com as rochas, tudo obra da lua.

– Por quê me trouxe aqui? – Questiono quando paramos a poucos metros de onde a água chega.

– Achei que gostaria de vir aqui, você adora o mar, adora o som que ele emite e achei que iria gostar.

A situação na minha casa não está boa, meus pais estão brigando quase todos os dias, tenho que ser forte para ficar do lado da minha irmã, ela tem apenas quatro anos mas entendi que a relação dos nossos pais não está nada bem.

– Obrigada, isso me ajudou muito.

Fecho meus olhos, sentindo a brisa me atingir.

Quando volto a abrir os olhos, Josh está com uma concha na mão, ela é pequena mas tem tons terrosos, nunca havia visto isto antes.

– Que linda. – Digo ao pegar a concha nas mãos.

– Ela se destacou na areia, achei diferente.

Alguns dias se passaram desde que Josh me levou a praia, isso me fez bem, precisava relaxar e esvaziar a mente.

– Hey Gaby, tenho um presente para você. – Josh grita no começo das escadas, estamos saindo da escola, isso quer dizer que quase Josh não me acha, pois estou com fome e quero chegar o mais rápido possível em casa e o ônibus já estava saindo.

O mesmo me entrega uma caixinha rosa, olho para o mesmo e ele parece nervoso.

Abro a pequena caixa e vejo a concha que Josh achou outro dia na praia. Pego a mesma e percebo que é um colar.

– Achei que você iria gostar de tê-la no pescoço. – Diz levando as mãos ao bolso envergonhado.

– Eu adorei. – Me inclino na sua direção, depositando um beijo na sua bochecha. – Obrigada.

O mesmo sorri e me direciono ao ônibus, Josh demorou um pouco para entrar mas quando entrou se sentou na minha frente, enquanto Sabina falava de um garoto que nem sei o nome eu só conseguia prestar atenção no colar. O coloco e observo o mesmo, tem duas letras na concha.

J+A.

Sorrio ao perceber que são as inicias do nossos nomes.

[...]

– Any! – Ouço Nour me chamar.

– Desculpa, estava no mundo da lua. Algum problema?

– Nossa chefe quer o aumento das vendas da revista este mês na mesa dela em meia hora. – Diz fazendo uma expressão medrosa.

– Calma, ela pedi isso todo mês, já me adiantei, mando para você, aí é só imprimir.

– Você é incrível Any. Acho que sem você eu já teria virado jantar da Yonta.

– Que isso, você vai perceber com o tempo que ela é uma boa pessoa.

– Assim espero.

A mesma se levanta da sua mesa e sai em busca de um café, fico encarando o lado de fora e só agora percebo que estou segurando o colar de conchas. Eu não o tiro por nada, é como se ele fosse meu talismã, por mais que me lembrasse Josh, eu não o tirei, uso há anos, ele já faz parte de mim.

Pego a concha na mão e procuro pelas iniciais.

J+A

Está meio apagado por se passar alguns anos mas ainda assim é visível as iniciais na pequena concha.

Como já havia dito antes, não consegui me desfazer de boa parte de tudo que Josh me deu, ainda tenho a pedra que achou em formato de coração e me deu.

Lembro com clareza, já era onze da noite, estava deitada lendo um livro que Josh havia me indicado quando ouço pedrinhas na minha janela, fui até a janela e vi Josh.

Ele perguntou se poderia subir e eu assenti. Ajudei o mesmo e assim que chegou na minha sacada, selou nossos lábios e senti entre o beijo saudade.

O mesmo me entregou a pedra e me explicou que ela estava em uma fenda na rocha, que ela se destacou, assim como a concha havia se destacado na areia e que lembrou de mim.

A guardo até hoje, ninguém sabe o significado dela e por que eu a guardo, ela fica junto das outras coisas que não consegui me desfazer. Sabina diz que guardo tralhas mas se soubesse o significado dessas tralhas entenderia meu lado.

– Any, por favor, desmarque tudo que tinha para hoje, tirarei o dia de folga e vocês também estão liberadas. – Yonta diz pegando sua bolsa que Krystian lhe alcançou e olho para Nour.

– Ok, obrigada chefe.

Faço o que ordenou o mais rápido possível.

Assim que termino, coloco meu celular na minha bolsa e quando a mesma já não está por perto, eu e Nour disputamos para ver quem chega primeiro no elevador, enquanto isso Krystian ri da nossa correria.

– Ela não é tão ruim assim, vocês que acham que ela pega pesado. – O mesmo diz ao apertar o botão do elevador.

– Sai fora Krystian, você é o braço direito da Yonta, ela confia cegamente em você e por causa disso, você tem regalias, não precisa ficar andando de um lado para o outro com papéis em mãos esperando que nossa chefe assine quando ela bem quer. – Nour diz e tenho que concordar.

– Ela mimou você Krystian, assim você acha que trabalhar para ela é fácil. – Concluo.

– Talvez, mas não se esqueçam, já livrei vocês com as minhas "Regalias". – O mesmo faz aspas com os dedos.

– Ele tem razão Any, faz pouco tempo que trabalho aqui e se não fosse por Krystian, já estaria na rua. – Nour o defendi.

– Tanto faz, querem sair para almoçar? – Questiono aos dois que assentem.

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