Capítulo 5

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Luke

Acordo mais uma vez suado, tremendo e amedrontado. É sempre assim há exatos quatro meses, desde que tudo aconteceu, desde o pior dia de minha vida. Sinto falta do tempo em que conseguia dormir igual a uma pedra, mas agora, sempre que fecho meus olhos os pesadelos vêm me atormentar. Revivo cada segundo, cada lágrima, cada momento de dor e angústia que senti naquele dia. A vida é como a letra de uma canção, enquanto você canta, você vive cada momento, você sente cada nota. Mas quando a música acaba você se sente só, se sente vazio.

Desisto de tentar dormir, pois sei que assim que fechar meus olhos os pesadelos voltarão com força total, então me levanto e vou em direção ao banheiro, mas antes de entrar no mesmo avisto um porta-retratos sobre minha escrivaninha, vou até ele e o pego em minhas mãos. E lá está ela sorrindo para a câmera, seus cabelos morenos caem em ondas sobre seus pequenos ombros, seus olhos azuis tão brilhantes, tão cheios de vida. É quase impossível não comparar com Carlos, eles são tão parecidos, tanto na aparência como no jeitinho doce que encanta tudo e todos. Às vezes me pergunto por que a vida tem que ser tão cruel. Tão dolorosa ao ponto de ser quase insuportável ver tantas famílias felizes enquanto você sente seu mundo desmoronando, e pior ainda, saber que não pode fazer nada. A trilha sonora da minha vida sempre foi leve e tranquila, mas a música sempre pode sair do tom. E pode ter certeza, depois de uma nota errada a tendência é piorar.

Coloco o porta-retratos de volta no lugar e passo minhas mãos por meu rosto, enxugando as tão familiares lágrimas. Tomo banho tentando ao máximo não relembrar de tudo o que é a causa por eu estar tão profundamente quebrado. Saio do banho, visto uma roupa qualquer e saio do quarto indo em direção à cozinha. Quando chego à mesma vejo que o café da manhã já está pronto, vou até a mesa e me sento, só então reparo em um bilhete ao lado do copo de suco, pego e o leio.

"Luke, querido. Tive que ir mais cedo para o atelier hoje, mas não se preocupe. Volto para almoçarmos juntos. Se cuida. Beijos. Te amo."

Minha tia sempre cuidando de mim. No meio de toda essa confusão em que se encontra minha vida, ela é a única que me entende, a única que sabe pelo que estou passando, a única que sente a mesma dor que eu.

Tomo o café da manhã e depois fico vendo TV. Quando o relógio marca onze horas resolvo ir comprar algumas coisas para fazer o almoço, quero retribuir um pouco o carinho que minha tia me dá. Vou até o mercado e compro bastante coisa. Quando estou voltando pra casa resolvo dar uma volta pelo parque, desde que cheguei aqui, meu passatempo tem sido vir aqui e ficar observando as pessoas andando pra lá e pra cá. Então passo pelo banco onde Julie encontrou comigo ontem. Julie. Ela tem sido uma amiga mais do que especial, nunca tinha me sentido tão vivo como me senti ontem quando estávamos no Parque de Diversões. Ela me mostrou - mesmo que por pouco tempo - que mesmo quando você não acerta o passo, tem alguém para acompanhar sua dança.

Quando já estou saindo do parque avisto uma cabeleira castanha, impossível de se confundir. Carlos. Ele está correndo atrás de um balão vermelho que insiste em fugir de suas pequenas mãos. Sorrio com a visão, ele é realmente uma criança encantadora, tão pequeno, com tanto ainda que aprender, tanto ainda o que sonhar. Fico o observando de longe, quando o balão que ele ainda anseia em pegar vai em direção à rua e ele vai atrás, inocente, sem saber dos perigos. É então que vejo um carro em alta velocidade cruzando a rua e ele está indo em sua direção.

Por um momento imagens de meu irmão veem em minha mente, seus sorrisos, o doce som de sua risada, sua voz infantil tão suave como o bater das ondas. Tudo se foi em um piscar de olhos e não pude fazer nada, mas agora é diferente. Eu estou aqui e não vou permitir que a vida seja tão dura com esses pequenos seres tão puros como os anjos.

Rock Story (Adaptação Juke)Where stories live. Discover now